A expectativa de fluxo intenso e imediato oriundo da cessão onerosa deve conduzir o preço da moeda americana a níveis abaixo de R$ 4,00, sendo possível até projetar-se algo como R$ 3,80, mas é preciso considerar que por ser um volume de ingressos pontual ainda será prematura a sustentabilidade.
Evidentemente, é perceptível que o fluxo cambial para o Brasil tem um viés de tendência recuperatória, havendo já sinais de melhora e isto decorre da melhora do ambiente negocial no país, depois de atenuado o imediato problema da crise fiscal com a aprovação da Reforma da Previdência e providências em cursos para as demais reformas imprescindíveis e sinais, ainda discretíssimos, de melhora da atividade econômica e, também e principalmente, com as perspectivas em torno dos fluxos decorrentes das privatizações que vem sendo delineadas pelo governo.
À margem deste contexto, há fatos novos que devem ser considerados, como a possibilidade de retomada de recursos externos por empresas brasileiras em mercados que vem convivendo com juro negativo, interrompendo assim a tendência recente de reversão de passivos externos para passivos internos dada a queda do juro, acentuando o foco que direcionar recursos para o Brasil se torna interessante, até porque o país tem um CDS excelente em torno de 128 pontos, mesmo também para o mercado financeiro de juro, a despeito da queda da SELIC, mas agora capitais de melhor qualidade e não especulativos.
Naturalmente o que promoverá a sustentabilidade é a continuidade do incremento do fluxo cambial provendo liquidez própria ao mercado e permitindo correção nos estoques negativos ocorridos como consequência da retração recente do fluxo, que determinou perda total na comparação 2019/2018 de volume em torno de US$ 40,0 Bi, com os bancos com posições vendidas de US$ 30,0 Bi e o BC tendo ofertado no mercado à vista para prover a liquidez de montante em torno de US$ 20,0 Bi, montante equivalente ao fluxo cambial negativo ao longo do ano até o último dia 18.
Certamente, não estamos distantes de recuperar o fluxo cambial dentro da normalidade, restando a recuperação do nosso setor exportador que contribuiu fortemente para o fluxo negativo.
Neste cenário de recuperação da dinâmica própria do mercado de câmbio, o BC já anunciou que seguirá com as rolagens dos swaps tradicionais vincendos, bem como das linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, e persistirá com a oferta diária conjugada de moeda à vista combinada com oferta de swaps cambiais reversos.
Esta forma de intervenção com oferta de moeda à vista e oferta de swaps cambiais reversos tende a ter pouca aceitação pelo mercado com a recuperação de volume próprio, mas o BC deverá persistir, pois é uma forma estratégica e sutil de reduzir reservas cambiais, fazendo caixa em reais, sem sensibilizar a taxa cambial visto que com a oferta conjugada de swaps cambiais reversos faz o contraponto e neutraliza eventual efeito que poderia ser causado com a oferta à vista. Mas, a despeito de habilmente ter introduzido o conceito de “posição cambial líquida” mesclando contas de reservas de moedas efetivas com contas de derivativos que não envolvem moeda efetiva, mas tão somente como referência derivativa e liquidável por diferença em reais, o BC demonstra ter interesse em reduzir o volume de reservas cambiais brasileiras, considerado excessivo.
Novembro certamente será um divisor no fluxo cambial evidenciando sua recuperação gradual, inclusive com retornos de investimentos retirados da Bovespa.
Há um novo momento para o Brasil, com o seu crescimento de tão somente 0.9% não sendo visto tão negativo quanto antes, e as perspectivas se tornam mais favoráveis com intensidade acima das expectativas, sendo bastante viável e factível o ajuste no câmbio de forma sustentável para o final do ano em torno de R$ 3,80, a despeito do embate comercial China-USA, Brexit, UE e medidas monetárias por parte do FED, com o BC/COPOM podendo reduzir a taxa SELIC com tranquilidade.