Só para lembrar, faz tempo que o Brasil pretende conseguir maior participação em organismos multilaterais, sem obter sucesso. Durante o governo de Michel Temer, essa postura ficou bem mais explícita, e havia forte interesse em participarmos da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Havia grande entusiasmo irreal de que isso pudesse ocorrer no curto prazo, o que restou demonstrado que não seria factível.
Mas o Brasil não esmoreceu e o governo eleito de Jair Bolsonaro com as ideias liberais de seu principal ministro Paulo Guedes sobre a gestão econômica, acabaram aproximando novamente o país disso. Também foi importante o alinhamento do país com os EUA, especialmente a maior proximidade com Donald Trump e afastamento da esquerda.
Apesar das promessas de Trump sobre esse tema quando Bolsonaro esteve em visita, quase que em seguida tivemos a frustração de ver a Argentina sendo indicada para ingressar na OCDE antes do Brasil, sob a alegação que eles estavam na “fila” bem antes. Mas o Brasil seguiu com sua vertente liberal para a economia, meio que cumprindo todos os ritos para debutar no organismo.
Para quem não sabe, a OCDE se assemelha a um clube de países ricos, onde também são aceitos países aspirantes a serem desenvolvidos que pregam parâmetros liberais com economia aberta e transparente, preocupadas com direitos humanos. Bem verdade que em alguns momentos, não exatamente entre os desenvolvidos, e sim nos emergentes, pode haver um ou outro país que pode fugir aos preceitos do “clube”, como Espanha ou mesmo a Turquia (fundadora da OCDE) de Erdogan.
Mas há sempre um filtro importante de que podem ser excluídos do clube por conta de desvios.
Para surpresa do Brasil ou mesmo de nós que estamos mais distantes, logo no início de 2020 o presidente Trump mandou carta para a Organização, promovendo “by-pass” da Argentina para o Brasil. Aparentemente pesou a orientação mais à esquerda do novo governo argentino, acirrando o mau-humor do ciclotímico Donald Trump. Nesse aspecto, aceitamos de muito bom grado essa bipolaridade do presidente Trump.
O fato é que, mesmo estando mais próximo dos preceitos da OCDE, a entrada do Brasil na Organização ainda deve demorar. Nessa semana mesmo, o secretário-geral da OCDE, José Ángel Gurría, declarou que os membros ainda estavam digerindo a carta de Trump pedindo pelo Brasil, já que não lidavam com isso havia tempo, mas que poderiam discutir sobre isso na próxima reunião do mês de fevereiro. De qualquer forma, mesmo nessa hipótese, a admissão do Brasil só deveria ocorrer no prazo de três ou cinco anos, já que existe mais de duas centenas de situações a serem pesquisadas por comissões temáticas da OCDE, muitas delas ligadas ao meio ambiente, área em que Bolsonaro andou “apanhando” muito da comunidade internacional.
Mas a OCDE funcionaria bem como um selo de qualidade para o país receber investimentos e crédito com taxas mais baratas, e ser ajudado nas relações comerciais com os demais membros. Afinal, os formadores de opinião têm falado muito em multilateralismo como solução para a economia global inclusiva e aberta. Até mesmo a China tem se expressado dessa forma.
Pois bem, para o Brasil seria bem mais importante que figurar na OMC (Organização Mundial do Comércio), o que acreditamos ser um upgrade. Além disso, seria mais um motivo para não termos uma recaída e voltarmos às políticas pretéritas que tanto mal causaram, como a nova matriz econômica dos governos petistas.