Com a tão aguardada alta de juros do Fed fora do caminho e bombas novamente sendo lançadas contra a Ucrânia, o que os investidores de commodities fazem? Correm atrás da alta dos preços – pelo assim tem sido no petróleo.
Os preços do barril saltaram 3% na janela asiática de negociações desta segunda-feira, ampliando a alta de 4% da semana passada. O mais recente fervor no petróleo ocorreu em meio ao acirramento das tensões geopolíticas, com as forças ucranianas tentando resistir aos intensos ataques russos.
O petróleo também ganhou um impulso nos fundamentos, na medida em que os principais produtores da Opep+ relataram dificuldades em atingir o volume previsto em suas cotas.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), composta por 13 membros liderados pela Arábia Saudita, além de 10 países produtores conduzidos pela Rússia no âmbito da aliança da Opep+, deliberadamente reduziu o abastecimento do mercado por meses, a fim de alçar os preços desde as mínimas da pandemia. Agora, eles afirmam que os quase dois anos de pouco ou nenhum investimento em produção desde o início da Covid dificultava seus esforços de extrair mais barris.
O petróleo do tipo Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial, subia US$3,19, ou 3%, a US$111,12 por barril durante o pregão em Cingapura, nesta madrugada. O Brent se desvalorizou quase 9% nas últimas duas semanas.
Já o barril de West Texas Intermediate (WTI), referência nos EUA, caía US$3,41, ou 3,3%, para US$106,50. Assim como o barril britânico, o WTI cedeu cerca de 9% nas últimas duas semanas.
Se o WTI se firmar acima de US$109,33 nesta semana, pode ser que alcance US$111,50, segundo Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico do site skcharting.com. “O rompimento e a sustentação acima de US$109,33 são essenciais para atingir US$111,50 e eventualmente US$116", complementou.
“Agora estamos aguardando os desdobramentos geopolíticos”, afirmou Jeffrey Halley, analista da plataforma de negociação on-line OANDA para Ásia-Pacífico.
“Mesmo que a guerra na Ucrânia termine amanhã, o mundo enfrentará um déficit estrutural de energia, graças às sanções russas.”
Halley disse ainda:
“Estamos agora à mercê dos eventos geopolíticos. Embora eu não descarte um teste abaixo de US$100 caso haja um acordo na Ucrânia, acredito que qualquer queda para as mínimas de US$90,00 no petróleo encontrará bom suporte.”
A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, declarou, na segunda-feira, que não havia chance de que as forças ucranianas se rendessem na cidade portuária de Mariupol, no leste do país.
Diante dos poucos sinais de arrefecimento do conflito, o foco voltou a ser a capacidade do mercado de substituir os barris russos afetados pelas sanções.
"O mercado continua preocupado com as interrupções no abastecimento, e os dados já sugerem que isso esteja acontecendo", disseram analistas do ANZ em nota.
A Opep+ ficou aquém da sua meta de produção em mais de 1 milhão de barris por dia em fevereiro, segundo a Reuters, com base em três fontes da aliança. No âmbito do pacto, os 23 países produtores deveriam aumentar a produção em 400.000 barris por dia (bpd) a cada mês, reduzindo os profundos cortes realizados em 2020.
Os dois países da Opep que têm a capacidade de aumentar instantaneamente a produção – Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – continuam tirando proveito da situação.
Apesar da corrida de alta no petróleo e em um grande número de commodities, os preços do ouro praticamente não se mexeram, negociados um pouco abaixo do fechamento de sexta-feira.
O contrato futuro mais ativo do ouro na Comex de Nova York registrava queda de US$4,65, 0,2%, a US$1.924,65 por onça. Na semana passada, o contrato futuro de referência do ouro se desvalorizou 2,8%, maior queda desde a semana encerrada em 19 de novembro.
“A perda de US$1.920 pode empurrar o ouro para o nível de US$ 1.907, abaixo do qual os ursos podem ganhar força extra e causar mais perdas no metal, em direção a US$ 1.895 e expondo US$ 1.845-1.820 na próxima semana”, disse Dixit.
Halley, da OANDA, afirmou que os mercados de risco estão “precificando o pior da retirada do Fed do caminho e expectativas de progresso na resolução do conflito russo-ucraniano”, embora tenha admitido que “ambos os fatores ainda podem gerar volatilidade”.
Os observadores do mercado continuarão monitorando os desdobramentos da guerra na Ucrânia, e ainda é possível que notícias gerem turbulência no mercado na próxima semana. Os esforços de diplomacia estão em andamento, mesmo com os ataques russos às cidades ucranianas.
O presidente dos EUA, Joseph Biden, deve participar de uma reunião da Otan na quarta-feira, assim como de uma cúpula da UE no meio da semana, em Bruxelas, no intuito de cimentar a coesão novamente estabelecida com os aliados europeus. O Ocidente está arriscando “arrumar briga” com a China e a Índia, que não condenaram a invasão da Rússia na Ucrânia.
Na sexta-feira, Biden alertou o mandatário chinês, Xi Jinping, de que poderia haver "consequências" a um apoio material de Pequim à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A China não condenou as ações da Rússia, embora tenha expressado preocupação com a guerra. O vice-ministro de relações exteriores da China, Le Yucheng, disse, no sábado, que as sanções do Ocidente contra a Rússia era “ultrajantes”.
O Federal Reserve aprovou, na semana passada, um aumento de 25 pontos-base em sua reunião de 15 a 16 de março, seu primeiro aumento desde o início da crise da Covid-19 em março de 2020. O banco central americano também alertou que poderia haver até mais seis aumentos de juros este ano, com base no número de reuniões do calendário de seu Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
Após a decisão de juros da quarta-feira, o governador do Fed, Christopher Waller, um dos membros mais rígidos do Fomc, disse que dados econômicos dos EUA estavam “gritando” por elevações de meio ponto percentual nos juros nos próximos meses para segurar a inflação.
O presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou, após o aumento de juros da semana passada, que o banco central seria "ágil" ao tentar equilibrar o mais rápido crescimento econômico em quase quatro décadas com a inflação, que também vem crescendo em seu ritmo mais frenético em 40 anos. O Produto Interno Bruto dos EUA cresceu 5,7% no ano passado, após uma contração de 3,5% em 2020, seu maior avanço desde 1984. A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), subiu 5,8% em 2021, maior nível desde 1982. A tolerância do Fed para a inflação é de meros 2% ao ano.
Waller, que vinha pressionando por uma política monetária mais rígida e maior disciplina fiscal para domar a inflação, afirmou que os riscos da guerra na Ucrânia o levaram a apoiar colegas mais “dovish” no Fomc na votação do aumento moderado dos juros na reunião de março.
Mas declarou que poderia se posicionar a favor de uma série de elevações de 50 pontos-base nas próximas reuniões do Fomc, para uma política monetária inicialmente mais rígida e capaz de exercer maior impacto na contenção da inflação.
“No futuro, esse será um problema – chegar a 50 – nas próximas reuniões”, afirmou Waller, antecipando uma resistência dos membros do Fomc.
“Mas os dados sugerem que estamos indo nessa direção. Eu realmente prefiro ser mais rígido no começo com as elevações de juros. Vamos fazer isso, em vez de ficar apenas prometendo”.
O presidente do Fed, Jerome Powell, deve se pronunciar na segunda-feira sobre as perspectivas econômicas durante a conferência anual da Associação Nacional para a Economia Empresarial, menos de uma semana depois que o Fed deu início ao que deve ser um ciclo agressivo de aperto da política monetária.
Na quarta-feira, Powell participará de um painel virtual de discussão em uma cúpula organizada pelo Banco de Compensações Internacionais.
Várias outras autoridades do Fed também devem se pronunciar durante a semana, como o presidente do Fed de Nova York, John Williams, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, o governador do Fed, Christopher Waller, e o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.