É notório que ainda se utilizam eventos de um passado recente, como o intenso fluxo cambial negativo de 2019, as trocas de dívidas externas por internas das empresas nacionais, a queda do saldo da balança comercial, etc., para justificarem-se as pressões sobre o preço da moeda americana no nosso mercado, mas é importante ressaltar que “tudo isto é passado” e já teve a repercussão registrada, tendo o dólar fechado 2019 ao preço de R$ 4,01, e este foi o resultante final.
Isto é passado e foi precificado ao final do ano!
O que se tem de novo na questão cambial é a intensificação do lema do governo pelo Ministro da Economia: “juro baixo câmbio alto”, e na busca deste intuito de depreciar o real “na marra”, o BC se ausentou das intervenções no mercado de câmbio desde 26 de dezembro, “assistindo os especuladores elevarem gradativamente o preço da moeda americana até o R$ 4,38” com firme atuação no mercado futuro de dólar, já que o fluxo cambial à vista revelou no período mudança radical do que havia ocorrido em 2019.
Janeiro ainda apontou fluxo cambial negativo discreto da ordem de US$ 384,0 Mi e fevereiro até o dia 7 o fluxo revelou-se positivo em US$ 3,698 Bi, o que deixa evidente que não ocorreu pressão no mercado à vista, mas que a “empinada” no preço foi construída pela clara especulação no mercado de câmbio futuro, onde o BC deveria ter previdentemente realizado oferta de “swaps cambiais tradicionais novos” para desestimular a especulação e não o fez, e pelo contrário, continuou o insustentável argumento de que o “câmbio é flutuante”, um contraditório face ao comportamento do fluxo, e o desejado como política de governo “juro baixo e câmbio alto”, que repetido inúmeras vezes tem sido um forte estímulo aos “especuladores” na impulsão do preço.
Como no Brasil, “o rabo abana o cachorro”, ou seja, o preço do mercado futuro é que determina a formação do preço do câmbio no mercado à vista, a alta foi contundente face ao sucesso da especulação.
Evidente, como sói acontecer no Brasil, há a culpa externa e o mote agora era o vírus coronavirus que provocou postura defensiva nos mercado internacional, mas a bem da verdade o capital estrangeiro já não flui para o Brasil a muito tempo, dada a perda de atratividade pela queda do juro e nem para a Bovespa face à falta de efetiva consistência das tendências que apontavam melhora da atividade econômica.
Tivemos oportunidade de várias vezes nos nossos “posts” diários de que o BC precisaria fazer oferta de “swaps cambiais tradicionais novos”, não confundir como ocorre frequentemente com “moeda”, pois é “derivativo”, para conter a espiral do preço no mercado de forma especulativa, mas estava evidente que o quadro se desenvolvia com a complacência intencional das autoridades governamentais na área.
Destacamos, sempre, que o risco era termos uma mudança abrupta nas perspectivas para nossa economia propagadas na virada do ano, e então ocorrerem pressões fundamentadas sobre o preço da moeda americana estando com o mesmo “absolutamente fora da curva”.
Então, o que temos agora um preço que “assustou” aos gestores da política cambial quando atingiu com propulsão para ir adiante o preço de R$ 4,38, o que levou o BC a anunciar duas intervenções no mercado futuro de dólar com oferta total de 40.000 contratos de swaps cambiais tradicionais novos, algo como US$ 2,0 Bi de “efeito venda com derivativo” e que promoveu a queda do preço a R$ 4,30.
Solução? Agora efetivamente não, pois para acentuar fatos concretos e relevantes num contexto que praticava uma taxa cambial artificializada, surge o provável PIB de 2019 contrariando as melhores expectativas e sugerindo crescimento de tão somente 0,89%, decepcionante.
Isto abre espaço agora para mais especulação pelo desapontamento com o crescimento do país, o que deve deixar mais distante ainda os investidores estrangeiros, e fomentar o oportunismo dos especuladores.
Então, o que se deve assistir é o BC fazendo leilões de swaps cambiais tradicionais para o enfrentamento da pressão altista e os especuladores forçando a prevalência da pressão.
Por outro lado, nestes momentos acentua-se a percepção mais aguda de que a Bovespa vem sendo ancorada pelos investidores pessoas físicas migrantes do mercado de renda fixa, como já destacamos em comentário passado, mas passa-se a observar, a partir do alerta do novo PIB de 0,89% em 2019, que as bases de sustentação de valorização acionária são frágeis, os investimentos do setor privado produtivo são baixíssimos e do setor público decepcionantes dada a escassez de recursos.
Então, no resumo temos a BOVESPA sem sustentabilidade e absolutamente vulnerável, pois o investidor pessoa física não é tolerante com perdas e a abandona ante pequenas decepções, e o preço do dólar posto “na marra” num patamar de irrealidade como política de governo para superar uma série de problemas que não consegue dar solução, passando a sofrer pressão, agora fundamentada pois as previsões de fluxos cambiais pioram, a partir de um preço base já distorcido e artificializado.
Há incertezas novas e riscos, as perspectivas tendem a ser mutantes para pior.