Bitcoin luta para se manter acima de US$ 111 mil em meio à pressão vendedora
O mercado de criptomoedas tem experimentado um crescimento exponencial e maior adoção mainstream, consolidando-se como uma classe de ativos legítima e amplamente aceita. Paralelamente a esse desenvolvimento positivo, o setor tem demonstrado maturidade crescente no enfrentamento de atividades ilícitas, com melhorias significativas em monitoramento e compliance.
A Chainalysis em seu relatório “2025 Crypto Crime Report” revela dados importantes sobre a evolução do crime digital nos últimos anos, o que exige atenção constante da comunidade cripto.
Receitas com Atividades Ilícitas
Entre 2021 e 2023, as receitas de golpes com criptomoedas permaneceram em patamar elevado, variando entre aproximadamente US$ 10,8 bilhões e US$ 11,6 bilhões anuais.
Em 2024, o relatório aponta um valor identificado de cerca de US$ 10 bilhões, mas com estimativa de revisão para US$ 12,4 bilhões à medida que novos endereços ilícitos forem mapeados.
Receita Anual de Fraudes com Cripto. Fonte: Chainalysis
Estratégias como pig butchering, investimentos falsos e fraudes com uso de IA se mantêm em alta, mostrando que a sofisticação das táticas acompanha o crescimento do setor e exige vigilância constante dos investidores.
A estabilidade desses valores ao longo dos anos sugere que, embora as técnicas de detecção tenham evoluído, os criminosos também adaptaram seus métodos, mantendo a lucratividade de suas operações fraudulentas.
Redução Percentual
Em 2024, apenas 0,14% do volume total de transações cripto esteve ligado a atividades ilícitas, uma queda significativa frente aos 0,61% de 2023 e bem abaixo do pico de 0,70% em 2020.
Volume de Transações Cripto Ligado a Atividades Ilícitas (2020–2024). Fonte: Chainalysis
Apesar disso, o relatório estima que os valores absolutos superaram US$ 40,9 bilhões e podem passar de US$ 51 bilhões com revisões futuras.
A queda no percentual reflete principalmente o crescimento geral do mercado cripto, que diluiu a participação relativa das atividades ilícitas. No entanto, também demonstra a diversificação e sofisticação dos crimes, como golpes, roubos e ransomware.
Nova Preferência: Stablecoins
O perfil dos ativos usados em crimes on-chain mudou drasticamente entre 2020 e 2024. Em 2020, o Bitcoin dominava amplamente, respondendo por mais de 70% do volume ilícito. A partir de 2021, houve uma migração gradual para stablecoins, que hoje representam cerca de 63% de todas as transações ilícitas identificadas.
Atividades ilicítas on-chain por criptoativo (2020-2024). Fonte: Chainalysis
Essa transição reflete tanto a maior liquidez e uso legítimo das stablecoins no mercado quanto o interesse de criminosos em se beneficiar da paridade com o dólar e da estabilidade de preço. A preferência por stablecoins demonstra uma sofisticação crescente nas operações criminosas, buscando minimizar a volatilidade típica de outras criptomoedas.
Ainda assim, modalidades como ransomware e mercados darknet permanecem dominadas pelo Bitcoin, enquanto golpes e lavagem de fundos roubados tendem a usar uma variedade maior de ativos, adaptando-se às necessidades específicas de cada operação.
Pump-and-Dump
Entre 2022 e 2024, a fatia de tokens associados a suspeitas de esquemas pump-and-dump manteve-se estável, variando entre cerca de 3% e 3,7% do total lançado a cada ano.
Tokens com suspeita de Pump-and-Dump (2022-2024). Fonte: Chainalysis
Isso significa que, apesar da evolução das ferramentas de monitoramento e da conscientização do mercado, milhares de novos tokens continuam sendo criados com sinais de manipulação, muitas vezes abandonados após rápidas altas artificiais de preço.
Essa consistência no percentual reforça que o pump-and-dump segue sendo uma tática recorrente, explorando a facilidade de emissão de tokens. A democratização da criação de tokens, embora benéfica para inovação, também facilita atividades fraudulentas.
Considerações Finais
Os dados apresentados revelam um marco importante na evolução do ecossistema cripto.
A redução percentual significativa da atividade ilícita - de 0,70% em 2020 para 0,14% em 2024 - demonstra que o mercado está amadurecendo rapidamente e que os esforços de compliance e monitoramento estão surtindo efeito.
É fundamental compreender que as criptomoedas são uma tecnologia neutra, assim como a internet, o sistema bancário tradicional ou qualquer meio de transferência de valor.
Como qualquer ferramenta poderosa, ela pode ser utilizada tanto para fins legítimos quanto ilícitos. O que observamos hoje é um processo natural de amadurecimento de uma tecnologia disruptiva.
A migração criminal para stablecoins e a manutenção de esquemas como pump-and-dump em níveis estáveis refletem a adaptação natural que ocorre em qualquer ecossistema tecnológico.
Importante notar que essas atividades também existem nos mercados tradicionais - esquemas Ponzi, manipulação de ações e fraudes financeiras são problemas históricos do sistema financeiro convencional.
O que diferencia o mercado cripto é sua transparência inerente. Diferentemente do sistema financeiro tradicional, onde muitas transações ilícitas permanecem ocultas por anos, a natureza transparente das blockchains permite identificação e rastreamento mais eficaz das atividades criminosas.
Para investidores, esses dados não devem gerar pessimismo, mas sim conscientização. Assim como aprendemos a navegar com segurança na internet ou a proteger nossos dados bancários, é necessário desenvolver maturidade cripto - analisando projetos, verificando liquidez e compreendendo os riscos.
O combate efetivo continua evoluindo através de uma abordagem colaborativa entre exchanges, reguladores, empresas de análise blockchain e a comunidade.
As melhorias em ferramentas de compliance, educação dos usuários e cooperação internacional demonstram que o ecossistema está se tornando mais resiliente e seguro.
O futuro promissor das criptomoedas não será comprometido pela existência de atividades ilícitas - assim como a internet não foi abandonada por causa de crimes cibernéticos. O que importa é a proporção decrescente dessas atividades e a capacidade crescente de detectá-las e combatê-las, sinais claros de que a tecnologia está cumprindo seu papel transformador de forma cada vez mais responsável.