Existem alguns princípios que ao conhecermos, acabamos adotando como uma filosofia para a vida. Um dos meus favoritos é o Princípio de Pareto, em homenagem ao economista Vilfredo Pareto.
Esse princípio, também conhecido como regra do 80/20, afirma que, para a maioria dos eventos, 80% dos efeitos decorrem de 20% das causas. Ou seja, a maioria dos resultados (80%) decorre da menor parte dos esforços (20%).
Observo que nos investimentos esse fenômeno se manifesta com muita frequência. A maioria dos investidores acaba gastando seu tempo com distrações, como acompanhar diariamente notícias, pesquisar diferenças tributárias entre os investimentos e querer dominar todos os indicadores fundamentalistas para procurar as “melhores” ações da bolsa.
Não que esses pontos não sejam importantes, mas estão longe de ser os fatores-chave para o sucesso de uma carteira no longo prazo. A chave mestra para 80% do sucesso do investidor é uma ação que talvez demande até menos do que 20% dos seus esforços: uma adequada Alocação de Ativos ou Asset Allocation.
E quando falo em “sucesso”, estou me referindo ao resultado final almejado individualmente por cada investidor, conforme seus objetivos próprios. E somente o planejamento de uma boa alocação de ativos irá aumentar significativamente as chances de o investidor atingir o seu sucesso.
E para identificar a alocação de ativos ideal para cada investidor, é necessário levar em consideração três variáveis que irão definir essa resposta: horizonte de investimento, tolerância ao risco e correlação de ativos.
HORIZONTE DE TEMPO
Você já deve ter ouvido falar que o único ativo escasso que temos não é o dinheiro, nem a saúde, mas sim o tempo. Não há como negar que alguns possuem mais desse ativo do que outros.
Ao desenhar uma estratégia de investimentos, é importante entender qual é o horizonte de tempo que o investidor tem para atingir seus objetivos financeiros. Esse horizonte de tempo irá definir se o investidor pode ser mais conservador ou agressivo em sua estratégia, irá definir qual é a sua capacidade de risco.
Por exemplo: um investidor de 20 anos teoricamente pode ser mais agressivo com seus investimentos, pois pode se dar ao luxo de aguardar caso sua carteira se desvalorize por conta de uma ou mais crises. Ele possui o tempo a seu favor, e uma maior Capacidade de Risco, O foco dele precisa ser Criação de Capital.
Já um investidor que está prestes a se aposentar não deve tomar um risco elevado em sua carteira, pois já não possui o tempo a seu favor, uma menor Capacidade de Risco. Por isso, seu foco precisa ser mais o de Preservação de Capital.
Lembre-se que para uma queda de 50%, é necessária uma alta de 100% em uma carteira somente para voltar aos patamares anteriores. Alguns investidores têm tempo para esperar, outros não.
Abaixo trago alguns exemplos de alocação de ativos conforme o horizonte de tempo, tanto de vida quanto de objetivos:
No mundo dos investimentos, risco é sinônimo de incerteza. Ou seja, quanto menor o seu horizonte de investimentos, mais conservadora precisa ser a sua estratégia, pois menor precisa ser o seu grau de incerteza com relação ao seu portfólio. Abaixo temos um exemplo com horizonte de tempo curto (dois anos), em que uma alocação predominante em bonds (títulos de renda fixa) obteve os melhores retornos. Por que isso aconteceu? Por que casualmente esse foi um período de bear Market (mercado de baixa), e as carteiras com mais ações (stocks) não teriam se recuperado a tempo.
Entretanto, se o exemplo acima fosse outro, com um prazo mais longo, como o de 10 anos, é claro que uma carteira com mais ações teria trazido os melhores retornos.
TOLERÂNCIA AO RISCO
Se logo acima consegui abordar objetivamente por que o horizonte de tempo é importante para definir uma alocação de ativos adequada, com relação a essa variável a compreensão é mais subjetiva.
Quando estudamos sobre Planejamento Financeiro, existem dois conceitos que parecem ser iguais, mas que são muito diferentes, e na minha visão são uns dos conceitos mais importantes a ser dominado pelo profissional da área: capacidade de risco x tolerância ao risco.
Já falamos aqui sobre Capacidade de Risco e sua relação com Horizonte de Tempo. Um investidor jovem possui, teoricamente, uma capacidade maior para tomar risco do que um investidor veterano, pois seu horizonte de tempo é maior.
Entretanto, esse mesmo investidor, por diversos motivos comportamentais ou por falta de conhecimento, pode ser um investidor altamente conservador. Ou seja, esse investidor possui uma baixa tolerância ao risco. Ou esse investidor também pode ser um Risk Lover, ou seja, só vê sentido investir se for em busca de altos retornos, mesmo que precise tomar grandes riscos. Ou seja, ele possui uma alta Tolerância ao Risco.
E por mais que racionalmente o conceito de capacidade de risco faça mais sentido, o perfil do investidor precisa ser respeitado, pois uma carteira de investimentos desalinhada à sua tolerância ao risco certamente não será sustentável, pois o mesmo não irá suportá-la por muito tempo.
A meu ver, a principal fronteira que reduz a distância entre esses dois conceitos para um mesmo investidor chama-se educação financeira. Pela minha experiência, a tolerância ao risco está diretamente correlacionada ao grau de conhecimento do investidor. Quanto mais informado e educado financeiramente ele estiver, mais seguro e tolerante ao risco ele será.
CORRELAÇÃO DE ATIVOS
Segundo Ray Dalio, ter uma carteira com ativos descorrelacionados é o “Santo Graal dos investimentos”. Mas o que ele quer dizer com isso?
Se você circula com frequência pela sua cidade, sabe que existem muitos vendedores ambulantes. Você já notou que um mesmo vendedor ambulante pode estar vendendo óculos de sol, mas se começar a chover, de repente ele aparece te oferecendo um guarda-chuva?
Mas por que isso acontece? Porque até o vendedor ambulante sabe que precisa ter produtos descorrelacionados entre si para poder vender em diferentes tipos de clima, pois esses operam em ciclos.
Ocorre que nosso sistema econômico também funciona por ciclos. E a meu ver esse é o ponto de compreensão do mercado que separa os investidores amadores dos profissionais.
O fato é que não precisamos (e nem conseguimos) prever o mercado. Mas podemos e devemos estar preparados para todos os cenários possíveis, pois a única certeza que temos é a certeza dos ciclos de mercado.
Por isso que a alocação de ativos considerando essa premissa é tão importante. Você precisa considerar em sua carteira esses ciclos, e possuir ativos que não sejam correlacionados entre si, para garantir a aderência da sua carteira a diferentes cenários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Direcionar os esforços de sua estratégia em uma boa Alocação de Ativos em detrimento da seleção de ações (Stock Picking) pressupõe a incerteza sobre o futuro dos mercados, mas garante que, conforme suas condições, mesmo se alguns ativos se desvalorizarem, outros irão se valorizar e protegerão seu patrimônio.
Sendo assim, podemos concluir que a estratégia de alocação de ativos leva em conta muito mais o gerenciamento de risco e a volatilidade dos mercados do que o gerenciamento de desempenho.
E sabemos que, considerando um horizonte longo de investimentos, o mais importante é manter-se vivo sempre, e a chave mestra te garante que você terá capacidade não só de competir em uma corrida de 100 metros, mas sim de uma importante maratona.
Te espero no próximo artigo! Abraços!