Mineração de Bitcoin. Quem nunca ouviu falar sobre esse termo? Normalmente, até mesmo aqueles que não participam do ecossistema cripto já escutaram sobre os impactos ambientais decorrentes dos altos gastos energéticos necessários na execução desse processo. E essa é uma pauta extremamente importante e válida, motivo pelo qual merece ser tratada de forma igualmente séria no intuito de afastar ruídos desinformativos.
Para quem não sabe, o processo de mineração demanda o emprego de computadores super potentes, com altíssimo poder computacional, para processar dados e tentar resolver equações matemáticas complexas por meio de tentativa e erro, que é o que gera esse gasto energético. No entanto, apesar da notoriedade dada ao tema pelas manchetes, a mineração de bitcoin hoje consome somente 88 TWh por ano, o que corresponde a 0.05% do consumo de energia global total, que se encontra em 173.340 TWh.
Mas o que será que dizem os mais recentes estudos sobre o tema? Resolvi analisar três fontes diferentes sobre o assunto:
DePaul University de Chicago
O estudo feito pela referida Universidade comparou a rede Bitcoin com a indústria do ouro e o sistema bancário. Constatou-se que a indústria do ouro consumiu cerca de 265 TWh por ano e liberou 145 Mt de carbono no ambiente. Já o setor bancário consome cerca de 700 TWh/ano enquanto libera 400 Mt de Carbono anualmente
Em contrapartida, o Bitcoin usou 113 TWh de energia por ano e liberou cerca de 70 Mt de carbono na atmosfera. Mas esse movimento tem mudado, e a rede Bitcoin vem caminhando pelo menos na redução desses números de carbono e na direção da adoção de medidas mais sustentáveis...E é disso que falaremos a seguir.
Estudo da Batcoinz
Um estudo que vem sendo conduzido pela Batcoinz, empresa focada em pesquisas na rede Bitcoin, também evidencia que esses números não são tão alarmantes assim. Pelo contrário:
Esse estudo produz um relatório que é constantemente atualizado à medida que novos dados sobre o tema são disponibilizados. Dentre eles, dados relacionados à mineração “carbon negative”- ou seja, cuja produção de energia beneficia o meio ambiente e pode ajudar na redução de carbono - e “carbono-neutral” - livre de carbono. Além disso, avalia a eficiência dos mineradores e a estimativa total do consumo energético.
Hoje, 1.74% da rede Bitcoin é alimentada por fontes de energia negativas em carbono. E isso é feito quase integralmente utilizando o metano liberado pela indústria de O&G, que anteriormente queimava o referido gás com uma eficiência de 92%, mas ainda liberava 8% na atmosfera. Quando esse metano que era liberado passa a ser usado na mineração de bitcoin, para cada 1 T de emissões, há aproximadamente 3.25 T removidas do ar.
Isso significa, em outras palavras, que esses poucos 1.74% da rede que usam fontes negativas em carbono, geram um impacto positivo de -4.2% na intensidade de emissão de carbono. O diagrama abaixo mostra essa evolução no sentido de fuga de fontes “carbon positive” em direção às fontes “carbon negative” e “carbon neutral”. Ou seja, combinando os percentuais de fontes neutras e negativas em carbono, hoje a rede alcança 62% de energia “emissão-zero”.
Relatório da Arcane Research
Esses dados podem ser analisados de forma integrada com uma pesquisa bastante interessante realizada pela Arcane Research, que se propôs a avaliar os impactos futuros desse consumo energético da rede Bitcoin. Para isso, agregou e cruzou algumas variáveis que influenciam nesse resultado, como:
- o preço do ativo
- as taxas de transação
- o percentual da receita dos mineradores gasto em eletricidade e
- o preço médio dessa eletricidade usada.
Ao levar esses fatores em conta, o estudo simulou três diferentes cenários onde o bitcoin poderá se encontrar no ano 2040. Como veremos abaixo, o resultado do consumo energético variará bastante a depender desse desempenho:
- Um cenário “bullish” onde o preço do bitcoin teria subido linearmente para US$ 2 milhões.
- Um cenário neutro onde o preço do bitcoin teria subido linearmente para US$ 500.000
- Um cenário “bearish” onde o preço do bitcoin teria subido linearmente para US$ 100.000
Digamos que o primeiro cenário se concretize e as taxas de transação permaneçam seguindo a média histórica. Nesse caso, a rede Bitcoin consumiria 894 TWh por ano, o que significaria um aumento de 10x em relação aos níveis atuais. Isso pode parecer bastante, mas quando comparamos percentualmente com o consumo energético estimado para o ano de 2040, significa apenas 0.36% desse total.
Ainda que esse seja um aumento expressivo e significativo, saindo dos atuais 0.05% para 0.36%, está longe das estimativas apocalípticas feitas por muitos críticos da rede. O relatório da Arcane Research compara, ainda, esse patamar com o de indústrias como a de produção de cimento, que consome 2% da energia global, por exemplo.
Além disso, a rede Bitcoin conta com um mecanismo chamado de “Halving”, que a cada 4 anos (aproximadamente) diminui as recompensas dos mineradores pela metade, ajudando a reduzir o consumo energético da mineração. Ou seja, enquanto o crescimento do preço do bitcoin incentiva mais atividade de mineração e maior consumo de energia, o halving tem o efeito oposto.
A conclusão é que o consumo de energia futuro do Bitcoin só crescerá se as pessoas passarem a olhar o Bitcoin como uma reserva de valor e meio de pagamento. Ou seja, o bitcoin só consumirá uma quantidade significativa de energia em 2040 se o preço subir para vários milhões de dólares e as taxas de transação estiverem razoavelmente altas.