Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
– Hilda HilstA escritora Hilda Hilst queria fazer contato com os mortos.
Sua esperança era a de que pudesse levar sua voz até o outro lado, e trazer de volta as respostas.
Desafiava assim o clichê de que o poeta é sempre um narcisista, que quer apenas sua própria voz ouvida.
Em vez de ela mesma, preferia os mortos – algo raro para os financistas autocentrados.
Ao investir, investimos em nós mesmos, o que é sempre um perigo letal.
Procuramos uma ação que viva como nossas próprias vidas, e replicamos assim os nossos próprios defeitos em todos os cantos do mercado.
Idealmente, deveríamos investir em ações de empresas falecidas, que já não replicam coisa alguma.
Paga-se zero por elas e, na pior das hipóteses, elas não enchem o saco de ninguém.
Vai que um dia ressuscitam, né? E então enriquecemos.
Não julgo que o Daniel Malheiros passe parte do tempo cavoucando tumbas de cemitérios em seus Fundos Imobiliários.
Ou que o Alê Mastrocinque acesse o “Lado Extremo da Vida” em seu Empiricus Insider.
Ao investir no mundo dos mortos, podemos realmente acordá-los.
Duvida?
Deixe-me contar uma história horripilante.
Em 19 de agosto de 2016 – data cabalística –, recomendei a compra do fundo imobiliário CEOC11.
Na época, suas cotas valiam em torno de 57 reais, e o FII não pagava os típicos proventos mensais, pois buscava locatários e propunha carência.
Fazia-se de morto.
Hoje vive, paga aluguel e vale em torno de 90 reais em Bolsa.
PETR4 também compramos morta há algum tempo, para um dia vendê-la revigorada.
Mesmo sob águas profundas, já existe algo se mexendo dentro do caixão. Não tenho pressa.
Os ativos mortos, por ironia, são os que precisam de mais tempo.