Por Tom Perry
BEIRUTE (Reuters) - O xeque Youssef al-Qaradawi, um guia espiritual da Irmandade Muçulmana que foi referência das revoltas da Primavera Árabe de 2011 e desestabilizou governantes no Egito e no Golfo Árabe com sua pregação islâmica, morreu nesta segunda-feira aos 96 anos.
Nascido no Egito, Qaradawi passou grande parte de sua vida no Catar, onde se tornou um dos clérigos muçulmanos sunitas mais reconhecidos e influentes do mundo árabe, graças a aparições regulares na rede Al Jazeera do Catar.
Qaradawi, que estudou na Universidade Al-Azhar do Cairo, era frequentemente descrito pelos apoiadores como um moderado que oferecia um contrapeso às ideologias radicais defendidas pela Al-Qaeda. Ele condenou veementemente os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e apoiou o sistema democrático.
Mas ele também apoiou a violência nas causas que defendia.
No Iraque, após uma invasão liderada pelos EUA em 2003, ele apoiou ataques às forças da coalizão norte-americana e defendeu os atentados suicidas palestinos contra alvos israelenses durante uma revolta que começou em 2000.
Durante as revoltas da Primavera Árabe, ele pediu que o líder líbio Muammar Gaddafi fosse morto e declarou jihad contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Qaradawi ingressou na Irmandade Muçulmana ainda jovem. Defendendo o Islã como um programa político, a Irmandade tem sido vista como uma ameaça por líderes árabes autocráticos desde que foi fundada em 1928 no Egito por Hassan al-Banna, que Qaradawi conhecia.
Ele recusou a chance de liderar a organização, concentrando-se na pregação, no conhecimento islâmico e na construção de seguidores que se estendiam muito além do grupo.
Sua proeminência cresceu após as revoltas árabes de 2011.
Qaradawi também se opôs ao grupo radical Estado Islâmico, dizendo que discordava totalmente do Daesh "em ideologia e meios".
No entanto, ele rejeitou o papel dos EUA na luta contra o grupo como interesse próprio. Os críticos observaram como essa posição parecia contrastar com seu apoio tácito a uma ação norte-americana na Síria em 2013, quando Washington considerou, mas nunca realizou, ataques ao governo sírio pelo uso de armas químicas.
Ele apoiou firmemente a luta palestina com Israel.