Uma das questões que sempre vem à tona quando pensamos no mercado financeiro é se o preço importa na hora de investir. Adianto: não observar o preço pode trazer um prejuízo irreparável, como aconteceu com a Coca-Cola (NYSE:KO) (SA:COCA34).
Sobre o tema, é interessante observar que em qualquer outro ramo de atividade econômica essa pergunta seria uma resposta bastante óbvia de ser respondida – todo mundo preferiria pagar mais barato.
No entanto, no universo da renda variável, o preço é algo mal-entendido por alguns participantes do mercado, e as pessoas, de modo geral, tendem a complicar e até menosprezar conceitos simples e gerais de uma economia capitalista.
Adiantando a resposta: sim, o preço é importante sempre – pelo menos é a conclusão que tenho depois de muita experiência no mercado. Tudo deve ter um preço de compra e venda, e esse preço está ligado diretamente ao valor percebido pelo comprador de um determinado ativo.
Até certo ponto, e no curto prazo, os preços dos ativos - como casas, fazendas, restaurantes, lojas, ações ou títulos - seguem uma dinâmica mais semelhante à aleatoriedade. Isto é, não existe lógica concreta naquele momento.
No entanto, no longo prazo, os mercados como um todo avaliam os ativos pelo o que eles geram de retornos, além da qualidade do ativo, avaliação dos bens intangíveis, lucros futuros etc. Em outras palavras, o mercado funciona, mais pragmaticamente, no longo prazo.
Tenho pra mim que um exemplo muito claro do porquê o preço importa é o caso da Coca Cola.
A empresa de refrigerantes, sem dúvidas, é uma das maiores e melhores empresas deste planeta. A Coca-Cola possui uma vantagem competitiva quase que irreplicável, que é a sua imagem.
Além de ser conhecida por promover os esportes, a empresa também se destaca através de seus slogans e jingles, que marcaram gerações de pessoas durante mais de 100 anos de sua história – sendo uma das campanhas mais famosas a do Papai Noel tomando o refrigerante.
Como consequência, centenas de milhares de pessoas tomam todo o dia o produto, e ele está disponível na grande maioria de supermercados e mercearias em elevado número de países. Não obstante a vantagem competitiva, a companhia ainda possui um balanço extremamente sólido, com uma geração de caixa e lucro espetaculares.
Ou seja, ao que tudo indica, a empresa seria um ótimo investimento sempre, não é mesmo? Errado.
Na década de 80, a ação da Coca-Cola estava visivelmente descontada em relação ao seu valor intrínseco – sendo negociada por volta de 10x seu Preço/Lucro. Tão logo o mercado percebeu este desconto, a ação multiplicou por 10 vezes no decorrer dos próximos anos.
No entanto, no ano de 1998 a empresa estava negociando a 50 vezes o seu lucro. A partir de então, até o ano de 2010 – isto é, durante mais de 12 anos -, as ações dessa excelente empresa apresentaram um retorno negativo.
Ou seja, mesmo uma ótima empresa, com um balanço excelente, crescendo todo o ano, não resultou em retorno financeiro a quem adquiriu suas ações em 1998. Qual o sentido?
A cotação de 50 vezes o lucro já presumia que a empresa cresceria significativamente nos anos seguintes. E isso de fato aconteceu, sem, contudo, representar uma alta em sua cotação.
Nesse sentido, verifica-se que é muito importante o investidor não esquecer de analisar a variável preço quando for investir em determinada empresa.
Nunca é tarde para lembrar da sábia afirmação de Benjamin Graham de que “Perspectivas óbvias de crescimento em um negócio não significam lucros óbvios para os investidores”. Isso porque, embora pareça fácil prever qual setor crescerá mais rapidamente ao longo do tempo, essa previsão não tem valor real se a maioria dos outros investidores já esperar a mesma coisa.
E, para você, preço importa?