BEZERRO - Os preços do bezerro estão em movimento de queda desde meados de 2021. A pressão sobre os valores vem sobretudo da maior oferta, resultado de avanços no uso de tecnologias para produção e, consequente, do aumento da produtividade. Neste caso, produtores, estimulados pelos elevados patamares de negociação da arroba bovina e pela aquecida demanda internacional pela carne brasileira, elevaram os investimentos no setor. Além disso, foi verificada uma maior retenção de matrizes entre 2020 e 2021 (vacas adultas e novilhas), justamente no intuito de se recuperar a produção. Tomando-se como base a série histórica deflacionada do Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (animal nelore, de 8 a 12 meses, Mato Grosso do Sul), iniciada em 2001, observam-se quatro grandes períodos de pico e de vale dos preços dos animais de reposição. E o momento atual é o que vem apresentando a queda mais intensa no preço em um menor período de tempo. O primeiro período de pico no preço do bezerro foi registrado em março de 2002, quando o Indicador atingiu R$ 1.812,40/cabeça. Posteriormente, houve uma forte queda no valor de negociação do animal, que chegou a 38,1% até o mês de janeiro de 2006, quando foi registrada a menor média real de preço do animal, considerando-se toda a série histórica do Cepea. Esse primeiro período de pico e vale teve, portanto, três anos e 10 meses.
O segundo período foi observado entre julho de 2008 e agosto de 2012 – quatro anos e um mês –, quando o Indicador do bezerro atingiu R$ 2.090,8/cabeça e caiu para R$ 1.551,28, respectivamente, ou seja, baixa de 25,8%. Já de maio de 2015 a setembro de 2018, a série de dados do Cepea mostra retração de 34,9% no preço do bezerro – em um período de três anos e quatro meses, com o animal jovem saindo de R$ 2.785,69 e caindo para R$ 1.814,86. Neste período atual, podendo ser caracterizado pelo quarto momento de pico e vale (este ressalta-se, ainda não definido), o bezerro apresenta expressiva desvalorização, de quase 38%, que vai de abril/21, quando, inclusive, o Cepea registrou o maior preço da série histórica – de R$ 3.330,03 –, ao atual R$ 2.070,35, que é a média de agosto. Nesse cenário, colaboradores do Cepea relataram em determinadas regiões do País a dificuldade de se repassar lotes completos de bezerros a preços maiores, seja em leilões, seja em vendas diretas entre pecuaristas.
BOI – O mês de agosto foi marcado pela forte queda nos preços de negociação do boi gordo. No estado de São Paulo, a arroba (Indicador CEPEA/B3) teve média de R$ 220,36, com expressiva baixa de 24,44% em um ano, sendo também a menor, em termos reais, desde junho de 2018, quando esteve em R$ 218,02. Ressalta-se que, no encerramento do mês, o Indicador CEPEA/B3 do boi passou a operar abaixo de R$ 200, o que não era verificado pelo Cepea desde maio de 2020, em termos nominais. A pressão sobre os valores do animal veio tanto da oferta quanto da demanda. No campo, além do já maior volume de boi gordo e de fêmeas prontos para o abate, pecuaristas, temendo novas desvalorizações, passaram a ofertar mais lotes de animais no spot nacional. Do lado da demanda, muitos agentes de frigoríficos reduziram o ritmo de aquisição de novos lotes, devido ao alongamento das escalas de abate e também aos menores preços pagos pelos chineses pela carne brasileira.
CARNE – O consumo brasileiro de carne bovina, muito atrelado à renda, está fragilizado desde o início de 2022, devido principalmente à alta da inflação. Em 2023, a demanda enfraquecida pela proteína se somou ao crescimento na oferta de animais disponíveis para o abate. Diante disso, os preços da carcaça casada do boi (junção do traseiro, dianteiro e da ponta de agulha), negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, registraram fortes quedas em agosto. No mês, o valor médio da carcaça casada bovina foi de R$ 16,21/kg, sendo expressivos 12,6% abaixo do de agosto de 2022, em termos reais. Trata-se, também, da menor média mensal desde setembro de 2019, quando a carcaça casada foi negociada a R$ 15,93/kg, em termos reais, no atacado da Grande São Paulo. E o traseiro – que concentra os cortes de maior valor agregado – é o que vem pressionando as cotações da carcaça casada ao longo de 2023. Desde o início deste ano, o valor médio do traseiro já recuou mais de 12%, em termos reais. Já o dianteiro bovino, que representa os cortes de menor valor agregado, também se desvalorizou, mas de forma menos intensa, apenas 1%. Os altos patamares da carne no mercado doméstico assustaram o consumidor nos últimos meses. No entanto, agentes do setor estão confiantes de que a demanda possa se reaquecer neste segundo semestre, fundamentados nos atuais menores patamares da carne e também na pequena reação na renda.