Dois anos perdidos
Pois é, o Focus tarda, mas não falha. Pela primeira vez, o mercado se defronta com um consenso em torno de novo recuo do PIB em 2016 - risco que nosso economista Felipe Miranda já havia evidenciado. Um Governo tem que se esforçar muito para conquistar a dádiva de dois anos seguidos de retração - comparável apenas aos tombaços sofridos na década perdida de 1980. Se o desafio fosse meramente o de uma economia cíclica, a queda sonora de 2015 (-2%) provavelmente induziria a um crescimento minimamente razoável em 2016. Não foi o ciclo de commodities que detonou nosso PIB, mas sim o ciclo político.
Dez anos perdidos
Faça as contas: a década de 2010 já está praticamente tão perdida quanto a de 1980. Fechamos 2014 no zero a zero, vamos cair -2% em 2015 e outros -0,2% em 2016 (estou sendo bonzinho). Supondo um avanço populacional da ordem de +1% ao ano, precisaríamos de um novo milagre econômico de 2017 a 2020 para salvar o crescimento do PIB per capita nesta década. O jeito é torcer para (i) a Índia se tornar uma nova China, (ii) elegermos um Governo decente nas próximas eleições e/ou (iii) a população brasileira diminuir, de tanto desgosto.
Distorções da realidade
Enquanto não chegamos a 2017, devemos nos concentrar nos embates correntes e frequentes. Eduardo Cunha quer votar o projeto que aplica ao FGTS o mesmo rendimento maravilhoso da Poupança. Pode parecer irônico, mas os 6% da Poupança são realmente maravilhosos quando comparados aos 3% do FGTS. Com a Selic rodando a 14% por um "longo período” (segundo as palavras do Banco Central), outras distorções relativas se tornam mais nítidas. A oposição comemora, pois se alimenta diariamente de distorções.
Fast fashion
Falando nisso, você que investe em opções deve ter notado uma enorme distorção no mercado brasileiro. Há inúmeras calls e puts negociando a preços consideravelmente acima dos deduzidos pelo tradicional modelo de apreçamento de Black & Sholes. Isso significa que as caudas longas estão na moda. Eventos radicais e imprevisíveis passam a ser precificados por quem investe em opções de VALE, PETR, ITUB e outras grandes do Ibovespa. Conforme for sua estratégia de longo prazo em Bolsa, pode ser um excelente momento para fazer vendas cobertas de calls e de puts, produzindo rendimentos acima dos percebidos em títulos públicos. Se as caudas longas estão na moda, a geração de renda está na moda também.
Incertezas incertas
Aliás, boa parte da indecisão do Ibovespa durante a manhã se deve a uma segunda-feira de vencimento de opções sobre ações. Em agosto, as apostas de queda da Bolsa brasileira em geral superaram as apostas de alta. Para o próximo vencimento, em setembro, esse embate tende a ser mais parelho, a não ser que o Fed “surpreenda” a metade do mercado que crê em elevação dos juros americanos só em dezembro. Então quer dizer que o Fed é quem definirá a disputa em setembro? Não necessariamente. Fed hoje é o que chamamos de “known unknown”. Os “unknown unknowns” são bem mais perigosos. Em meados de julho, alguém imaginava que a China logo iria desvalorizar o yuan?