SÃO PAULO (Reuters) - Uma pessoa real, o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã (MS), inspirou o diretor de “Em Nome da Lei”, Sergio Rezende, para criar seu protagonista, interpretado por Mateus Solano. Ferrenho no combate ao tráfico de drogas na região de fronteira do Brasil e do Paraguai, o magistrado já recebeu diversas ameaças de morte, vivendo há anos sob escolta 24 horas da Polícia Federal.
Na história, o novato juiz Vitor (Solano), acaba de ser designado para uma cidade fronteiriça, onde o traficante Gomez (Chico Diaz) comanda a região, como um “pai de todos”, fomentando a corrupção latente, desde a polícia local até os mais simples moradores, que revendem produtos contrabandeados.
Contudo, com a vaidade, coragem e petulância inerentes de sua juventude, o magistrado logo se lança no combate ao criminoso. Suas ações acabam atravessando as investigações e a relação da promotora Alice (Paolla Oliveira) e do agente da Polícia Federal, Elton (Eduardo Galvão).
Explorando a fronteira física como metáfora do limite moral de cada um, Rezende tem como maior inspiração o faroeste --declaradamente, “O Homem que Matou o Facínora” (1962) de John Ford-- do que o thriller, gênero em que a história se sustenta, por mais que aparente ser um filme de ação.
Sempre preocupado com a linha tênue entre a justiça e a lei, vide seu último longa, “Salve Geral” (2009), sobre os ataques do PCC em São Paulo, em 2006, o cineasta afirmou, durante a coletiva da produção, não bancar o juiz moral de seus personagens e reclamou do fato de se aterem muito à superfície de seus trabalhos.
Realmente, o diretor evidencia tanto as preocupações familiares do criminoso quanto as falhas do senhor da lei, tentando não execrar ou endeusar nenhum dos dois.
Aqui, vale um parêntesis para Chico Diaz, que preparou a voz e colocou pesos em caneleiras para tornar mais imponente sua passada e compensar seu porte físico não muito típico desse gângster latino. Em um elenco que alterna bons e maus momentos, ele se destaca junto com Silvio Guindane, na pele de um piloto de avião sonhador.
O problema é que as discussões suscitadas pelos dilemas dos personagens surgiriam mais fundamentados e prontamente se, além de uma melhor construção, suas ações não fossem conduzidas por clichês facilitadores. Exemplo disso são os vários romances, como o do juiz e da promotora, utilizados pelo roteiro do próprio Sergio com Rafael Dragaud para simplificarem relações e justificarem motivações.
Em outro caso, o oficial de justiça Zezé (Gustavo Nader), alívio cômico durante toda a trama, surpreende ao tomar certa decisão no clímax, que parece algo para chocar o espectador, mas o resultado, provavelmente não planejado, é o riso.
Por essas razões, é de se imaginar se tal história, no formato de série talvez, não permitiria um maior desenvolvimento de tantos personagens secundários com potencial e da dubiedade dos protagonistas, além de acompanhar a investigação de um modo que gerasse mais envolvimento e tensão.
A fotografia “clean” de Nonato Estrela, mesmo gravada em locações reais em Dourados, pode ter contribuído para uma certa sensação de minissérie televisiva. Fato é que Rezende e a produtora Mariza Leão não descartaram a possibilidade de uma versão para a TV. (Nayara Reynaud, do Cineweb)
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