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Com Ucrânia em Chamas, Ouro se Aproxima de US$2000; Mais Altas pela Frente?

Publicado 04.03.2022, 16:20
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O preço do ouro negro atingiu picos de 14 anos por causa das sanções à Rússia, mesmo que nenhuma dessas medidas tivesse como alvo o petróleo. As plantações douradas de trigo da Ucrânia também alcançaram máximas que não eram vistas desde 2008.

Mas o ouro propriamente dito ainda não conseguiu atingir o brilho de US$2000 que seus investidores tanto almejam, e ainda há dúvidas de quando ele finalmente chegará lá.

O rali de quinta-feira no petróleo e no trigo evocou imagens da crise financeira de 2008, que marcou a última vez em que as duas commodities tocaram máximas acima de US$116 por barril e US$12 por bushel, respectivamente.

Enquanto a maioria das commodities registrou forte valorização nesta semana, o ouro, porto seguro que deveria disparar na esteira dos temores políticos e financeiras gerados pela guerra russo-ucraniana, novamente parou antes do alvo de US$2000 que os investidores vêm tentando alcançar desde as máximas recordes de agosto de 2020.

Ouro à vista diário

Gráficos: cortesia de skcharting.com

Desde que o combate na Ucrânia começou em 24 de fevereiro, o ouro futuro atingiu o pico de US$1.976,50 por onça na Comex de Nova York, contra a máxima histórica de US$2.121,70.

“O ouro parece estar se firmando acima do nível de US$1900, mas ainda lhe falta um catalisador capaz de alçá-lo ao nível de US$2000”, disse Ed Moya, analista da plataforma online de negociação OANDA, após o metal amarelo fechar o pregão de quinta-feira na Comex cotado a 1.935,90.

Moya disse que o ouro continuava respaldado pelos fluxos em busca de segurança, diante do avanço da ofensiva russa no sul da Ucrânia e tratativas de cessar-fogo postergadas para a próxima semana.

“A incerteza em torno do impacto da guerra está afetando o sentimento dos investidores na Europa, o que vem dando suporte ao ouro", afirmou o analista. Ele disse ainda:

“O ouro ainda parece ser uma opção de investimento atraente, mas outras commodities claramente estão superando seu desempenho. As preocupações com o crescimento mundo podem acabar se tornando temores de uma recessão, servindo de catalisador para o ouro subir mais; isso, porém, pode levar mais tempo para acontecer”.

A questão é: quanto tempo?

Ouro à vista semanal

Ole Hansen, diretor-chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank, disse que tanto o ouro como o dólar estão batalhando para ver quem fica com o status de porto seguro, enquanto o rublo russo afunda.

Apesar de a disparada de US$130 do mês passado ter feito o ouro adentrar o território sobrecomprado, ele continuava firme rumo ao patamar de US$2000, e “não há muitos obstáculos no caminho de novas máximas históricas”, disse Hansen em comentários feitos à Kitco.

“Ouro preservou o suporte crítico quando os mercados começaram a precificar cinco elevações de juros nos EUA e quando o dólar estava tocando máximas de quase dois anos", afirmou David Madden, da Equiti Capital, também comentando no site da Kitco.

“O conflito na Ucrânia foi um importante catalisador para o ouro, mas o mercado já estava em tendência de alta antes disso. Acredito que seja apenas uma questão de dias para que o ouro alcance US$2000”.

Mas o Citigroup (NYSE:C) afirma que a disparada do ouro por causa do conflito russo-ucraniano pode ter vida curta, com base na história.

Da Guerra das Malvinas, em 1982, aos ataques de 11 de setembro, as disparadas de preços do ouro ocasionadas por crises que envolvem ação militar ou terrorista tendem a ser temporárias, disse o Citigroup em um comentário na quinta-feira reproduzido pela Bloomberg.

“As máximas provocadas por motivos geopolíticos tendem a ser fugazes. Em média, os preços do ouro se firmam imediatamente após um evento de risco e devolvem os ganhos no período de um mês”, declarou Suki Cooper, analista do Standard Chartered (LON:STAN), à Bloomberg.

“Ao longo de 2022, nossa expectativa é que o ouro reverta com base no desempenho dos rendimentos reais”.

Mas Aakash Doshi, diretor-chefe de pesquisa em commodities do Citigroup nas Américas, ressaltou que eventos geopolíticos podem se traduzir em choques macroeconômicos, como o embargo do petróleo na década de 1970, a crise da dívida soberana na América Latina no início dos anos 1980 e a crise financeira global do fim dos anos 2000, dando sustentação ao ouro.

“Na medida em que a crise russo-ucraniana aumenta a inflação das commodities, intensifica os gargalos nas cadeias de fornecimento e desacelera o crescimento, principalmente na Europa, os preços do ouro devem contar com o suporte de maiores prêmios de risco e da reação mais amena (dovish) dos bancos centrais”.

No mês passado, o Citigroup elevou sua perspectiva de curto prazo para o ouro e reiterou a possibilidade de alta de 30% nos preços, que poderiam registrar um novo recorde de US$2100 por onça neste ano. Mesmo assim, os preços poderiam cair para cerca de US$1800 se houver uma desescalada na situação na Ucrânia, declarou o banco. O ouro à vista era negociado a US$1.945,38 na madrugada desta sexta-feira em Cingapura, acumulando uma alta de 6% em 2022.

Os fluxos direcionados a fundos negociados em bolsa por causa da guerra na Europa e as adversidades econômicas também podem ajudar a sustentar os preços do ouro, observou a Bloomberg. As alocações de ETFs que investem em ouro pode aumentar 600 toneladas neste ano, se as preocupações com o crescimento dos EUA, possivelmente levando a uma alta de preços até US$2350 por onça, de acordo com o Goldman Sachs (NYSE:GS). A entrada de fluxos para fundos também ficou um pouco acima de 100 toneladas até agora, segundo dados da Bloomberg.

No Investing.com, nossa tese sugere que o ouro precisa de um grande evento na invasão da Rússia na Ucrânia para fazê-lo superar a marca de US$2000. E esse evento pode ser a queda de Kiev, capital ucraniana. Como ser humano, essa é a pior coisa que eu gostaria de ver. Mas, como analista, considero que esse seria um catalisador capaz de fazer o ouro alcançar US$2000, ou um evento paralelo de igual magnitude.

Estamos falando de algo como um salto de 9% ano a ano no índice de preços ao consumidor nos EUA em fevereiro, após o crescimento de 7,5% de janeiro, que já foi a leitura mais alta para a inflação desde 1982.

Ouro à vista - 4 horas

Além dos fundamentos, os aspectos técnicos do ouro também sugerem a possibilidade de um rompimento de US$2034, segundo meu colaborador favorito de análises técnicas de commodities, Sunil  Kumar Dixit.

“O ouro vem sendo negociado dentro de uma ampla consolidação iniciada em 24 de fevereiro, quando testou US$1974 e atingiu a mínima de US$1879”, declarou Dixit, estrategista-chefe técnico do portal skcharting, ao analisar os preços físicos do ouro.

“Desde então, o metal encontra-se consolidado e podemos ver a formação de um triângulo simétrico se desenvolvendo no gráfico de quatro horas, com uma altura de US$95”.

O período de acumulação gerou um rompimento do padrão de triângulo simétrico quando o preço avançou sobre US$1939, disse Dixit.

“É comum ver um reteste do ponto de rompimento dessas formações antes da próxima pernada de alta. Nosso próximo alvo seria 1939 mais 95, totalizando US$2034. Nesse movimento, pode ser que vejamos paradas em US$1954, 1974 e 1998.”

“O ouro vai alcançar US$2034 e depois recuar até a região de US$1834-1800 se não houver uma continuidade do ímpeto altista. Esse movimento de US$200-230 pode ocorrer neste mês ou no próximo.”

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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