Por Nicolás Misculin e Eliana Raszewski
BUENOS AIRES (Reuters) - A oposição da Argentina está mirando eleitores como Alfredo Espinoza, siderúrgico de 55 anos dos arredores de Buenos Aires demitido neste ano, para capitalizar as dificuldades crescentes de forma a angariar apoiadores e conquistar o eleitorado decepcionado com o presidente Mauricio Macri.
Espinoza perdeu o emprego em abril e hoje mal sobrevive vendendo carne de churrasco e sanduíches de linguiça "choripán" na beira da estrada na área suburbana de José León Suárez.
Seus apuros, e os de outros atingidos por uma recessão profunda, pelo desemprego crescente e pela inflação, estão dando munição ao principal rival de Macri, Alberto Fernández, antes das eleições presidenciais de outubro.
Em 2015, Macri era o desafiador, com uma mensagem de esperança e mudança que cativou muitos argentinos cansados da economia vacilante e da corrupção depois de 12 anos de governo populista de esquerda da presidente Cristina Kirchner e de seu falecido marido e antecessor, Néstor Kirchner.
Agora Macri ocupa o cargo e tem que explicar por que a maioria de suas promessas econômicas não se materializou. O perigo que ele enfrenta é o de argentinos recém-lançados na pobreza, como Espinoza, se sentirem mais estimulados a puni-lo nas urnas, enquanto alguns de seus apoiadores de classe média desencantados ficam em casa ou invalidam o voto, disseram analistas políticos.
No domingo, os eleitores terão a primeira chance de dar seu veredicto sobre as políticas econômicas amargas que Macri diz serem necessárias para colocar a economia em uma situação mais sólida, mas que ajudaram a alimentar uma inflação em disparada, atingindo a população duramente. As eleições primárias serão um termômetro importante para mostrar como os candidatos principais estão se saindo antes da eleição geral de 27 de outubro.
Fernández só tem uma ligeira vantagem sobre Macri nas pesquisas de opinião, por isso convencer eleitores como Espinoza será crucial para ambos.
O opositor, que tenta atiçar o voto da base opositora, se apresenta como um "homem comum" que contrasta com o rico e elegante Macri. Em campanha, ele se diz um unificador com o slogan "o futuro inclui todos".
Macri disse sentir "a dor de cada pessoa que passa por uma fase difícil", "mas as coisas não são feitas da noite para o dia", disse ele recentemente em um comício em Buenos Aires.
Mas em um país que passou décadas entrando e saindo da recessão, a paciência está curta.
E não são só os mais vulneráveis que se dizem atingidos pela crise. Valeria Goldsztein, projetista gráfica de 48 anos que votou em Macri em 2015, disse que está comprando menos roupas novas porque a inflação reduziu sua renda, voltando-se a brechós e fóruns na internet para trocar e vender peças velhas de sua filha de 11 anos.
(Reportagem adicional de Dave Sherwood em Santiago e Cassandra Garrison em Buenos Aires)