O “terrorista” da vez
O Banco Central reconheceu a deterioração das condições econômicas e a necessidade de trabalhar com um cenário mais realista.
Desta vez, alinhou-se às expectativas do mercado com maior velocidade, três meses após traçar suas projeções anteriores.
O novo cenário do Banco Central para a economia brasileira em 2015:
PIB: passou de +0,8% para -0,5% Inflação: de +6,5% (teto da meta) para +7,9%
Lembrando que a divulgação oficial relativa ao PIB do ano passado é amanhã, com projeção de retração de -0,1% na atividade...
2/10?
Confirmado esse cenário, será a primeira vez desde a estabilização da economia em que registramos dois anos seguidos de recessão.
Nem mesmo na crise de 2008 (com impacto em 2009), ou no início da década de 1990, pré plano real e pré abertura econômica, registramos tal feito.
Pior, com inflação batendo em 8%, e contando.
Crise?
Talvez não lá em Goiânia.
O grande problema
A enrascada desta vez é tão grande que desafia a ordem natural das coisas.
Observe no gráfico que períodos de recessão econômica são habitualmente seguidos por períodos de crescimento expressivos.
Há motivos para tal...
Além da base de comparação fraca do ano anterior, sobretudo, pelo fato de a economia ser cíclica.
Grosso modo, quando tudo está para baixo, vislumbram-se oportunidades. Ou, como na relação oferta/demanda, quando cai muito a procura por determinado produto, cai o seu preço, tornando-o mais atrativo, ao menos até as coisas encontrarem um novo equilíbrio (readequarem as condições de oferta).
No caso da crise de 2009, com sobressalto em 2010, o marasmo foi combatido com medidas expansionistas. Ou, gasto para estimular consumo e investimentos de forma a recuperar a dinâmica econômica.
Mas, e agora, como ter uma recuperação cíclica com 5% de taxa de desemprego (sem aumentar a produtividade) e sem poder gastar ou cortar juros?
O Dil(e)ma do equilíbrio brasileiro
Assim como para qualquer outro produto, uma maior demanda agregada precisa ser acompanhada por uma maior oferta.
Do contrário, se a oferta agregada fica estagnada e o Governo continua estimulando a demanda através de maior gasto público e mais crédito, temos apenas duas consequências esperadas: mais inflação e mais déficit em conta corrente (por conta do incremento das importações para suprir a procura doméstica).
Se você aumenta o salário em 10% e a produtividade também sobe 10%, há um aumento do custo para o empresário, compensado pela entrega de mais produto. O custo unitário por trabalhador se mantém constante.Sem problema, bola pra frente. Agora, se o salário sobe acima da produtividade, há real incremento do custo por trabalhador. Qual a saída para o empresário?
Repassar as pressões de custos ao preço do produto final.
Havendo espaço para isso, ele gera mais inflação.
Não havendo, ele comprime as suas margens operacionais e coloca em risco o próprio negócio.
10 anos de recessão? Eu não acredito
Podemos afirmar, portanto, que marcamos os 2 primeiros dos “10 anos de recessão”?
Nada disso.
O “Fim do Brasil” nunca disse que o Brasil iria acabar estritamente. De forma óbvia, era alto metafórico. Disse, na verdade, e desde o seu primeiro parágrafo, que um modelo de país iria acabar, como de fato acabou. Vá lá e veja por si mesmo nossos 10 pontos. Todos rigorosamente confirmados pela impiedosa realidade.
Embora alguns ainda insistam, “10 anos recessão” não quer dizer que a Empiricus está “prevendo” que os próximos 10 anos serão necessariamente de recessão. Insistem por serem maus leitores ou por não terem sequer lido o material (ou assistido em vídeo alerta), que está aberto para quem quiser ver.
Não acreditamos necessariamente em 10 anos de recessão. O M5M de hoje está aí para mostrar que a economia é cíclica e a base de comparação cada vez mais fraca torna apurar crescimento em próximo ano tarefa mais fácil.
E tampouco torcemos para isso (sim, teve gente que nos acusou de torcer para a economia quebrar, como se não tivéssemos empresa ou fôssemos junto para o buraco nesse caso). Há 40 pessoas aqui trabalhando, torcendo por um país melhor.
Mas o que raios quer dizer então?
Que uma série de setores e indicadores da nossa economia já voltou a patamares de 10 anos atrás. E que teremos um período sem precedentes de fraqueza econômica. Se serão 10, 7, 4 ou 3 anos, não importa tanto. O relevante é que a situação é desastrosa.
E, principalmente, que se nada mudar de forma drástica na condução da política econômica e não estivermos preparados para um colapso sem precedentes que se forma lá fora, Dilma, que já entregou em seu primeiro mandato o menor ritmo de crescimento da república desde Joaquin Floriano (governo terminado em 1894), terminará o seu segundo mandato tendo de explicar o menor crescimento econômico da história do Brasil para um intervalo de 8 anos.