O Brasil registra até o último dia 16 uma perda relativa de fluxo cambial líquido na comparação entre este ano e 2018, mesmo período, da ordem de US$ 29,1 Bi, o que não é pouco, e os bancos autorizados a operar em câmbio acumulam posição vendida total de US$ 28,5 Bi, ancoradas parcialmente por linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, concedidas pelo BC, e que, habitualmente, tinham complementação de linhas concedidas por banqueiros externos.
O momento é adverso para os países emergentes e, naturalmente, para o Brasil, embora tenhamos o respaldo de deter um considerável volume de reservas cambiais que é o “nosso escudo”, mas que só se torna efetivo se usado adequadamente quando necessário, sem mais delongas visto que “estão lá para isto se e quando necessário”, caso contrário não teria sentido tê-las constituído. Este entendimento nem sempre é bem compreendido, pois a preocupação com a preservação das mesmas foge à racionalidade e há o entendimento de que existem somente para que o país as ostente mesmo nos momentos menos favoráveis.
Na realidade a venda de moeda efetiva retirada das reservas cambiais reduz a Dívida Pública, este é o mote, mas afinal elas são fruto do aumento ocorrido anos atrás para construí-las visto que o país não conquistou superávits fiscais para tanto, tão somente elevou a Dívida Pública captando reais que não tinha para poder ter as reservas cambiais.
Então, a lógica é de que preservando o volume necessário para lastrear os riscos em moeda estrangeira do país, em momentos de queda acentuada do fluxo cambial para o país e/ou ocorrência de aversão ao risco por investidores estrangeiros, cabe ao BC prover o mercado com a liquidez.
Num ambiente de normalidade, os bancos com posições vendidas em volume considerável, mas num ambiente de fluxo cambial positivo para o país e ausência de aversão ao risco, e juro interno e externo não tão estreitos, encontram no próprio mercado global meios de se autofinanciar e seguir a rotina com proteções adequadas derivativas.
Ocorre que o mundo global convive com um momento atípico que ocorre com o Brasil tendo pouca atratividade ao capital externo que ocasionou a queda do fluxo cambial já expressada, agora sofrendo aversão ao risco o que sugere continuidade de não ingressos, mas possibilidade efetiva de saídas, juro interno baixo versus juro externo que impacta no mercado de cupom cambial que por sua vez impacta na taxa cambial do mercado à vista provocando disfuncionalidade, etc....
Então, para que não ocorra disfuncionalidade o BC, gestor das reservas cambiais, deve fazer uso comedido, porém adequado das mesmas para promover o suprimento das necessidades do mercado, pois até o acesso às linhas externas por parte dos bancos pode ficar mais restrito e mais caro.
A formação da taxa cambial tem complexidade muito maior do que tão somente a decorrente da oferta e procura, mas os meandros operacionais sofisticados dos derivativos têm peso relevante e afetam diretamente o “fixing” das taxas.
É neste ponto que o BC tem que atuar, não para tentar reduzir a taxa formada pelo mercado, mas sim para corrigir as distorções na formação do preço decorrentes de fatores em desequilíbrio, que provocam o que se denomina disfuncionalidade.
O BC optou por fazer uma intervenção com “cartas marcadas”, ou seja, volume definido e procedimentos estabelecidos para leilões “casados” entre dólar à vista na oferta e demandando por swaps cambiais reversos parte do “hedge” do mercado futuro.
No câmbio a recomendação é sempre de que nada, principalmente intervenção, se anuncie antecipadamente, faz se e depois se explica, e também nem sempre na prática a teoria se confirma e pode ser que operações “casadas” não sejam totalmente adequadas, pois dólar à vista e swaps cambiais que são derivativos têm impactos técnicos conceitualmente sinérgicos, mas não são iguais.
Não se esperava que a taxa cambial fosse afetada na sua formação natural, mas certamente era esperado que ocorresse discreto impacto eliminando sinais de pressões de disfuncionalidade, ou seja retirando alguns pontos da taxa cambial, mas isto não está acontecendo, o que nos leva a crer que o mercado quer mais do que está sendo oferecido e provavelmente mais do que será oferecido até o dia 29, não necessariamente acompanhado de leilão de swaps cambiais reversos.
A maior evidência de que há pressão atípica sobre o preço do dólar frente ao real que o BC não está conseguindo expurgar com a intervenção é que a apreciação da moeda americana contra a nossa moeda nacional (real) ontem era mais do que o dobro comparado com as demais moedas emergentes.
Para esta sexta feira é aguardada a fala do Presidente do FED americano ao final do grande evento que reúne as autoridades financeiras americanas, mas já não se nutre expectativas quanto a cortes dantescos do juro americano, como conclamados como necessidade pelo Presidente Trump, e isto tende a “quebrar” o ânimo das bolsas americanas e fortalecer o dólar.