As expectativas de conflação estão desancoradas

Publicado 20.03.2025, 10:00

O Ibovespa acumula valorização de +10% desde o início de 2025.

Com uma esticada a mais, é quase um ano inteiro de Selic… 

Investigando caso a caso as componentes do índice, encontramos ganhos ainda mais significativos.

Ações de beta elevado como Cogna (BVMF:COGN3), Magalu (BVMF:MGLU3), Yduqs (BVMF:YDUQ3) e CVC (BVMF:CVCB3) subiram entre +40% e +70% YTD, ajudadas também pelo short squeeze.

De fato, até mesmo papéis quality entregaram grandes porradas durante esta janela de primeiro trimestre, com saltos entre +30% e +40% para Cyrela (BVMF:CYRE3), Embraer (BVMF:EMBR3) e BTG Pactual (BVMF:BPAC11) - só para citar alguns exemplos nobres.

Pessoalmente, e sobretudo adotando uma visão ex ante, eu prefiro lucrar +40% com Cyrela a lucrar +70% com Cogna. Mas sem juízo de valor aqui: no Carnaval, cada folião tem o direito de encontrar o seu parceiro ideal.

Agora, imagine que o Carnaval nem chegou ainda, e o melhor da diversão está por vir.

Vamos voltar um pouco no tempo.

Lá em dezembro de 2024, se o Oráculo me dissesse que o IBOV começaria o próximo ano com o pé direito, graças à derrocada de Lula nas pesquisas, acompanhada por uma pronta ascensão de Tarcísio, eu responderia que até faz sentido como tendência, mas parece um pouco rápido demais.

E se esse mesmo Oráculo dissesse que a atividade doméstica perderia tração, dando margem a uma virada antecipada do ciclo monetário, eu fingiria um certo entusiasmo, por educação, mas guardaria sérias dúvidas sobre a virtuosidade holística deste novo cenário.

Agora, se o tal do Oráculo me garantisse que o caos tarifário implementado por Donald Trump bagunçaria o espírito animal dos empresários americanos e provocaria um imediato influxo de bilhões de dólares rumo aos mercados emergentes, eu pediria licença e voltaria para casa extremamente frustrado por ainda acreditar em entidades capazes de antever o futuro.

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir.

Pois, mesmo que tivéssemos relativo sucesso nesse sentido, ainda dependeríamos de seguir adiante, desenhando toda a teia sucessiva de causas e efeitos incitados por aquela causa raiz.

Você abre um bilhete premiado recebido de um estranho no metrô, na manhã de Natal de 2024, e ali está escrito: “Trump vai tocar o terror geral com suas tarifas malucas!”.

O que você faz?

Qual a sua primeira reação espontânea?

Comprar Bolsa brasileira?

Era tão óbvio…

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