ISTAMBUL (Reuters) - O ministro das Relações Exteriores da Turquia acusou os Estados Unidos, nesta sexta-feira, de fazerem declarações conflitantes sobre a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG, na sigla em curdo), um sinal das divisões crescentes entre os membros da Otan sobre as políticas para a Síria.
O ministro Mevlut Cavusoglu disse que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, lhe afirmou que os insurgentes curdos não são confiáveis, o que Cavusoglu vê como um desvio da posição oficial de Washington.
O apoio norte-americano ao YPG no combate ao Estado Islâmico na Síria enfureceu Ancara, que teme que avanços da milícia curda no norte sírio insuflem o separatismo em sua própria minoria curda. A Turquia diz que o YPG foi responsável por um atentado com carro-bomba em Ancara esta semana que matou 28 pessoas.
"Recorrer a grupos terroristas como o YPG na luta contra o Daesh (termo árabe para o Estado Islâmico) na Síria é acima de tudo um sinal de fraqueza", disse Cavusoglu. "Todos precisam pôr fim a este erro. Em especial os Estados Unidos, nosso aliado, precisam pôr fim a este erro imediatamente".
Ele falava em uma coletiva de imprensa em Tbilisi, capital da Geórgia, e seus comentários foram transmitidos ao vivo pela rede de televisão estatal turca TRT Haber.
"Meu amigo Kerry disse que o YPG não é confiável", disse o chanceler. "Quando você olha algumas das declarações vindas da América, declarações conflitantes e confusas ainda estão chegando... ficamos contentes de ouvir de John Kerry ontem que sua opinião sobre o YPG mudou parcialmente".
Os Estados Unidos disseram não considerar o YPG um grupo terrorista. Na quinta-feira, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano disse que Washington não está em posição de confirmar nem negar a acusação turca de que a milícia curda está por trás do atentado em Ancara.
Ele também pediu à Turquia que encerre seus bombardeios, iniciados recentemente, contra o YPG. O braço político da milícia negou que o grupo seja responsável pelo ataque e disse que a Turquia o utiliza para justificar uma escalada nos combates no norte da Síria.
Até agora, as autoridades detiveram 17 pessoas ligadas ao atentado, e há indícios de que elas têm relação com o ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), relatou a agência estatal de notícias Anadolu, citando fontes da procuradoria-geral de Ancara.
(Por Daren Butler)