Sem conseguir vender ativos, a situação da livraria Saraiva (SA:SLED4; SLED3) chama a atenção do mercado, pois agora a rede corre o risco de ter decretada sua falência.
Crise na Saraiva
A Saraiva entrou com o pedido de recuperação judicial em 2018 por conta de dívidas que somavam cerca de 674 milhões de reais na época.
A companhia chegou a ser considerada uma das maiores do ramo no Brasil e, devido ao seu sucesso, em 1972, transformou-se em uma empresa de capital aberto.
Na Bolsa de Valores brasileira, a B3, os papéis ordinários ON, negociados sob o ticker SLED3, fecharam na quinta-feira, 25, cotados a 0,67 real – bem longe do pico de 18,47 reais em 2011.
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Agrupamento de ações
Na tentativa de manter seus papéis acima do valor de 1,00 real, a Saraiva aprovou nesta semana o grupamento das ações ordinárias (SLED3) e preferenciais (SLED4) na proporção de 35 para 1.
Com a operação, o capital social da empresa de 301.976.036,03 milhões de reais passará a ser dividido em 1.811.719 ações. O movimento foi deliberado em resposta às pressões que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) fez em setembro deste ano para elevar o preço das ações.
Evitando o inevitável
Na tentativa de ganhar tempo para uma nova negociação, a Saraiva pediu a suspensão de sua assembleia de credores marcada para quarta, 24, à tarde, e o pedido foi aceito pelas empresas. Uma nova assembleia foi agendada para o dia 9 de dezembro.
A Saraiva já não dava lucro desde 2016. Uma empresa com lucros instáveis e geração de caixa operacional (as atividades do dia a dia) insuficiente está fadada ao fracasso.
Em certos anos, Saraiva mantinha caixa apenas com as linhas de crédito, o que os analistas chamam de baixa qualidade de caixa.
Por sorte, o investidor não precisa passar por isso junto às empresas.
O risco das ações mais baratas da Bolsa
A Saraiva tem deixado algumas boas lições para quem pretende começar a investir seu dinheiro.
Quando fazemos o processo de seleção de ações usamos o indicador dívida líquida/EBITDA. Dentre todos os indicadores de endividamento, esse é o de mais confiança quando analisamos empresas com históricos de Ebitda e lucros positivos – o principal foco já que, no longo prazo, a valorização das ações acompanha o crescimento de seus resultados.
Explicando: a dívida líquida mostra as dívidas da companhia menos os recursos disponíveis para quitá-las no curto prazo. Já o EBITDA é o histórico dos últimos 12 meses.
Não é uma regra, mas por convenção achamos interessante empresas com um nível de até 3x dívida líquida/EBITDA. No caso dos bancos e seguradoras, como não tem Ebitda, olhamos para outros indicadores mais específicos, como Basileia, mas esse é um assunto para outro texto.
Continuando: quando observamos que uma empresa está elevando esse múltiplo, é o nosso trabalho, enquanto analistas, acompanharmos mais de perto para entender se a dívida está concentrada mais no curto prazo, entre 2-3 anos, ou no longo prazo, entre 5-10 anos.
Além disso, também nos concentramos em entender qual a capacidade da empresa de continuar gerando caixa, pois a gente sabe que quanto maior o caixa, maior a probabilidade da empresa pagar suas dívidas e, consequentemente, a dívida líquida cai.
Muita gente entrou na Saraiva querendo ganhar dinheiro, e hoje amargam perdas por terem apostado em uma empresa bastante alavancada.
Esse exemplo serve também como alerta para os IPOs (Oferta Pública Inicial) da Bolsa. Quando uma empresa realiza o IPO, no prospecto, você precisa entender qual o nível de alavancagem. Se está em níveis elevados, como 5x ou 6x dívida líquida/EBITDA, é melhor ficar de fora no momento.
Em muitos casos, na primeira turbulência, as novatas da Bolsa voltam a se endividar por conta da má gestão dos recursos, apostas em aquisições que não trouxeram o retorno esperado, entre outros fatores.