O Brasil voltou ao pódio. Temos a segunda maior taxa de juros real do mundo –9,53%, atrás apenas da Turquia. Para o olhar desatento, parece uma oportunidade irresistível de aproveitar todo título possível pós-fixado e IPCA+.
Para quem vive de análise macro e já viu esse filme outras vezes, é um alerta. Taxas tão altas denunciam instabilidade econômica: inflação persistente, gasto público crescente e um governo que prefere tributar mais do que cortar privilégios.
O que esses 9,5% realmente escondem
1. Tesouro IPCA+ é estrela, mas não é projeto de vida
Com juros reais elevados, os títulos atrelados à inflação ganham brilho. Mas embarcar demais em prazos longos ou num único indexador pode travar sua carteira. O Brasil muda de cenário rápido – e nem sempre avisa
2. Renda fixa longa: nem sempre sinônimo de segurança
Hoje, travar capital com Selic a 15% parece excelente. Amanhã, pode não ser. Todo dia é uma novidade com propostas de mudanças monetárias, anúncios de tropeços fiscais ou novas taxações. Rentabilidade projetada não é garantia, é exatamente o que o nome diz: projeção.
3. Brasil único é exposição, não estratégia
Concentrar 100% do patrimônio num país que altera regras ao sabor do vento é uma aposta temerária. Diversificar globalmente protege contra as imprevisibilidades domésticas – e, neste momento, é mais defesa do que ambição.
E quem tem caixa, deve aproveitar?
Com parcimônia, sim! Mas precisa saber onde está pisando. A ilusão do "ótimo rendimento" pode custar caro para quem ignora os riscos de concentração, crédito e liquidez.
Estratégia prática para quem pensa além da Selic:
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Combine Tesouro IPCA+, renda fixa bancária de vencimento curto, crédito privado e ETFs de renda fixa
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Evite títulos longos com baixa liquidez: o cenário pode virar antes do vencimento
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Exponha parte da carteira a ativos globais: ETFs internacionais, bonds, REITs
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Mantenha liquidez estratégica – para capturar oportunidades reais sem correr riscos desnecessários
Conclusão: rentabilidade alta em terreno instável
Juros reais de 9,5% podem parecer uma bênção. Mas no Brasil, são mais um sintoma da doença: descontrole fiscal, carga tributária crescente e economia emperrada.
Aproveite a renda fixa mas não opere no modo automático. É hora de entender o contexto – e lembrar que, num ambiente instável, até o que brilha pode ser a faísca de algo prestes a explodir.
Investir bem é saber quando o prêmio é justo e quando ele é só um risco bem maquiado – o negócio não é buscar o que paga mais, mas entender por que está pagando tanto.