O mercado futuro de açúcar em Nova York apresentou um cenário de grande volatilidade em 2023, que pode se repetir em 2024. No início de 2023, os preços estavam em torno de 19-20 centavos de dólar por libra-peso e atingiram um pico de 28.14 centavos de dólar por libra-peso, causando frustração para aqueles que esperavam que os preços chegassem a 30 centavos de dólar por libra-peso ou mais.
Essa alta nos preços foi impulsionada principalmente pelo apetite voraz dos fundos especulativos, mesmo em um cenário fundamentalista que indicava uma safra de cana-de-açúcar abundante. No entanto, o mercado viu uma reviravolta abrupta, com uma queda de quase 19% no preço médio dos futuros em dezembro de 2023 (primeiro contrato, com vencimento em março de 2024), encerrando em 22.22 centavos de dólar por libra-peso, em comparação com os 27.31 centavos de dólar por libra-peso de novembro. Isso representou uma queda de mais de 500 pontos.
A rapidez com que essas mudanças ocorreram não tem precedentes no mercado de açúcar em Nova York neste século. A volatilidade e as influências dos fundos especulativos continuarão a ser fatores importantes a serem monitorados em 2024.
A força motriz responsável pela queda nos preços atende pelo nome de fundamentos do mercado. Observava-se ao longo da safra que estávamos diante de uma espetacular produção de cana que acabou se concretizando e entregando quase 19% a mais de cana em relação à safra anterior e inacreditáveis mais de 25% de produção de açúcar comparativamente à safra 22/23 (42.1 milhões de toneladas de açúcar contra 33.5 do ano anterior).
Tudo parecia ir bem de acordo com o plano dos especuladores. No entanto, o volume de compras de calls (opções de compra) fora do dinheiro, financiadas pela venda de puts (opções de venda) trouxe um componente drástico potencializando a queda do mercado via correção do delta das puts vendidas, no momento que os especuladores começavam a liquidar suas posições. Escrevi um artigo sobre isso no LinkedIn, com o título A Montanha-Russa do Açúcar: Lições Cruciais de Gestão de Risco, que oferece uma análise aprofundada desses eventos e destaca importantes lições de gestão de risco que podem ser aplicadas a situações semelhantes no futuro. Não tenho dúvidas de que 2023 foi um ano de enorme aprendizado para quem está envolvido em gestão de risco.
Janeiro representou um mês de recuperação notável, influenciada pela convergência de diversos fatores: a) Consumidores industriais que haviam perdido oportunidades de compra de açúcar devido à rápida elevação dos preços aproveitaram a queda para consolidar suas aquisições de matéria-prima ao longo da curva de preços, proporcionando um alívio palpável; b) As precipitações em dezembro e janeiro ficaram abaixo das médias históricas, intensificando as preocupações em relação à disponibilidade de cana-de-açúcar para a colheita a partir de março; c) O mercado começa a formar um consenso em relação à expectativa de uma redução na produção de cana-de-açúcar para a safra 24/25, estimando uma queda entre 5-7% (ainda que alguns participantes do mercado apostem em números ainda mais acentuados).
Até o momento, estamos apenas fazendo conjecturas. No entanto, por que poderíamos testemunhar uma montanha-russa semelhante este ano? Bem, se compararmos o fechamento de sexta-feira em Nova York, onde o contrato futuro com vencimento em março de 2024 encerrou a 23.93 centavos de dólar por libra-peso, com o último pregão de 2023, podemos observar que, neste início de ano, o mercado já registrou um aumento de 339 pontos no contrato de março/24 (equivalente a 75 dólares por tonelada). A média de aumento foi de 228 pontos (50 dólares por tonelada) nos vencimentos relacionados à safra 24/25 do Centro-Sul e 148 pontos (33 dólares por tonelada) na safra 25/26. Essas flutuações iniciais indicam que o mercado pode continuar a ser volátil em 2024.
Agora, permita-me abordar a seguinte questão: da mesma forma que o mercado não resistiu à alta no último trimestre de 2023, devido à ausência de contrapartida quando os fundos começaram a liquidar suas posições compradas – ou seja, não havia compradores suficientes disponíveis para atender às vendas dos fundos – podemos agora observar uma situação intrigante. Se os fundos decidirem reconstruir suas posições compradas (long), surge uma interrogação relevante: quem estaria disposto a fornecer liquidez, assumindo o papel de vendedor? As usinas, hedgers naturais, já asseguraram posições de forma bastante abrangente para a safra 24/25, estimando-se em torno de 65% de fixações, com foco especial nos vencimentos de maio e julho.
Tudo leva a crer que o mercado vai ficar algum tempo negociando num intervalo restrito de 22-24 centavos de dólar por libra-peso na safra 24/25 (maio/24 até março/25) e os extremos serão testados conforme mais informações tenhamos da safra do Centro-Sul, do clima e – não podemos esquecer – dos fatores exógenos com os conflitos na Ásia.
Um novo ano, sim. mas as incertezas, os solavancos e a volatilidade não perderam o ritmo.