Abaixo de 50 mil pontos
Quarta-feira mais monótona esta, não?
Bolsa meio parada, juros parados, dólar parado...
Sem grandes indicadores econômicos...
Noticiário corporativo de ressaca após a temporada de resultados do terceiro trimestre...
Espera um pouco! Vejo um agito ali no fundo.
Ahh, é a Petrobras.
E o Ibovespa volta para o vermelho.
O fundo do poço (ultrapofundo) de Petrobras
A novela (policial) da Petrobras tem desdobramentos diários, está pegando fogo.
Ela desrespeita essa lógica da morosidade, até porque, ainda não passou a ressaca dos resultados - para ela, a temporada de divulgação de balanços sequer existiu.
Mais um escritório estrangeiro entrou com representação contra os recibos de ações (ADRs) da estatal brasileira junto aos órgãos reguladores americanos. Por aqui, a notícia é que mais de 10 fundos de investimento locais se articulam para aderir à ação coletiva contra a empresa.
Quisera o investidor que a notícia fosse só essa...
Segundo informações do Valor, o rombo da corrupção pode chegar a R$ 20 bilhões drenados dos cofres da empresa, muito mais do que havia sido cogitado de início.
Não, o risco de insolvência de Petrobras não pode ser descartado - comento sobre isso logo abaixo, no M5M PRO.
Com a décima primeira queda nos últimos treze pregões,as ações preferenciais da estatal se aproximam da casa de R$ 10, queda de quase 50% em menos de dois meses, desde que a presidente Dilma as recomendou em cadeia nacional: “quem investir na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, está lembrado?
Há algumas questões relacionadas à estatal que - confesso - não consigo entender:
1) como Graça Foster ainda é presidente da companhia?
2) como alguém recomenda as ações, sem balanço e com visibilidade zero do tamanho do rombo?
3) o que as agências de classificação de risco estão esperando para rebaixar (novamente) o rating da estatal?
Não há questões de (1) credibilidade, (2) governança, e (3) proatividade em jogo?
O Ibovespa está caro ou barato?
A derrocada das ações da Petro leva junto o Ibovespa para dentro do buraco. Desde o início de dezembro já são mais de 8,5% de desvalorização para o principal índice da Bolsa brasileira.
Não seria demais?
O Ibovespa não está ficando barato abaixo de 50 mil pontos?
Não podemos fazer essa avaliação sob mera inércia, ou comparando o Ibovespa ao histórico do Ibovespa, sem qualquer lastro na realidade (que, sim, muda).
Trocando em miúdos, o preço da Bolsa está variando, mas o “produto” da Bolsa também está variando.
Para endereçar esse dilema, vemos a coisa sob uma perspectiva de múltiplos. Exemplo clássico: preço das ações/lucro das empresas. O famoso P/L...
Para provar que há, sim, uma mudança de produto, e o preço precisa se ajustar a ele, sugiro uma olhada em slide da palestra do ótimo gestor Pedro Cerize (Skopos Investimentos) na palestra de 5 anos da Empiricus:
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Sob essa ótica, chegamos à conclusão que o Ibovespa não está caro nem barato.
O lado positivo
As margens das empresas estão em um ponto historicamente baixo.
Isso é bom ou ruim?
É um argumento para potencial valorização.
Caso as margens das empresas se recuperem, e os lucros consequentemente subam, teremos uma compressão significativa do múltiplo de P/L.
Álgebra básica, meu caro
Ou, o Ibovespa ficaria barato em termos de múltiplos, para um “produto” que melhorou.
Não deixa de ser uma opcionalidade interessante.
O lado negativo
O problema é que há sempre um outro lado. Há uma ameaça que não pode ser descartada - e levaria a opcionalidade para outro lado, completamente distinto.
Se há ajuste fiscal programado para 2015, para manter o gasto público no mesmo nível de 2014, ainda assim teríamos um déficit primário de 0,2% do PIB. Ou seja, para chegarmos ao 1,2% da meta fiscal prometida, precisaríamos achar 1,4% do PIB...
Aonde? Em carga tributária a mais.
A questão foi destacada pelo maior gestor de investimentos do Brasil, Luis Stuhlberger.
Quem vai pagar essa conta?
Aumento de tributação não costuma ser algo benéfico às margens das companhias... pelo contrário.