Por Doina Chiacu e Lisa Lambert
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cedeu às pressões e anunciou o adiamento de um comício eleitoral marcado para Tulsa, em Oklahoma, previsto para o dia em que se comemora o fim da escravidão nos EUA.
A decisão de Trump de realizar seu primeiro comício de campanha em meses no dia 19 de junho, em uma cidade famosa pelo massacre de 1921 contra os cidadãos negros, gerou fortes críticas, especialmente depois de protestos nacionais contra desigualdade racial e brutalidade da polícia contra negros.
“Muitos dos meus amigos e apoiadores negros me procuraram para sugerir que consideremos mudar a data em respeito ao feriado”, escreveu Trump, no Twitter, no fim da sexta-feira. “Portanto, decidi mudar nosso comício para sábado, 20 de junho, para honrar os seus pedidos”.
O dia 19 de junho, conhecido como Dia da Liberdade da Comunidade Negra, comemora a data de 1865 quando o Texas foi forçado a cumprir a Proclamação da Emancipação do presidente Abraham Lincoln, declarando que todas as pessoas escravizadas fossem livres -- o último dos Estados confederados pró-escravidão a fazê-lo.
Líderes da comunidade negra criticaram a decisão de Trump de retomar sua campanha depois do isolamento contra o coronavírus em Tulsa, que em 1921 teve um dos maiores surtos de violência racial do país, quando multidões de pessoas brancas entraram em uma onda de violência, massacrando moradores negros e destruindo suas casas e negócios.
“Não é apenas um aceno a supremacistas brancos -- ele está organizando uma festa de boas-vindas para eles”, disse a senadora Kamala Harris, forte candidata a ser a vice-presidente da chapa do democrata Joe Biden na eleição presidencial, no Twitter, na quinta-feira.
O parlamentar Al Green, membro da congregação negra do Congresso, denunciou a medida como “aberto racismo do principal gabinete da nação”.
Katrina Pierson, conselheira sênior da campanha de Trump, disse naquele momento que os republicanos, partido de Lincoln e também de Trump, orgulhavam-se da história do feriado, e que Trump tinha um “retrospecto de sucesso” com a comunidade negra.
Trump, em busca da reeleição em 3 de novembro, venceu a disputa em Oklahoma por mais de 36 pontos em 2016.
Falando sobre seu comício, Trump afirmou à Fox News, em entrevista gravada na quinta-feira e transmitida na sexta: “Pense nele como uma comemoração”.
Trump, que suspendeu seus comícios políticos em março por causa da pandemia, havia negado que marcou deliberadamente o evento naquela data.
O comício será realizado em meio a protestos ao redor dos Estados Unidos motivados pela morte de George Floyd, homem negro de 46 anos morto sob custódia da polícia em Mineápolis, em 25 de maio, depois que um policial branco ajoelhou-se em seu pescoço durante quase nove minutos. O policial foi demitido e denunciado por homicídio em segundo grau.
A entrevistadora da Fox News Harris Faulkner, negra, disse que não tinha certeza se Trump estava ciente da história dolorosa de Tulsa para a comunidade negra porque suas perguntas na entrevista focaram na data do comício.
Trump, que nesta semana rejeitou apelos para renomear bases militares batizadas em homenagem a figuras militares dos confederados, disse na entrevista que o que Lincoln havia feito era “questionável”, mas foi cortado antes de expandir sua opinião.
“Eu acho que fiz mais pela comunidade negra do que qualquer outro presidente. E vamos deixar para lá em relação a Abraham Lincoln porque ele fez bem, embora fosse questionável. Sabe, em outras palavras, o resultado final”, disse Trump, sem explicar.
Faulkner, então, falou sobre ele: “Mas somos livres, senhor presidente. Ele fez muito bem”.
“Somos livres. Você sabe o que quero dizer. Vamos deixar para lá sobre Abe -- Abe Honesto, como o chamamos”, respondeu Trump.
O presidente afirmou durante os protestos de Floyd, em que houve saques em algumas cidades, que “quando os saques começarem, os tiros começarão”. Trump disse à Fox News que não sabia que a origem de sua frase era um segregacionista branco que foi prefeito de Miami na década de 1960.
Democratas e outros críticos acusaram Trump de alimentar as divisões raciais.
(Reportagem adicional de Rich Mckay e Andrew Hay)
((Tradução Redação Rio de Janeiro; 55 21 2223-7128))
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