Por Alastair Macdonald
BRUXELAS (Reuters) - A União Europeia saudou a decisão britânica de convocar uma eleição geral antecipada, que um de seus líderes comparou com uma reviravolta digna de Hitchcock, mas em Bruxelas se falou muito pouco da votação que freia a saída do Reino Unido do bloco, o processo conhecido como Brexit.
Ao invés disso, autoridades da UE ecoaram as esperanças da primeira-ministra britânica, Theresa May, de que uma eleição em 8 de junho possa fortalecer sua posição nas negociações do Brexit, que devem ter início aproximadamente na mesma época.
"Temos alguma esperança de que isso leve a um líder forte em Londres que possa negociar conosco com forte apoio do eleitorado", disse uma autoridade do bloco depois do anúncio surpreendente desta terça-feira.
Os negociadores da UE receiam que a divisão entre os eleitores --e dentro do próprio partido de May-- sobre o Brexit possa dificultar o ajuste dos termos antes de março de 2019 para garantir uma retirada britânica ordeira. Um fracasso nas conversas criaria o risco de o Reino Unido simplesmente ser retirado do bloco quando o prazo vencer, deixando um caos legal em seu rastro.
Depois que seu antecessor perdeu um referendo que pretendia manter a segunda maior economia da Europa na UE por uma pequena margem, Bruxelas chegou a alimentar a esperança de que o Reino Unido poderia mudar de ideia com a conservadora May, que havia optado pela permanência de seu país na união.
Mas sua decisão de sair do mercado comum do bloco, confirmada quando ela iniciou a contagem regressiva de dois anos do Brexit no mês passado, viu esse desejo dar lugar a uma determinação para cerrar as fileiras do bloco e endurecer com Londres para desestimular imitadores.
Poucos apreciariam o tumulto que uma meia-volta britânica provocaria agora.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, conversou com May e citou a receita do diretor britânico Alfred Hitchcock para um bom filme ao comparar sua medida dramática a um enredo de suspense: "Foi Hitchcock quem dirigiu o Brexit: primeiro um terremoto, e aí a tensão cresce", tuitou o ex-premiê polonês.
Mas seu porta-voz disse que a UE irá ser ater aos seus próprios planos, o que significa que as negociações devem ter início em junho, depois que Tusk presidir uma cúpula com os 27 outros líderes nacionais do bloco em 29 de abril. "As eleições no Reino Unido não mudam nossos planos para a UE27", explicou.
Pesquisas de opinião mostram que May deve obter uma maioria facilmente.
"As esperanças de uma retirada do Brexit são completamente infundadas", disse Norbert Roettgen, destacado aliado parlamentar da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, à mídia de seu país.
(Reportagem adicional de Andrea Shalal em Berlim e Francesco Guarascio, Tom Koerkemeier, Robin Emmott and Farah Salhi em Bruxelas)