BRASÍLIA (Reuters) - A situação geopolítica global moldada pela guerra na Ucrânia é uma oportunidade para a Argentina continuar a apoiar sua reivindicação de soberania sobre as Ilhas Malvinas, administradas pelos britânicos, disse uma autoridade argentina à Reuters nesta quarta-feira.
O secretário de Assuntos das Malvinas do governo argentino, Guillermo Carmona, iniciou uma turnê pelos países vizinhos nesta quarta para reforçar o apoio à reivindicação de seu país sobre as ilhas no Atlântico Sul, onde Reino Unido e Argentina travaram uma breve guerra há 40 anos.
A Argentina há muito tempo procura restaurar as negociações sobre a soberania das Malvinas, chamadas de Falklands pelos britânicos, mas o tema não está na mesa para discussão para o Reino Unido enquanto os habitantes da ilha quiserem permanecer britânicos.
"Diante dessa reticência, respondemos com persistência", disse Carmona em entrevista. "Buscamos consolidar nossa posição internacional e aproveitar o atual contexto global."
Foram raras as vezes em que o mundo falou tanto sobre a integridade territorial dos países como desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro, disse Carmona.
"Isso mostrou o duplo padrão de algumas potências ocidentais, como o Reino Unido, que aplicam um critério na Europa e outro na América do Sul", disse ele, acrescentando que o Reino Unido violou a integridade territorial argentina desde que assumiu o controle das Malvinas em 1833.
O secretário, que segue agora para o Uruguai e o Chile, disse que a Argentina conquistou o apoio do Grupo dos 77 mais a China no comitê de descolonização da ONU, onde a África do Sul se manifestou pela primeira vez na última sessão a favor do pedido argentino de um retorno às negociações.
"Nossa ofensiva diplomática visa reposicionar a questão das Malvinas como um caso de colonialismo anacrônico no século 21", disse.
O Brasil permitiu o reabastecimento de aviões da Força Aérea Britânica a caminho das Malvinas neste ano, aceitando a justificativa britânica de que são voos humanitários. Para Carmona, o apoio brasileiro à reivindicação da Argentina é tão sólido como sempre.
"A Argentina está pedindo aos países vizinhos que apliquem um critério restritivo para que os voos supostamente humanitários não reforcem a presença logística militar britânica nas Malvinas", afirmou.
(Reportagem de Anthony Boadle)