O cobre atingiu máximas recordes nos últimos cinco dias, devido ao bloqueio do Ocidente à economia de Moscou, após a invasão na Ucrânia. Isso gerou uma euforia de compras em todas as commodities sobre as quais a Rússia tem influência ou que simplesmente enfrentam restrição de oferta.
De fato, os estoques de cobre nos armazéns certificados pela Bolsa de Metais de Londres (LME) registraram forte queda nos últimos dias, alcançando 69.825 toneladas na contagem de segunda-feira, nível mais baixo desde 2005.
Com isso, da mesma forma que o petróleo, níquel, paládio e trigo dispararam até níveis recordes ou picos que não eram vistos desde a Grande Recessão de 2008, o cobre não ficou para trás e também embarcou na alta de todas as commodities por causa do conflito russo-ucraniano.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Mesmo assim, havia uma diferença fundamental entre o cobre e o resto dessas commodities: a influência russa – ou melhor, a falta dela.
Como ressaltou a Bloomberg em uma matéria na segunda-feira, a Rússia não é uma grande produtora de cobre, pois responde por apenas 3,5% do seu fornecimento no mundo. Em outras palavras, o cobre está bastante “isolado da Rússia”.
Não é como o níquel, que tem 7% da sua oferta nas mãos dos russos e registrou fortíssima valorização na segunda-feira de 94%, fazendo-o alcançar o recorde de US$56.041 na LME.
Nem no contexto russo o cobre tem o status do paládio, metal empregado como catalisador automotivo e que tem 40% da sua oferta controlada pelos russos. O metal alcançou máximas recordes por dois dias consecutivos na Comex de Nova York, tocando o pico de US$3417 por onça na segunda-feira.
Porém, ainda assim o cobre se juntou ao fervor das commodities na última semana, com o conflito russo-ucraniano intensificando “as chamas dos mercados de metais comuns já bastante esticados”, justamente no momento em que os estoques do cobre afundavam, afirmou Wenyu Yao, analista da ING, em uma entrevista à Reuters.
A derrocada da oferta de cobre na LME ocorreu porque o Chile, responsável por mais de um quarto da sua produção mundial, registrou sua menor produção para janeiro desde 2011, de acordo com números oficiais divulgados pela Bloomberg na segunda-feira.
A expectativa é que a produção chilena de cobre se recupere e atinja níveis similares aos registrados no ano passado, de acordo com o presidente da associação de mineradoras do país.
A maior fornecedora de cobre do mundo teve uma queda de 7,5% em sua produção em janeiro de 2022, devido à menor qualidade do minério e à estiagem, entre outras razões.
Mas, em alguns casos, os fatores que dificultam a produção são temporários, disse Diego Hernandez, ex-CEO da Codelco e Antofagasta (LON:ANTO), que agora dirige a Sonami, grupo que congrega as mineradoras chilenas.
“Neste ano, devemos ver o mesmo que no ano passado ou talvez menos”, ressaltou Hernandez em uma entrevista à Bloomberg na quinta-feira.
Então, qual seria o efeito de uma melhora na produção do cobre até os níveis vistos em 2021?
E, o mais importante, como isso afetaria a posição do metal vermelho como um indicador da economia, principalmente se a crise russo-ucraniana durar o bastante para gerar uma recessão devastadoramente maior e mais duradoura do que a de 2008?
Em uma publicação no MarketWatch, na segunda-feira, o articulista Mark Hulbert disse que o “Dr. Cobre" – como o metal é conhecido, por sua suposta capacidade de diagnosticar a saúde da economia – conseguiu prever algum dos pontos de virada do mercado acionário dos EUA entre 1984 e 2020. Mas ele também notou que os preços do metal ficaram aquém dos movimentos do S&P 500 em diversas ocasiões nesse período.
Minha expectativa é que, mesmo que a produção chilena não se recupere drasticamente nos próximos 12 meses, a demanda de curto prazo do metal pode não ser robusta, a menos que o enfrentamento no Leste Europeu seja totalmente contido.
Além disso, a disparada da inflação, que já está nas máximas de 40 anos nos EUA, e os aumentos de juros planejados pelos bancos centrais mundiais devem afetar o crescimento, mesmo que não gerem uma recessão ao estilo de 2008 ou pior.
O consumo de cobre pela China, maior importadora mundial do metal, tem sido um tanto suspeita desde o início de 2022.
“O setores com maior demanda de metais na China continuarem arrefecendo em dezembro (e) os investimentos nos setores de infraestrutura e imóveis ainda estão encolhendo”, disse Carsten Menke, analista do Julius Baer, em um relatório de meados de janeiro.
Até mesmo a alta de 9,6% no cobre bruto na China nos primeiros dois meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2021, deveu-se a um atraso inesperado na chegada de carregamentos importados, disseram analistas.
E muito disso ocorreu antes da invasão da Rússia na Ucrânia em 24 de fevereiro.
Assim, o Dr. Cobre pode ser um desses importantes indicadores a serem observados de perto nos próximos meses, na medida em que os sinais de uma recessão causada por uma guerra prolongada podem se manifestar primeiro no metal vermelho.
O contrato do cobre com entrega em maio na Comex de Nova York atingiu sua máxima recorde em 2 de março a US$4,7050 por libra-peso, antes de prosseguir com a alta e tocar máximas históricas por quatro dias consecutivos que retestaram US$5,0395.
O analista técnico de commodities Sunil Kumar Dixit disse que a mais recente mudança de preços no cobre “não alterava sua tendência de alta principal, que continua se movendo dentro de um canal ascendente”.
Ele disse ainda:
“Embora as recentes correções indiquem falta de gatilhos positivos, os preços devem se mover de lado com reações mistas até que ganhem energia para romper a resistência de US$5,14 e testar US$5,46, referente ao nível de 161,8% da extensão de Fibonacci”.
Ele disse que o estocástico e o Índice de Força Relativa para o cobre davam suporte para o movimento de alta.
“Por enquanto, nossa expectativa é que os preços se movam entre US$4,65-5,00”.
Mas Dixit também alerta que uma falha do metal em romper e se sustentar acima da marca psicológica de US$5,00, seguida de um fechamento diário abaixo de US$4,75, poderia ser vista como um sinal de exaustão.
Ele disse que uma fraqueza abaixo de US$4,75 poderia jogar os preços do cobre para o nível de US$4m60, que coincide com a metade da Banda de Bollinger e as áreas de suporte horizontal de US$4,445 e 4,3, que são pontos de aceleração para baixo.
“Três fechamentos diários e um semanal abaixo de US$4,30 é o necessário para mudar a tendência de médio prazo para a baixa, com alvos em US$4,04 e 3,50".
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.