Existe salvação para os preços do cobre no ano-novo? A resposta curta parece ser “não muita”. Trata-se, no entanto, de uma questão que vale a pena ser feita, em vista da enorme importância da commodity no mundo.
O metal vermelho, que já foi usado regularmente como “termômetro” da economia mundial em razão da sua presença em tudo, desde cabos de telefone até turbinas de força – ao ponto de ser chamado de Dr. Cobre –, está cada vez mais se parecendo com o “filho adotivo esquecido” das commodities.
Desde o início de 2019, o ativo ganhou apenas 1%, fechando pregões em alta e em baixa com praticamente a mesma proporção.
Um call de venda dos analistas técnicos
No fechamento da terça-feira, o contrato de cobre norte-americano com vencimento em março na divisão de COMEX da Bolsa Mercantil de Nova York fechou a US$ 2,6560 por libra (lb), sendo negociado próximo à média móvel de 20 dias e bem abaixo do alvo dos comprados no metal, a US$ 3 por lb.
Analistas técnicos do Investing.com indicam “Venda” desde a média móvel de 50 dias, a US$ 2,725, até a média móvel de 200 dias, a US$ 2,85.
Por outro lado, o petróleo bruto, outra importante commodity industrial do mundo, saltou quase 20% desde as mínimas da véspera de Natal, deixando para trás a importante marca altista de US$ 50 por barril já na primeira semana do ano-novo.
Goldman também vê queda no curto prazo
Uma das principais instituições de previsão financeira de Wall Street, o Goldman Sachs vê os futuros de cobre negociados em Londres a US$ 6.100 por tonelada métrica em três meses e US$ 6.400 em seis, uma queda em relação às previsões anteriores de US$ 6.500 e US$ 7.000, segundo um relatório da Bloomberg nesta semana. O alvo de 12 meses foi mantido em US$ 7.000, segundo a mesma instituição.
O Goldman citou a “notável desaceleração” da economia chinesa, mas a expectativa é que as autoridades de Pequim incentivem a expansão no segundo semestre, a qual pode reanimar os preços tanto do cobre quanto do alumínio, outro importante metal comum.
Em 2018, os futuros de cobre caíram quase 20%, a primeira desvalorização anual em três anos. De fato, praticamente todos os metais comuns negociados em Londres e Nova York terminaram o ano com perdas de dois dígitos, apesar de a China, principal compradora de commodities, interromper sua batalha tarifária com os EUA em 1 de dezembro, em meio a expectativas de um iminente acordo entre as duas superpotências econômicas.
Tratativas comerciais não ajudaram o cobre
Mesmo com a retomada das negociações de alto nível entre EUA e China nesta semana, o cobre não consegue subir, apesar de os Estados Unidos serem um dos maiores fornecedores de sucata de cobre para o país asiático.
O fraco price action atual se deve parcialmente às manchetes do fim do ano passado sobre o excesso de produção que impactou o sentimento do mercado,como a alta de 7% na produção, divulgada por um importante produtor de cobre do Chile em novembro, atingindo 540.720 toneladas, seu maior nível desde 2005, graças a teores mais elevados de minério e processos mais eficientes.
Mas dados compilados pela Fitch Solutions, unidade de previsão do grupo de classificação de crédito Fitch, mostram que estatísticas de oferta e demanda do cobre podem melhorar nos próximos dois anos.
Os próximos dois anos podem ver uma aceleração da demanda e um declínio da produção
A agência de classificação prevê que a demanda mundial do cobre aumentará de 23,6 milhões de toneladas em 2018 para 29,8 milhões até 2027, um crescimento anual de 2,6%.
Apesar da enorme produção chilena em novembro, a agência afirma que a expectativa era que os balanços de cobre refinado tivessem registrado um déficit de 247.000 toneladas em 2018, com uma provável redução da oferta até 2021.
O aumento da demanda será impulsionado pela crescente produção de veículos elétricos (VE) e por uma perspectiva de crescimento positivo da economia global. Um ônibus elétrico contém 300 kg de cobre e nove toneladas por megawatt de energia eólica.
Com base na análise da Fitch Solutions, a demanda de cobre refinado superará a produção e haverá déficit de mercado por pelo menos alguns anos. A Fitch especificamente prevê que o equilíbrio mundial de cobre refinado registre um déficit de 247.000 toneladas em 2018, com abastecimento insuficiente até 2021.
Depois de 2021, pode haver um pico de oferta novamente
Além disso, a agência espera que haja uma diminuição do déficit mundial de cobre e que o excesso de oferta retorne à medida que os produtores do metal investem em novos projetos. A previsão da agência é que a China impulsionará o crescimento da produção mundial de cobre, elevando a produção de 8,8 mnt, em 2018, para 11,4 mnt até 2027, com uma média de crescimento anual de 3,1%.
O Chile também não vai querer perder preços possivelmente mais fortes para o cobre nos próximos dois anos.
A expectativa é que a Índia surja como uma nova estrela no cenário mundial de produção de cobre, apesar do fechamento da fundição de cobre Sterlite, da Vedanta Resources (NS:VDAN), por questões ambientais. A Fitch Solutions prevê que a produção indiana de cobre refinado aumentará de 925.000 toneladas em 2018 para 1,8 milhões até 2027, com uma média de crescimento anual de 7,3%.
O grupo afirma ainda que a oferta norte-americana também excederá a demanda, apesar de o pacote de infraestrutura prometido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ter ficado abaixo das expectativas do mercado.