Por Krisztina Than e Karin Strohecker
HEGYESHALOM, Hungria/VIENA (Reuters) - Áustria e Alemanha abriram suas fronteiras para milhares de imigrantes exaustos neste sábado, levados de ônibus até a fronteira húngara por um governo de direita que havia tentado impedi-los, mas que cedeu diante do grande número de pessoas chegando sem parar à Europa.
Obrigados a caminhar os últimos metros até a Áustria, imigrantes ensopados de chuva, muitos refugiados da guerra civil síria, foram transportados com rapidez de trem e ônibus para Viena, onde muitos disseram que estavam decididos a continuar a viagem até a Alemanha.
A polícia alemã afirmou mais tarde que os primeiros 450 de um total de até 10 mil migrantes esperados neste sábado chegaram num trem especial em Munique, vindos da Áustria. A polícia austríaca declarou que muitos milhares passariam no decorrer do dia, na pior crise de refugiados no continente desde as guerras da ex-Iugoslávia nos anos 1990.
"Foi uma situação simplesmente horrível na Hungria", disse Omar, chegando a Viena com sua família e centenas de outros imigrantes, que tomaram uma plataforma delimitada por uma cerca e receberam comida, bebida e outros suprimentos.
Em Budapeste, que não tinha praticamente mais imigrantes no fim da sexta-feira, a principal estação de trem estava de novo se enchendo de pessoas recém-chegadas, mas trens para o oeste da Europa permaneciam cancelados. Centenas partiram então a pé, dizendo que caminhariam até a fronteira austríaca, como outros haviam tentado na sexta.
Depois de dias de confrontos e caos, o governo húngaro destinou mais de cem ônibus durante a noite para levar milhares de imigrantes para a fronteira com a Áustria. Os austríacos afirmaram ter acordado com a Alemanha que permitiriam o acesso dos imigrantes, ignorando as regras de asilo que requerem o registro das pessoas no primeiro país da União Europeia em que chegam.
Enrolados em colchas e sacos de dormir para se proteger da chuva, longas filas de imigrantes cansados, muitos levando crianças pequenas e sonolentas, desembarcaram dos ônibus no lado húngaro da fronteira e caminharam até a Áustria, recebendo frutas e água de socorristas. Austríacos exibiam cartazes com a mensagem: "Bem-vindos refugiados".
"Estamos felizes. Vamos para a Alemanha", disse um sírio que se identificou como Mohammed. Outro, que não quis dar o nome, afirmou: "A Hungria deveria ser expulsa da União Europeia. Que tratamento ruim".
A Hungria, principal ponto de entrada na zona Schengen, a região sem controle de fronteiras entre países da União Europeia, para migrantes que seguem rumo ao norte pelos Bálcãs, adotou uma linha dura, prometendo fechar a fronteira em dias.
Autoridades húngaras têm visto a crise como uma defesa da prosperidade, identidade e "valores cristãos" da Europa contra a chegada de imigrantes principalmente muçulmanos.
As pressões por ações efetivas se intensificaram bastante nesta semana depois que as fotos do corpo de um menino sírio de 3 anos numa praia da Turquia rodou o mundo, personalizando a tragédia coletiva dos refugiados. Aylan Kurdi se afogou junto com a mãe e o irmão quando a família tentava cruzar de bote para uma ilha grega.
(Reportagem adicional de Sandor Peto e Balazs Koranyi, em Budapeste; Shadia Nasralla, em Alpbach, Áustria; Michael Shields, em Zurique; e Thomas Seythal, em Berlim)