MBRF faz acordo de investimento com empresa saudita e avalia listagem da BRF Arabia
Se o mercado financeiro fosse uma pessoa, esta semana ele seria aquele seu amigo que, após receber o diagnóstico de uma doença grave, comemora efusivamente porque a dor de cabeça passou por um dia. Foi um espetáculo de negação em massa, uma festa barulhenta e eufórica no convés de um navio que todo mundo sabe que já bateu no iceberg. O apocalipse que todos previam foi, de fato, cancelado. Mas o iceberg, meus caros, não derreteu.
Vamos recapitular o roteiro que parecia inevitável. Há semanas, acendemos um "alerta vermelho" por um motivo simples: a conta da isenção do Imposto de Renda não fechava. Esse rombo fiscal, alertamos, criaria uma espiral de desconfiança que levaria a juros mais altos, dólar nas alturas e uma Bolsa de Valores em frangalhos. A semana começou com essa certeza sombria. O mercado estava tenso, esperando apenas o golpe de misericórdia, que viria na forma de dados de inflação na sexta-feira.
E então, o inacreditável aconteceu. A inflação, tanto a nossa quanto a americana, veio mansa, comportada, quase pedindo desculpas por existir. Foi o suficiente. O mercado, com a memória de um peixinho dourado, esqueceu instantaneamente o motivo de todo o pânico. Aquele alerta vermelho? Foi abafado pelo som da champanhe estourando.
A reação foi um delírio coletivo:
As taxas de juros, que precificavam o fim do mundo, desabaram como se não houvesse amanhã. A conversa sobre uma possível alta da Selic, que era o assunto da moda, virou piada de mau gosto. O mercado, em sua infinita sabedoria de curto prazo, decidiu que o problema estava resolvido.
O dólar, que se preparava para uma escalada rumo ao infinito, perdeu o fôlego. Afinal, por que se proteger em moeda forte se a casa não está mais pegando fogo? Ou melhor, se todos decidiram ignorar o cheiro de fumaça.
E a Bolsa de Valores (Ibovespa)… ah, a Bolsa foi a grande protagonista da festa. Em um rali digno de filme, subiu com tanta força que quase zerou as perdas do mês. Foi a vingança dos otimistas, a capitulação dos pessimistas, a prova de que, no mercado, a euforia pode ser tão irracional quanto o pânico.
E é exatamente aqui que precisamos ser os chatos da festa. É aqui que precisamos lembrar que, enquanto todos dançam, o rombo no casco do navio continua lá. A inflação baixa não fez o governo magicamente encontrar dezenas de bilhões de reais para fechar o orçamento. Ela não criou uma nova fonte de receita, não cortou um único gasto. Pelo contrário, e aqui mora a ironia mais perversa: uma inflação comportada é o melhor pretexto para a inércia. Ela remove a urgência. Para que tomar o remédio amargo do ajuste fiscal se o paciente parece subitamente saudável?
O "alerta vermelho" que acendemos não era sobre um número de IPCA. Era sobre a sustentabilidade das contas públicas. E esse alerta, hoje, está piscando com ainda mais intensidade, porque agora ele está sendo deliberadamente ignorado. O mercado está comemorando o sintoma, enquanto a doença avança silenciosamente.
Essa festa dos tolos, no entanto, tem data e hora para acabar. E o teste de realidade já está marcado para a próxima semana. Na quarta-feira, o Federal Reserve, o todo-poderoso banco central americano, fará sua decisão de juros. Uma palavra mais dura de seu presidente, Jerome Powell, é o suficiente para desligar o som da festa no mundo inteiro e lembrar a todos que a vida real é feita de juros altos.
Mas o grande confronto, o momento da verdade para o Brasil, será na sexta-feira. É quando serão divulgados os dados fiscais do governo. Será a hora de parar de olhar para a miragem da inflação e encarar a fotografia nua e crua da nossa realidade orçamentária. Os números do superávit (ou mais provavelmente, do déficit) e da dívida pública estarão lá, em preto e branco, para quem tiver coragem de ver.
A semana que passou foi uma aula sobre a psicologia de manada. Mas não se deixe levar pela música alta. A inflação baixa foi um presente inesperado, um analgésico potente que aliviou a dor. Mas o risco fiscal é uma ameaça crônica, perigosíssima e que não desaparece com uma boa notícia. A festa está rolando, mas o chão já está tremendo. A questão não é se a conta vai chegar, mas quando. E ela sempre chega.
É hora de entrar em AÇÃO!