Há apenas três anos, o PIB mundial crescia 3% ao ano, mas os preços do cobre registravam queda de mais de 20%. O Dr. Cobre ganhou esse apelido por sua capacidade de diagnosticar qualquer enfermidade na economia, mas essa desconexão saltava aos olhos.
Agora, os preços do cobre estão se aproximando das máximas históricas, enquanto a economia global luta para se livrar do coronavírus. Aqui também persiste a desconexão.
Mas os mercados estão comemorando a previsão de que o mundo sairá mais cedo da crise causada pela pandemia. Por isso, o Dr. Cobre está fazendo jus à sua fama de conseguir prever o caminho da economia.
Os contratos futuros do cobre para três meses na LME, Bolsa de Metais de Londres, superaram US$ 9.000 por tonelada métrica na segunda-feira pela primeira vez em nove anos, aproximando-se da máxima histórica a cerca de US$ 9.945 cravada em abril de 2011, com os investidores apostando que a restrição de oferta crescerá com a recuperação mundial.
Na COMEX de Nova York, o cobre com entrega em maio tocou US$ 4,22 por lb, seu nível mais alto desde a máxima de agosto de 2011 a US$ 4,50 na esperança de que o pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão do governo Biden para combater a Covid-19 gerará uma “reflação” na economia norte-americana.
Reflação, inflação ou estagflação?
A reflação é uma política fiscal ou monetária concebida para expandir a produção, estimular os gastos e conter os efeitos da deflação, que geralmente ocorrem após um período de incerteza econômica ou recessão.
Também é usada em algumas ocasiões para descrever a primeira fase de recuperação econômica após um período de contração. O dólar geralmente se enfraquece em períodos assim, impulsionando os preços das commodities nas chamadas “operações de reflação”.
Alguns acreditam que a reflação na economia americana não passa da velha e boa inflação que está mostrando as caras após quase um ano de baixa. Há inclusive economistas que preveem um cenário de “estagflação”, isto é, inflação persistentemente alta combinada com elevado desemprego e demanda estagnada na economia.
Independente do caso, a previsão para os preços do cobre é de alta forte.
Cobre pode atingir US$ 10.000 na LME e US$ 5 na COMEX
Max Layton, diretor de pesquisa em commodities na EMEA para o Citigroup, afirmou à Bloomberg na segunda-feira que a lista de fatores altistas para o cobre era “extremamente elevada”:
“Diversos fatores altistas ganharão forma nos próximos meses e, por isso, acreditamos que o metal atingirá em breve a casa dos US$ 10.000".
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
O analista técnico Sunil Kumar Dixit, de Kolkata, Índia, prevê que o cobre na COMEX atingirá US$ 5 por onça, ultrapassando o recorde de Nova York a US$ 4,625 estabelecido em agosto de 2011. Como explica Dixit:
“O cobre na COMEX superou as resistências a 3,30, 3,30 e 4,10 sem maiores dificuldades. Essa força sugere que o metal vermelho tem totais condições de testar a máxima histórica de 2011 a 4,63. Se isso acontecer, o que é muito provável, os investidores ficarão de olho no alvo de US$ 5".
Além dos aspectos técnicos do cobre na COMEX, o índice de Força Relativa Estocástico apontava para cima nos gráficos diário, semanal e mensal, confirmando a leitura altista das principais médias móveis e abrindo espaço para uma continuação da corrida de alta, segundo o analista.
Dixit, contudo, alerta que o cobre pode registrar uma correção, mas o recuo não deve se prolongar.
“Considerando o outro lado da moeda, um fechamento diário e semanal abaixo de 4,07 pode ser visto como o primeiro sinal do início de uma distribuição e de um movimento corretivo, com alvo na média móvel exponencial de 10 semanas a 3,76 e de 50 dias a 3,68.”
Tsunami de compras gera corrida de alta nas commodities
E não é apenas o cobre que está disparando. Quase todas as commodities, como petróleo, ouro, prata e milho, estão registrando um tsunami de compras gerado pela grande oferta de dinheiro fácil em busca de retornos mais altos, já que os bancos centrais ao redor do mundo seguram os juros em níveis historicamente baixos para estimular a recuperação frente à Covid-19.
No caso do cobre, o rali já ocorre há bastante tempo.
Geralmente visto como um indicador da economia global, o metal disparou quase sem parar já faz quase um ano, graças às compras da China, que saiu dos lockdowns da Covid-19 antes do que o resto do mundo.
Mas, na última década, a desconexão entre o metal vermelho e a economia foi tão grande a ponto de gerar questionamentos sobre a alcunha de Dr. Cobre do tipo: Dr. Quem?
Apesar da crise financeira de 2008-2009, o produto interno bruto mundial cresceu 29% de forma composta no período de 2000-2009, ao ritmo anual de 2,9%.
Os preços do cobre, por outro lado, iniciaram janeiro de 2000 a 86 centavos por lb na COMEX e encerraram o mês de dezembro de 2009 a US$ 3,33. Trata-se de um impressionante crescimento de 287%. Claramente, o cobre nessa época não era apenas um reflexo da economia: ele se adiantou ao movimento.
De volta aos holofotes?
A trajetória do cobre em 2000-2009 não foi a mesma nos dez anos seguintes.
Enquanto o PIB mundial cresceu praticamente ao mesmo ritmo da década anterior, expandindo-se de forma composta 30% entre 2010 e 2019, o cobre tomou uma trajetória distinta.
Os preços do metal na COMEX iniciaram janeiro de 2010 a US$ 3,33 por lb encerraram o mês de dezembro de 2019 a US$ 2,83. Trata-se de uma queda de 15%.
Uma análise do comportamento dos preços na década passada ainda mostra que o movimento do cobre foi afetado por temores de desaceleração econômica que não se confirmaram. A intensa guerra comercial promovida pelo governo Trump contra a China, maior compradora de cobre do mundo, também afetou a demanda e os preços do metal nos últimos anos do período.
Independente do caso, no espaço de apenas duas décadas, o cobre saiu da condição de metal industrial líder do mundo para o segundo plano.
Estamos vendo uma reversão dessa tendência agora?
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. Como analista do Investing.com, ele apresenta visões distintas e variantes divergentes de mercado.
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