Aqui vamos nós. Abaixo da Coroa Sueca, do Rublo e do Dólar Canadense e acima da Coroa Tcheca. Hoje o Real é a quarta moeda mais depreciada em todo o mundo em relação ao dólar norte-americano. Isso deveria ser uma coisa boa para as contas externas do país, considerando a teoria econômica.
Deveria, mas provavelmente não será.
Como já foi mencionei anteriormente, o Brasil tem muito a corrigir para se tornar mais competitivo em termos globais e locais. A teoria diz que, quando a moeda local se desvaloriza frente a uma grande referência, ou seja, o dólar norte-americano, os termos de troca melhoram à medida que o valor dos bens cai para os compradores estrangeiros.
No entanto, as particularidades da economia brasileira trazem limites para a depreciação da moeda e os supostos ganhos de exportadores se tornam um peso inflacionário.
Burocracia, altos custos de infraestrutura, impostos e muitos outros fatores fazem do empreendedorismo em um ato heroico, por isso é fácil entender por que várias empresas desistem de fazer negócios no Brasil e as que fazem, tendem a procurar os melhores custos em termos de matéria prima e de bens de capital.
Essa busca leva necessariamente à importação e à China. Então, num certo sentido, mesmo sendo uma economia muito fechada, o Brasil depende fortemente de importações para suportar sua indústria.
Em uma entrevista recente, eu mencionei que a nossa cadeia alimentar é "intensivo em dólares" e que a desvalorização cambial vai bater duro seus preços. Também me perguntaram se a recente desvalorização das commodities não compensaria esta pressão e a resposta é NÃO. Os produtores estão ansiosos por uma oportunidade para aumentar os preços e o timing atual parece perfeito. Pelo menos para eles, os ganhos são reais.
Os dois fatores explicam em partes por que o Banco Central acompanha de perto a desvalorização do Real, uma vez que a luta contra a inflação cambial com o aperto monetário é uma das tarefas mais difíceis que existem. Elevar os juros funciona quando isso atrai o investimento estrangeiro e quando o consumo está criando inflação, caso contrário, só uma recessão quebra essa cadeia de preços.
Insisto que a resposta passa por uma reforma tributária e pela redução da burocracia para melhorar a competitividade do Brasil contra os nossos pares, mas provavelmente isso não acontecerá no curto ou médio prazo.
É muito desconfortável para ver o ex-presidente Lula mencionar que a carga tributária brasileira é baixa, comparando aqui com países como a França, a Alemanha e os Estados Unidos. Infelizmente, não estamos nem perto de ser um desses países e não oferecemos os mesmos "serviços" que eles fornecem com os impostos arrecadados.
Portanto, se esse é o pensamento do partido dominante no Brasil, mudanças concretas levarão muito tempo para acontecer, mais tempo do que o país pode esperar.