Dólar cai pela 5ª sessão seguida em meio à percepção de alívio sobre impasse Brasil-EUA
Nesta semana, a UNICA divulgou os números da moagem da primeira quinzena de julho: 49,823 milhões de toneladas de cana processadas. A princípio, parece um bom número — até olharmos o ATR quinzenal, que veio quase 10 quilos por tonelada abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. É como preparar um belo jantar e perceber, na hora de servir, que esqueceu o sal.
Fizemos um raio-X da evolução do ATR quinzenal desde o início da safra e comparamos com o comportamento do ano passado. A correlação entre as sete quinzenas acumuladas até agora e o mesmo período da safra anterior é surpreendentemente alta: 0,9885. Ou seja, está andando junto — só que ladeira abaixo.
A perda de ATR tem sido uma companhia fiel: começamos com uma redução de 3,40 kg por tonelada, passamos para 4,58, depois 7,95, e na leitura mais recente, já estamos em 9,60 kg de ATR por tonelada. Teve uma breve reação em junho — como quem toma fôlego antes de escorregar mais — mas as projeções indicam que podemos chegar a uma perda de 12,5 kg de ATR por tonelada até outubro. E isso está em linha com os relatos (nada animadores) de diversas usinas.
Vamos aos cenários de moagem. O mais otimista, compilado a partir da média de 20 consultorias, tradings e instituições, prevê uma moagem de 605 milhões de toneladas de cana. Com 256 milhões já moídas (a terceira menor marca dos últimos dez anos), precisaríamos processar mais 349 milhões de toneladas até o fim da safra. Viável? Sim, tecnicamente. Isso aconteceu em 4 das últimas 10 safras — mas se você desconsiderar as duas “super safras” recentes, essa chance cai para 30%. Não exatamente um cenário para apostar o cafezinho.
Mesmo que esse volume seja alcançado, a projeção de ATR médio da safra seria de 132,88 kg por tonelada, o que geraria cerca de 80,4 milhões de toneladas de ATR. Isso representa uma redução de 7 milhões de toneladas em relação ao ano passado. Assumindo um mix de produção de 51,5% para o açúcar, a produção final de açúcar dificilmente alcançaria a marca de 40 milhões de toneladas.
Ou seja, por enquanto, sonhar com 40 milhões de toneladas de açúcar é como torcer para o VAR não marcar aquele pênalti numa final: possível, mas improvável.
Num cenário menos róseo — ou, para ser honesto, mais compatível com o tom das conversas de bastidor nas usinas — vamos considerar uma moagem de 595 milhões de toneladas. Com uma produtividade média de 132 kg de ATR por tonelada de cana, isso nos levaria a uma produção total de 79 milhões de toneladas de ATR. Na prática, isso representa uma perda de 8,56 milhões de toneladas em relação à safra anterior. E, mantendo o mix em 51,5%, a produção de açúcar ficaria por volta de 38,8 milhões de toneladas.
Já o cenário com o qual trabalhamos na Archer Consulting é ainda mais conservador — ou realista, como preferimos chamar. Estimamos uma moagem total de 581 milhões de toneladas de cana, com um ATR médio de 132,63 kg por tonelada. Isso resultaria numa produção de 77,1 milhões de toneladas de ATR — uma redução de 10,5 milhões de toneladas frente à safra 2024/25. A produção de açúcar, nesse caso, seria de 37,8 milhões de toneladas.
Mesmo com o mix mantido em 51,5%, o discurso otimista de atingir mais de 40 milhões de toneladas de açúcar começa a soar como aquela promessa de político em véspera de eleição: difícil de sustentar quando os números apertam. E se a produção ficar abaixo de 38 milhões, o impacto no mercado pode ser expressivo — não apenas na percepção dos players, mas também na formação de preços.
Seguimos monitorando os próximos números com a atenção de quem sabe que, nesse mercado, o diabo mora nos detalhes. E, às vezes, também no clima.
Por conta das inúmeras peças espalhadas nesse complexo tabuleiro de xadrez — e das incertezas que pairam tanto sobre o setor quanto sobre o cenário macroeconômico — o mercado se comportou como quem espera, pacientemente, um farol no nevoeiro. O contrato outubro/25 do açúcar bruto encerrou a sexta-feira a 16.20 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 8 pontos na comparação semanal. Já os vencimentos mais longos praticamente não se moveram — como se estivessem também esperando um sinal dos céus (ou de Brasília, ou de Washington...).
No câmbio, apesar da tempestade Trumpiana que volta a agitar os mercados globais, o real fechou ligeiramente mais firme frente ao dólar, cotado a R$ 5,5400. A combinação de açúcar mais fraco em Nova York e real mais valorizado gerou uma desvalorização nos valores em reais por tonelada: recuo de R$ 25 para a safra 2025/26, R$ 19 para a 2026/27 e R$ 15 para a 2027/28. O hedge, que andava sorridente, agora está de cara fechada.
Do lado dos fundos especulativos, o relatório do CFTC divulgado hoje — com base na posição de terça-feira passada — mostra que os fundos seguem vendidos em 125 mil lotes, mesmo após recomprar 3 mil contratos na semana. Um detalhe interessante (e que vale a pena sublinhar): essa recompra de 3 mil lotes foi acompanhada de uma alta de 31 pontos no contrato outubro/25. Ou seja, aproximadamente 1 ponto de alta para cada 98 lotes recomprados. Fazendo uma conta de padeiro: se resolverem recomprar 50 mil lotes (40% da posição vendida), veremos o mercado subir 500 pontos? Seria quase poético — se o mercado obedecesse matemática simples.
O etanol segue firme, sustentado pela percepção crescente de que os estoques de passagem no fim do ano podem ser mais apertados do que se imaginava. A lista de motivos é respeitável: incertezas sobre a disponibilidade do produto, possibilidade de uma safra de cana mais curta, cumprimento obrigatório da demanda por anidro e, agora, o início do E30 — a mistura de 30% de etanol — que entra em vigor a partir de 1º de agosto. Uma equação que pode empurrar o etanol a patamares ainda mais firmes, especialmente se o açúcar reagir.
Nosso colaborador Marcelo Moreira dá sua visão técnica do mercado: O contrato outubro/25, após registrar a máxima da semana a 16.74 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a sessão a 16.18 centavos. Os principais níveis da semana foram: fechamento anterior a 16.29, mínima a 16.22, máxima a 16.74, nova mínima a 16.12 e fechamento atual a 16.18 centavos de dólar por libra-peso.
Desde 13 de maio de 2025, a média móvel de 50 dias vem atuando como uma barreira técnica sólida, sem ser rompida de forma consistente. Nesta semana, ela encerrou a 16.64 centavos de dólar por libra-peso. Um rompimento decisivo dessa média poderá abrir espaço para uma recuperação mais robusta, com alvos técnicos em 17.50, 18.50 e 19.50 centavos.
No entanto, a perda de momentum nas tentativas de alta e a dificuldade em sustentar os avanços sugerem um mercado ainda fragilizado, com viés lateral a levemente baixista no curto prazo. Os próximos níveis de suporte estão localizados em 16.03, 15.76 e 15.47 centavos de dólar por libra-peso, e devem ser observados de perto caso a pressão vendedora se intensifique.