O ano passado começou com perspectivas não muito boas e acontecimentos um tanto que assustadores para bancos e o varejo. Mas para 2024 a expectativa dos especialistas é um pouco mais positiva, dado a melhora do ambiente macroeconômico.
Vamos lembrar que 2023 iniciou com o escândalo das Americanas (BVMF:AMER3). Pouco tempo depois mais notícias ruins com a quebra de instituições bancárias nos Estados Unidos e na Europa, gerando receio nas Bolsas de Valores de todo o mundo.
Por aqui, também tivemos notícias negativas com relação ao endividamento da Light (BVMF:LIGT3) e mesmo a badalada Magalu gerou desconfianças depois que veio à tona uma inconsistência contábil que colocou em dúvida os números apresentados pela varejista.
Além disso tudo atrapalhar, os bancos e o varejo brasileiro sentiram o impacto da Selic alta – manteve-se no patamar de 13,75% de janeiro a setembro -, o que dificultou a concessão de crédito e contribuiu bastante para um nível de inadimplência recorde. Cerca de 70 milhões de brasileiros deixaram de honrar suas dívidas, um fenômeno terrível para quem empresta dinheiro e para quem vende a crédito.
O varejo depende muito do crédito, como todos sabemos. Quanto aos bancos, existe uma lenda de que eles se dão bem em qualquer cenário. É uma meia verdade. Juros muito altos prejudicam pessoas e empresas e acabam limitando os empréstimos. Na prática, menos movimentação financeira é igual a menos lucro.
Para quem acredita que o varejo depende dos bancos mais do que os bancos dependem do varejo, vale lembrar que o rombo nas Americanas pegou Bradesco (BVMF:BBDC4), Santander (BVMF:SANB11) e outras instituições de surpresa, afetando a lucratividade deles. Não por acaso, o preço da ação do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro, está bem barato. Para efeito de comparação, a ação do Itaú, no dia 12 de janeiro, oscilava em torno dos R$ 33, enquanto a do Bradesco estava em R$ 15,87.
Agora sim, vamos falar de 2024. Bom, a taxa Selic está sendo reduzida desde setembro. Atualmente, se encontra em 11,75% ao ano. Ainda alta, porém, com viés de baixa. Quanto mais cair, melhor para os consumidores, que terão crédito mais barato e isso vai ser bom para a recuperação do varejo. Por essa razão, acredito que o momento seja bom para investidores adquirirem papéis de algumas empresas do setor porque a tendência é de valorização.
No caso dos bancos, a queda da Selic e a melhora do ambiente econômico também vão ajudar muito. Com juros menores, as negociações para resolver a inadimplência ficam mais atrativas e as instituições financeiras vão começar a recuperar parte considerável do crédito que parecia perdido. Claro que não é algo simples, mas qualquer melhora é bem-vinda. Mas não só isso, com o custo do dinheiro menor, projetos que estavam parados são tirados da gaveta. Nessa hora, os bancos tem papel central emprestando para quem vai empreender.
Itaú e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) costumam ser ótimas opções. Este último, inclusive, por causa dos dividendos que costuma pagar. Mas o Bradesco, cujo porte e importância não nos permite ignorá-lo, pode ser uma das melhores oportunidades do ano. Absorvido o impacto da exposição à dívida da Americanas e apoiado por um cenário econômico ligeiramente melhor, suas ações tendem a se valorizarem. Como o preço está muito abaixo dos concorrentes, é nele que estão as melhores possibilidades de alta rentabilidade para os investidores.
Não acredito que 2024 seja um mar de rosas, mas acho que será um pouco mais estável do que o ano passado. Além disso, os setores que mais perderam antes são justamente os que mais podem entregar ao logo dos próximos 12 meses.