Emprestador de última instância
Um comentarista de mercado americano, figurinha carimbada da CNBC, começou esta semana com um tom bearish (pessimista), apontando para “resultados corporativos abaixo do esperado, aumento de posições vendidas em bolsa e comportamento errático do trading na última sexta-feira”. “Hora de vender ações”.
Nesta quarta, apenas dois dias depois, destacou que ações estão “universalmente em alta” mundo afora, na esteira da liquidez propiciada pelos bancos centrais, o que estaria se sobrepondo a todos os demais argumentos fundamentais e técnicos. “Hora de comprar ações”.
Em caso de dúvidas, põe na conta dos bancos centrais. Dentre os papéis típicos dessas instituições está o de emprestador de última instância: espera-se que o banco dos bancos seja provedor de liquidez para as demais instituições quando estas, por qualquer motivo, se vêem sem ter a quem recorrer para manter o caixa em nível adequado.
Eis que, nos tempos atuais, a liquidez provida pelos bancos centrais não só não mitiga os riscos do sistema, como ainda os alimenta.
Só para garantir
— Rompeu os 60 mil. O que a gente diz agora?
— Ah, põe mais 10 por cento e diz que vai a 66. Põe na conta do fluxo gringo. — e completa, em tom proverbial: “contra fluxo, não há argumentos”.
O sujeito sabe que 10 por cento, para bolsa, é margem de erro. Se bater os 66, ele dirá que vai a 70. Se não, dirá que volta aos 60. Esta é a sua “previsão”.
Aqueles que se propõem a prever um movimento de 6 mil pontos do Ibovespa são os mesmos que, no caminho para casa, passam a 30 por hora por um radar cujo limite é 60 — “só para garantir”.
Para onde correr?
Estamos numa encruzilhada: o mercado segue empurrando valuations para cima, ao passo que os sinais de melhora da atividade econômica são praticamente inexistentes — pelo menos por enquanto.
Um pouco de cautela não faz mal. Vale (SA:VALE5) olhar com atenção para o tamanho da exposição à bolsa, e principalmente certificar-se de estar com as melhores ações.
E não descuidar do fato de que há dinheiro em cima da mesa na renda fixa — hoje é dia de Copom: seja 0,25 ou 0,50, quem se posicionar corretamente vai se beneficiar.
Jogo combinado?
O PIB chinês veio rigorosamente em linha com as projeções. De novo.
Incômodo constatar que, ao contrário do que se via no passado, o crescimento chinês praticamente não flutua mesmo em comparações trimestrais.
É preciso ter muita fé no planejamento estatal para não desconfiar da consistência da estatística.
E caso chegue o dia em que se conclua que os dados chineses são fraudados, olharemos para trás e diremos “nossa, mas era tão óbvio!”
Lembrando que o crescimento da China é visto como “the only game in town” há um bom tempo.
E se o único jogo da cidade tiver resultado combinado, como fica?
Brasil, pátria educadora
Vivi para ver o PT obstruir uma votação para liberar recursos para o FIES. A estrela voltou à sua vocação de ser do contra.
O que importa é que não foi o bastante, e a iniciativa há de resolver um problemão das empresas de educação — para quem a exposição ao programa se converteu em fardo.
O FIES foi protagonista em transformar o setor de educação em um dos queridinhos da bolsa em um passado recente. Assim como o fez, desfez. A normalização do financiamento é boa notícia: quando for sucedida por uma melhora concreta da atividade econômica — queda do desemprego e, por consequência, cenário mais favorável ao crescimento da base de alunos —, o setor pode voltar a brilhar.