Por Rod Nickel e Natalie Grover
(Reuters) - Empresas e cientistas correm na busca pela vacina contra o Zika, enquanto crescem as preocupações com o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti que tem sido ligado a má formações de nascimento e se espalhado rapidamente nas Américas.
O vírus está agora presente em 23 países e territórios das Américas. O Brasil é o país mais afetado e já registrou cerca de 3.700 casos de microcefalia, grave doença em bebês recém-nascidos que, segundo forte suspeita, tem relação com o Zika.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), com base em Genebra, criticada por ter reagido muito devagar na epidemia de Ebola no oeste da África, está organizando uma reunião de emergência para a segunda-feira para ajudar a determinar a sua resposta ao alastramento do vírus.
O Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos ativou uma unidade de operações de emergência, contando com funcionários durante as 24 horas, para lidar com o Zika, disseram representantes da agência à Reuters.
Na quinta-feira, a OMS previu que até quatro milhões de pessoas nas Américas poderiam ser infectadas com o Zika, tornando ainda mais urgente os esforços de pesquisa já em andamento. Os desenvolvedores de vacinas deixaram claro que um medicamento para uso público ainda vai demorar meses, talvez anos.
A melhor perspectiva talvez seja a de um consórcio que inclui a Inovio Pharmaceuticals, que poderia ter uma vacina pronta para uso emergencial antes do fim do ano, de acordo com um dos seus desenvolvedores. As ações da Inovio subiram até 13 por cento nesta sexta.
O cientista canadense Gary Kobinger disse à Reuters na quinta-feira que o primeiro estágio de testes em humanos poderia começar já em agosto. Se tiver sucesso, a vacina poderia ser usada durante uma emergência de saúde pública até outubro ou novembro, afirmou ele, que ajudou a desenvolver uma vacina teste para o Ebola.
A desenvolvedora privada Hawaii Biotech declarou ter iniciado um programa formal para testar uma vacina contra o Zika no ano passado, quando o vírus começou a ganhar força no Brasil, mas não tem ainda um cronograma para testes clínicos.
"Neste momento, estamos no estágio pré-clínico, como todo mundo está, eu acho", afirmou à Reuters Elliot Parks, chefe-executivo.
Um outro desenvolvedor privado, a Replikins, de Boston, nos EUA, disse que se preparava para começar os estudos em animais de uma vacina nos próximos dez dias. Informações sobre testes em ratos e coelhos podem estar disponíveis nos próximos meses, declarou o presidente da empresa, Samuel Bogoch, à Reuters.
"Ninguém tem 500 milhões de dólares na mão para levar (uma vacina) por todo o caminho até testes com humanos. Em algum momento, esperamos ter grandes financiadores conosco", declarou ele.
O vírus Zika era encarado como causador de uma doença relativamente leve até as autoridades de saúde brasileiras o identificarem como um motivo de preocupação para gestantes. Ao mesmo tempo que uma relação de causa direta ainda não foi estabelecida, cientistas têm fortes suspeitas de uma ligação entre a doença e milhares de crianças nascidas no Brasil com cabeças menores do que o normal, danos cerebrais e visão prejudicada.
Não há tratamento para a infecção. Cerca de 80 por cento dos que contraem o vírus não apresentam sintomas, tornando difícil para as gestantes saberem se têm a doença ou não.