Por Vitalii Hnidyi e Thomas Peter
PERTO DE KUPIANSK, Ucrânia (Reuters) - Fileiras de barricadas de concreto branco e rolos de arame farpado se estendem por um campo aberto por mais de um quilômetro. Trincheiras com alojamentos rudimentares estão sendo cavadas. A artilharia ressoa não muito longe.
As novas linhas defensivas visitadas pela Reuters perto da cidade de Kupiansk, no nordeste do país, em 28 de dezembro, mostram como a Ucrânia intensificou a construção de fortificações nos últimos meses, à medida que muda suas operações militares contra a Rússia para uma base mais defensiva.
As defesas, que apresentam algumas semelhanças com aquelas implantadas no sul e no leste ocupados pela Rússia, têm como objetivo ajudar a Ucrânia a resistir aos ataques e, ao mesmo tempo, regenerar suas forças enquanto Moscou toma a iniciativa no campo de batalha, segundo analistas militares.
"Quando as tropas estiverem se movendo, atravessando campos, é possível dispensar as fortificações. Mas quando as tropas param, é preciso cavar o solo imediatamente", disse à Reuters um engenheiro do Exército ucraniano com o codinome Lynx, perto de Kupiansk.
O presidente Volodymyr Zelenskiy anunciou que a Ucrânia estava "aprimorando significativamente" as fortificações em 28 de novembro, depois que uma contraofensiva lançada em junho não conseguiu romper rapidamente as linhas russas.
Kiev afirma que sua ambição de retomar todo o território ocupado é inabalável, mas, por enquanto, está concentrada em reformas de recrutamento politicamente sensíveis para reabastecer a mão de obra e resolver a escassez de artilharia no front.
A Rússia tem aumentado a pressão ofensiva em torno das cidades do leste, como Kupiansk, Lyman e Avdiivka, e não precisa mais conter suas tropas de reserva por medo de um possível avanço ucraniano, disseram os analistas militares.
Zelenskiy disse que as construções defensivas da Ucrânia precisam ser reforçadas e o trabalho nelas deve ser acelerado em torno das três cidades, nas partes orientais da região de Donetsk e nas regiões de Kharkiv, Sumy, Chernihiv, Kiev, Rivne e Volyn.
Essas regiões se estendem desde o leste da Ucrânia, ao longo da fronteira com a Rússia e Belarus, até seu aliado ocidental, a Polônia. Zelenskiy afirmou que a região de Kherson, no sul, uma faixa da qual ainda está ocupada, também seria reforçada.
POSTURA DEFENSIVA
Não há dados disponíveis publicamente sobre a intensidade ou a escala da construção de fortificação.
A Ucrânia tem linhas defensivas em algumas áreas da região de Donbas desde 2014, quando a Rússia apoiou os militantes que tomaram o território. A Ucrânia tem sido fortemente protegida em locais como Avdiivka durante a invasão em grande escala.
Fortificações reforçadas reduziriam a velocidade das tropas russas e atrairiam menos forças ucranianas para a defesa, liberando-as do front para que pudessem, por exemplo, receber mais treinamento, disse Jack Watling, pesquisador sênior de guerra terrestre do Royal United Services Institute.
"Os ucranianos estão agora adotando uma postura defensiva porque sua ofensiva culminou", afirmou ele em uma entrevista por telefone, acrescentando que a Rússia retomou a iniciativa no campo de batalha e pôde escolher onde atacar.
Com o declínio dos estoques de munição de artilharia ucraniana, a taxa de baixas russas estava caindo, tornando mais fácil para Moscou gerar novas unidades, o que, com o tempo, poderia permitir a abertura de novas linhas de ataque, acrescentou.