Um dos temas mais discutidos atualmente é a possível exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, região inserida na chamada Margem Equatorial. Estudos indicam que a área possui elevado potencial petrolífero, talvez até superior ao do pré-sal, cuja produção já dá sinais de declínio.
A complexidade da questão, no entanto, vai além das cifras e reservas. A região abriga uma biodiversidade extraordinária e é marcada por fortes correntes marítimas, o que eleva consideravelmente o risco ambiental. Em caso de vazamento, o óleo poderia se espalhar por uma extensa faixa do litoral brasileiro, comprometendo ecossistemas frágeis e comunidades costeiras.
Mas os danos ambientais diretos não são os únicos pontos em debate. Em um momento em que o mundo trava uma corrida urgente contra as mudanças climáticas, impulsionadas majoritariamente pela queima de combustíveis fósseis, cabe a pergunta: vale a pena seguir apostando em uma matriz energética poluente, quando alternativas mais limpas e sustentáveis estão em pleno desenvolvimento?
A resposta não é simples. Não se trata de um “sim” ou “não”. A discussão exige ponderação, visão estratégica e responsabilidade intergeracional. É preciso equilibrar desenvolvimento econômico, segurança energética e preservação ambiental com maturidade e clareza sobre o futuro que queremos construir.
Antes de qualquer julgamento, é preciso olhar para nossas próprias necessidades. Conseguimos viver sem energia? É realista imaginar que toda a frota de veículos a combustão, como carros, caminhões, ônibus, será substituída, de forma repentina, por modelos elétricos? A questão vai além do combustível. Mesmo os veículos elétricos e híbridos demandam óleos lubrificantes. Máquinas industriais, agrícolas ou domésticas seguem dependentes de derivados do petróleo. E essa dependência está em quase tudo: dos plásticos e polímeros aos medicamentos, dos fertilizantes aos produtos de uso diário.
Percebe-se, então, a dimensão da cadeia do petróleo e o quão desafiadora é sua substituição imediata. É claro que, em algum momento, seremos capazes de prescindir dele. Tecnologias limpas existem e vêm ganhando espaço. Mas para que se tornem viáveis em larga escala, é necessário tempo, investimento contínuo, apoio estatal e adesão do mercado.
Eis o dilema que se impõe: ainda dependemos do conforto e da funcionalidade que o petróleo nos oferece, mas também precisamos, com urgência, reduzi-lo para preservar a vida humana e os ecossistemas. Não se trata de uma escolha simples, mas de uma transição que deve ser conduzida com seriedade, planejamento e responsabilidade. O tempo é curto, e o futuro, sem dúvida, passa pelas decisões que tomamos agora.
Solução imediata não existe. Ela deve ser construída com o tempo, ou seja, com um planejamento estratégico que possibilite explorar o petróleo ali existente com o máximo de segurança ao mesmo tempo que se use parte dos lucros para pesquisa, desenvolvimento e implantação de matrizes energéticas menos poluentes.
O conceito ESG vai além da produção de bens e serviços. Pelo contrário, sua lógica está em poder fazer todo tipo de negócio com o mínimo possível de impacto socioambiental. E tudo isso de forma ter um processo claro de tomada de decisão, a manter a saúde financeira das empresas, a boa arrecadação do poder público, entre outros. Isso é ser sustentável.
O tema está longe de ser simples. A sociedade, em grande parte, ainda não está preparada para discutir soluções de forma madura e informada. O ideal, sem dúvida, seria abrir mão do petróleo por completo, uma realidade ainda fora do nosso alcance.
É possível, sim, compreender quem defende a exploração. A questão central está nas condições: quais serão as medidas adotadas para mitigar os impactos ambientais? Qual será a eficácia da fiscalização por parte dos órgãos competentes? Não se pode depositar total confiança apenas nas promessas das empresas envolvidas.
Outro ponto crucial é o destino dos recursos financeiros gerados pela atividade. Eles precisam ser direcionados estrategicamente para preparar o país para um futuro em que o petróleo deixe de ocupar papel central na economia global. A transição energética é inevitável e quanto mais cedo investirmos em alternativas sustentáveis, mais suave e justa será essa mudança.