Aos Sherlock Holmes de plantão
Meeeeeeus Deus, a palavra “especialmente” foi retirada da ata da última reunião do Copom!
Ela havia sido usada anteriormente, quando o juro subiu, e agora não consta mais no comunicado!
Será o fim dos tempos? A prova inequívoca de mudança abrupta na política monetária do país?
Menos, meu caro Watson...
Toda a vez é a mesma história: uma fritação monstruosa das consultorias econômicas e da imprensa nas entrelinhas da ata, enquanto a mesma frase, velha e caquética, segue lá ignorada:
“O Copom irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
Tão óbvia quanto esclarecedora. E ainda mais velha e caquética depois do IPCA nas alturas anunciado ontem.
A caixa de ferramentas do Bacen
Por essas e outras, acho, diferente dos Sherlock Holmes, que a Selic ainda vai muuuito mais.
É mais ou menos assim...
Erraram a mão na política monetária. Começaram um processo de queda da taxa em busca de um suposto “novo patamar de juros para o Brasil” para depois desfazer todo o processo, voltando aos históricos dois dígitos e aos maiores juros reais do mundo, tardiamente.
Erraram também na errata, com um aperto em ritmo mais moderado do que deveria.
Com isso, o Bacen se travou, e agora está arrebentando no dólar para segurar a inflação...
Tem o dólar, que é uma via indireta para controlar inflação, e tem o juro, a ferramenta clássica e tradicional.
Você acha que agora o Bacen encontrou a fórmula, e acertou a mão?
E o desemprego ó...
O outro dado macro das manchetes é a taxa de desemprego.
Ops, tenho sido (como todos têm sido, em maior ou menor grau) um crítico da política econômica brasileira, mas como explicar os bons dados do mercado de trabalho em meio ao crescimento pífio e a inflação insistente?
A taxa de desemprego média do país caiu de 7,4% em 2012 para 7,1% em 2013. Tratando especificamente da população economicamente ativa. Entre o segundo e o terceiro trimestre de 2013, o nível de ocupação subiu de 56,9% para 57,1%. No quarto trimestre, aumentou para 57,3%.
O dado é de fato positivo, mas passível de ressalvas.
Mais uma vez: pode ter menos gente procurando emprego, assim como a tendência de queda do indicador é certamente influenciada pelo rápido processo de envelhecimento da população, além da resposta retardada do emprego à atividade (demora, mas ele reage).
O combo de desemprego baixo com crescimento real da renda vem perdendo apelo com a escalada da inflação e dos juros...
A ação que ganha com o governo Dilma
Passando do lado real da economia para a Bolsa, e seu universo paralelo, vejo que hoje o Ibovespa continua na sina da correção após a euforia (exuberância irracional) do rali eleitoral.
Já cansamos de falar das ações que ganhariam em meio a apostas de troca de governo (praticamente todas elas, mas em maior grau as estatais), mas você seria capaz de me apontar uma ação que GANHA com o governo Dilma?
A minha candidata
Que tal a Direcional Engenharia (DIRR3)?
Hoje a companhia deu o pontapé inicial à temporada de prévia de resultados relativos ao primeiro trimestre para as incorporadoras, no geral com bons números...
Seus lançamentos montaram a R$ 772 milhões no trimestre, concentrados integralmente na Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. A Faixa 1 pega a baixíssima renda (até 3 salários mínimo), com projetos muito grandes em termos de quantidade de unidades (por isso representam gatilho para a empresa).
Legal que, pelo modelo de atuação da Direcional, as vendas da Faixa 1 já são aprovadas ex-ante pela Caixa, portanto, não tem esforço de vendas de parte da empresa, reduz o risco de inadimplência e acelera sua velocidade de vendas. A questão então é monitorar margens, algo que foi um pouco problemático no ano passado.
E dálhe Minha Casa Minha Vida!
Direcional é uma boa incorporadora negociando em linha com o valor patrimonial e a 6x lucros projetados para 2014. Seria ela uma candidata ao famoso e muitíssimo rentável esquadrão das Barganhas da Bolsa?
Uma faca de dois legumes e uma batata (nas mãos do Cade)
Conversamos ontem no PRO sobre a imposição do Cade de que a CSN reduza sua participação na Usiminas. As ações de ambas desabaram em resposta, mesmo com o comunicado da decisão não abordando a forma, o prazo e o quanto de participação que CSN terá de vender.
Esse suposto comunicado vago tem sido muito criticado por aí, mas revela um dilema.
Se o Cade abrisse o prazo ou a quantidade de ações objeto de venda, não estaria ele estimulando a arbitragem em cima da operação? Talvez esse tenha sido o seu ponto.
Por outro lado, não falando nada, provavelmente ele acabe alimentando muito mais especulação.
No escuro, é tiro para todo lado.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.