Por Ingrid Melander
PARIS (Reuters) - Passado um ano, uma França ansiosa e fragmentada presta tributo às vitimas do massacre na revista Charlie Hebdo, enquanto antigas divisões internas se mostram agravadas pelo que o presidente François Hollande classificou como "um ano terrível".
Após ataques de militantes islâmicos terem matado 17 pessoas entre 7 e 9 de janeiro do ano passado no semanário satírico e em um mercado judaico, os franceses realizaram manifestações, saíram em passeata e acenderam velas em grandes comoções públicas em prol do "espírito de 11 de janeiro", dia em que 4 milhões de pessoas se reuniram nas ruas do país.
Mas cisões nessa união logo surgiram e, um ano depois, após ataques ainda mais violentos em Paris realizados por outro grupo de militantes que moravam no próprio país, em novembro, políticos têm se envolvido em debates amargos sobre segurança interna, e a Frente Nacional, contrária aos imigrantes, mostra-se mais forte do que nunca.
O slogan "Je suis Charlie", um grito desafiador de solidariedade que apareceu em toda parte logo após o ataque ao semanário, é agora pouco observado.
"Eventos tais como os ataques de janeiro e novembro provocam momentos de união, em reação. Mas isso não é o bastante para desfazer divisões profundas", disse Brice Teinturier, diretor do instituto de pesquisa Ipsos na França.
"As divisões são enormes. Existem muitas Franças, e elas estão em confronto", disse, descrevendo uma França de grandes cidades progressistas, uma França antiquada que se sente oprimida pela globalização e outra França que abriga comunidades que se sentem esquecidas.
As eleições regionais realizadas no mês passado ressaltaram tais divisões.
No primeiro turno, a Frente Nacional ficou em primeiro, indo bem em áreas rurais e pequenas cidades francesas. No segundo turno, no entanto, os eleitores das grandes cidade ajudaram a manter a Frente fora do poder, expondo mais uma profunda cisão, dessa vez entre aqueles se voltam para a extrema-direita em busca de esperança e aqueles que a rejeitam.