Soprando velinhas
Quantas vezes você teve de ir à agência bancária esta semana?
Aposto que menos do que teria ido 20 anos atrás, e não somente pela maravilha do internet banking. Em 1o de julho de 1994 foi dado o pontapé oficial no plano real. Um simples comparativo de métricas parece suficiente para concluirmos que até então ele cumpriu com o propósito de estabilizar a economia sem causar uma tormenta no mercado de trabalho:
As ressalvas
A taxa de juros de 1994 era obviamente distorcida pela inflação, mas, embora muito inferior agora, não deixa de ser o maior juro real do mundo - enquanto todo o mundo roda com juros zerados.
Quem enfrentou a hiperinflação pode não se preocupar com a inflação atual, e de fato não dá para comparar uma com outra, mas também não podemos ignorar o fato de que ela incomoda...
... fosse diferente não teríamos uma economia com preços controlados (câmbio e combustíveis) e os maiores juros do mundo mesmo em um cenário de crescimento praticamente nulo.
Um dos pais do plano real, o economista Gustavo Franco afirmou que inflação é como alcoolismo, “não existe cura, só abstinência”.
A inflação que também pode ser comparada a uma pequena gravidez: inevitavelmente cresce, especialmente quando não se contêm as expectativas.
Diria que hoje não temos uma economia tão exótica quanto em 1994, mas não diria que temos uma economia normalizada.
Precisamos de nova estabilização
Veja bem...
Acabamos de receber o pior resultado já registrado para um mês de maio nas transações correntes (déficit de US$ 6,6 bilhões), enquanto observamos o primeiro déficit primário da série histórica para um mês de maio (US$ 11 bilhões negativos).
O que isso quer dizer?
Que falta poupança e, sem ela, não há como projetar recuperação do ritmo de crescimento da economia brasileira.
Que o atual modelo de crescimento pautado no consumo estimulado pelo crédito está esgotado.
Que precisamos então de um novo ciclo, liderado pelo investimento. O problema? A contrapartida contábil do investimento é a poupança. Mas, se não há poupança...
Pior do que tá não fica
Agora, qual o destaque do noticiário econômico desta terça-feira?
A confirmação da extensão do período de IPI reduzido para veículos e móveis.
É mais ou menos assim: já estava ruim (estoques em níveis da crise de 2008, queda nas vendas) em um ambiente de estímulos, e a continuidade deste ambiente pode evitar algo ainda pior. Mas chega a inspirar recuperação?
Trata-se de algo sem grande impacto marginal. Por outro lado, há mais renúncia fiscal do governo com a medida...
Ou seja, mais uma atitude expansionista em um ambiente deteriorado para as contas públicas.
Corolário
Temos seguidos eventos apontando em direção à piora na situação das contas públicas, o que naturalmente recai sobre os temores de não cumprimento da meta de superávit primário e consequente risco de novo rebaixamento de rating.
Como vimos, temos uma situação de dinheiro barato e farto no mundo (bancos centrais com juros zero e estimulando liquidez) enquanto somos uma ilha de juros elevados, preços de câmbio e combustíveis artificialmente controlados e os lucros das empresas crescendo substancialmente abaixo da valorização dos principais índices de ações…
É, claro, uma situação insustentável, que hora ou outra terá de ser ajustada.
Mas quando?
Talvez não tenha percebido, mas além do aniversário do real, hoje é abertura do segundo semestre, período fadado a ajustes importantes, em que se esgota o holofote da Copa e a barreira (à política econômica) das eleições.
Por isso estamos efetuando ajustes importantes em nossa Carteira Empiricus, não só em seu book de ações, após a performance expressiva de junho. E por isso recomendo fortememente a série Fim do Brasil, que aborda a fundo as transformações em curso e a iminência de um ajuste severo na economia brasileira, com desdobramentos inevitáveis sobre o seu bolso. Após muita luta aqui dentro, consegui disponibilizar DE GRAÇA o primeiro capítulo do Fim do Brasil, especialmente hoje (até 24h). Para quem gostar, fica o convite da assinatura.
Apagando incêndio
Nesse assunto das contas públicas e do temor sobre o rating, Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, foi rapidamente aos microfones na tentativa de apagar o incêndio:
“há uma série de eventos que tende favorecer o desempenho fiscal nos próximos meses, como receitas de concessões, dividendos e Refis”
Ou seja, dalhe extraordinários para tentar fechar a conta. Dalhe (mais) pressão sobre o balanço da Petrobras, das distribuidoras de energia e leilões de ativos com lapso de interesse preenchido pelas estatais. Dalhe risco de contabilidade criativa e asfixia sobre o setor privado, como a que fizeram com a indústria de bebidas.
Para pensar depois: quanto será que vem de dividendo da Eletrobras este ano?
Lembrando que a União recebe via ELET3.
A (outra) aula magna de governança
Concluindo a aula magna de governança corporativa do M5M de ontem, hoje temos mais uma lição do setor de telecomunicações.
A Portugal Telecom, que se fundiu com a Oi, confirmou ter exposição de 897 milhões de euros a notas promissórias do Banco Espírito Santo. Isso representa cerca de 40% da posição financeira da Portugal Telecom.
As dúvidas quanto a saúde financeira do BES levantam preocupações de risco de crédito sobre a PT, e naturalmente, sobre a Oi, que já não tem um histórico muito favorável de governança corporativa...
Adivinha? O Banco Espírito Santo é acionista relevante da Portugal Telecom.
Muita gente criticou a fusão da PT com a Oi, mas uma coisa não podemos negar: cada pé tem o chinelo que merece.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.