No dia 16 de novembro foi anunciada a abertura do mercado mexicano para a carne suína brasileira.
Nesse momento, apenas a carne oriunda de Santa Catarina foi liberada, por questões relacionadas à febre aftosa. Quando a solicitação foi feita, Santa Catarina era o único estado livre de febre aftosa sem vacinação.
Atualmente, os demais estados da região Sul, juntamente com Acre, Rondônia e partes do Amazonas também possuem reconhecimento de áreas livres de febre aftosa sem vacinação de bovinos e bubalinos.
Quando falamos de vacinação contra febre aftosa, essa somente é feita em bovinos e bubalinos no Brasil. Como a doença afeta bovinos, suínos, ovinos e outros animais de casco fendido (biungulados), há relação direta do status sanitário dessas cadeias de produção para a aftosa.
Aqui cabe uma observação de que, embora a aftosa seja considerada uma zoonose (doença que pode ser transmitida de animais aos humanos), tais casos são raros, em condições específicas e sem gravidade.
Voltando ao comércio em si, a tabela 1 mostra os principais estados exportadores de carne suína in natura de janeiro a outubro de 2022.
Tabela 1. Evolução das vendas estaduais de carne suína in natura, janeiro a outubro de cada ano, em toneladas.
Obs.: Evolução dos dez principais exportadores em 2022 (jan-out).
Fonte: Secex / Elaboração: HN AGRO
A região Sul participou com 93,8% dos embarques brasileiros até outubro e todos os estados são reconhecidos como livres de aftosa sem vacinação, nacional e internacionalmente. Os quatro estados na sequência (MT, MG, MS e GO) deixarão de vacinar contra aftosa em 2023, para que haja atualização do status pelo MAPA e início do processo de reconhecimento internacional.
Espírito Santo, Distrito Federal e Tocantins também suspenderão a vacinação em 2023, mas são menos relevantes no contexto da suinocultura.
Demanda mexicana por carne suína
Segundo o USDA, a demanda doméstica mexicana por carne suína é de 2,48 milhões de toneladas equivalente carcaça (tec.) em 2022, com expectativa de aumento de 2,0% para 2023 (2,53 milhões de tec.).
Quando falamos de carne suína, não consumida por judeus e muçulmanos, a religião é algo que pode interferir no potencial de um mercado, mas não no mexicano.
Estima-se que em 2020 o país tinha 78% de católicos e 11,2% de cristãos evangélicos/protestantes, segundo a estratificação usada pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). A população é relevante, com 129 milhões de habitantes, segundo estimativa para 2022 da mesma fonte.
As importações mexicanas devem somar 1,25 milhão de tec. em 2022, com recuo sutil de 0,8% em 2023, para 1,24 milhão de tec. Em 2022, o país figura em terceiro lugar entre os importadores, com participação de 13,0% no nas compras globais, atrás de China e Japão.
Destinos da carne suína brasileira
De janeiro a outubro exportamos 836,6 mil toneladas de carne suína in natura, redução de 3,3% na comparação anual, mas o segundo melhor resultado para o período, tanto em volume, como em faturamento em dólares.
A figura 1 apresenta os principais destinos das exportações até outubro.
Figura 1. Participação das exportações de carne suína in natura em 2022, até outubro.
Fonte: Secex / Elaboração: HN AGRO
A China é o maior produtor e consumidor de carne suína. Nos últimos anos ganhou destaque também nas importações, em decorrência do surto de peste suína africana iniciado em 2018, que derrubou sua produção. No entanto, com a recuperação do rebanho suíno e produção de carne, as compras chinesas estão mais calmas.
Segundo o USDA, as importações do país devem somar 1,8 milhão de tec. em 2022, uma redução de 58,4%, frente ao volume de 2021 (4,3 milhões de tec.), mas ainda acima dos patamares de antes da crise sanitária.
Considerações
As exportações de carne suína in natura do Brasil para a China caíram 25,4% no acumulado até outubro, recuo bem menor que o projetado pelo USDA para as compras totais do país (58,4%) este ano. Em outras palavras, ganhamos market share, apesar de diminuição da quantidade vendida.
Outro fornecedor importante da China são os Estados Unidos, que destacamos aqui por terem grande relevância nas aquisições mexicanas e esses, por sua vez, nas vendas dos Estados Unidos. Com o fortalecimento do dólar, influenciado pela elevação das taxas de juros, suas exportações perdem competitividade.
Este é um ponto que beneficia nossas vendas, tanto em um cenário geral, como para o México especificamente.
De janeiro a setembro as vendas de carne suína dos EUA para a China caíram 61%, frente ao mesmo intervalo de 2021 e considerando todos os clientes, a redução foi de 14% (USDA/USMEF).
Para o México houve incremento de 15% na mesma comparação, mas a queda geral das exportações dos EUA e a elevação de preços ajudam a deixar o cliente mais “esperto” para buscar alternativas, o que inclui a liberação das compras do Brasil.
Sem dúvida, há todo um trabalho de negociação e mérito do governo brasileiro e associações, que vem sendo bem-feito, mas a inflação batendo à porta dos clientes colabora com a abertura de fornecedores como o Brasil, que possui qualidade e preços.
Segundo o FMI, a projeção de inflação para o México é de 8,0% em 2022 e 6,3% em 2023, frente a 3,4% e 5,7% em 2020 e 2021, respectivamente.
A inflação mundo afora tente a continuar abrindo portas para a nossas proteínas, possivelmente também para a carne bovina para Coreia e Japão, em um futuro não distante.