Olá, pessoal! O que é, o que é? Tem muito mais volatilidade do que IRB (SA:IRBR3) e subiu no histórico recente mais do que a Magazine Luiza (SA:MGLU3)? Tem mais risco político que Petrobras (SA:PETR3; SA:PETR4)) e muito mais incertezas do que Cogna (SA:COGN3)? Sim, estou falando do Bitcoin, a criptomoeda mais famosa do mundo. No artigo de hoje, analiso esse ativo e o que podemos esperar dele até o final deste ano.
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Antes de mais nada, é muito importante ressaltar que a ciência ainda não possui instrumentos para determinar o futuro e, por exemplo, em qual patamar o Bitcoin estará no final deste ano. Mas o conhecimento científico permite, sim, avaliar o grau de incerteza de um determinado investimento com base em premissas.
Rodei uma análise para estimar a incerteza e patamares aos quais o Bitcoin pode chegar ao final de 2021. Para isso, utilizei como premissa o histórico passado dessa criptomoeda: em outras palavras, trabalhei com a hipótese de que o que os retornos obtidos no passado refletem a mesma distribuição de probabilidade dos retornos que ocorrerão ao longo deste ano. Utilizei dados diários e a técnica conhecida na literatura como simulação de Monte Carlo via bootstraping, onde simulo caminhos aleatórios para o Bitcoin até o final do ano. É o futuro simulado muitas vezes com base não exatamente no que aconteceu (porque o passado jamais se repetirá), mas sim numa distribuição de probabilidades que respeita o que aconteceu. Trata-se de uma técnica bastante útil em muitas situações de análise e tomada de decisão.
Lembro também que não tenho a menor pretensão de acertar a rentabilidade do Bitcoin de hoje ao final do ano. Não sei fazer isso. Faço, inclusive, uma analogia com o lançamento do dado, onde o valor esperado é 3,5 (média tomada dos números de 1 a 6) e jamais poderemos esperar que o dado resultará neste valor, até porque não há nenhuma face com o resultado 3,5. Aliás, nem mesmo podemos afirmar que valores mais próximos a 3,5 (3 e 4) têm mais chances de ocorrência porque qualquer dos seis resultados têm a mesma probabilidade. No entanto, se eu simular o dado muitas vezes, perceberei claramente que diferentes resultados (de 1 a 6) podem aparecer e com uma probabilidade bem semelhante. Percebam que a simulação não nos ajuda em nada a cravar o resultado do dado, mas nos dá base fundamental para analisar a incerteza e os cenários possíveis. E é isso que farei aqui.
ENTENDENDO A INCERTEZA E OS DIFERENTES CENÁRIOS PARA O BITCOIN AO FINAL DO ANO
As análises a seguir partem do preço do Bitcoin ao final da última quarta-feira (7 de julho) e todos os retornos considerados estão em reais, ou seja, para investidores brasileiros. Os dados foram cedidos pela Quantum Finance. Por uma análise mais robusta, trabalhei com quatro janelas históricas como premissas para a distribuição de retornos de hoje até o final do ano: cinco anos, um ano, seis meses e três meses. Os histogramas falam por si e são apresentados a seguir.
Para complementar a análise dos histogramas acima, apresento abaixo diferentes percentis baseados em cada período histórico utilizado. Para entender como os valores na tabela abaixo devem ser interpretados, tomemos como exemplo a linha do histórico de cinco anos e percentil 10%: há 10% de chances da rentabilidade do Bitcoin até o final do ano ser -17% ou abaixo disso (e, consequentemente, 90% de chances de ser acima desse valor). Por sua vez, a mediana representa a rentabilidade que separa 50% de chances abaixo e 50% de chances acima deste valor.
Perceba que o histórico dos últimos cinco anos é o mais favorável à criptomoeda em análise e isso se explica por sua alta explosiva ao longo desse período. Mesmo considerando o histórico de apenas um ano, as perspectivas são otimistas daqui ao final do ano. Mas, note que mesmo nesses cenários, há alguma chance do Bitcoin cair consideravelmente. Os cenários construídos com base nos seis meses recentes são menos otimistas na alta e apontam cenários de quedas um pouco mais acentuadas e com maiores probabilidades. Já os gerados pelo histórico ainda mais recente (três meses) são pessimistas e revelam menos de 5% de chances para uma alta do Bitcoin até o final do ano. Esse resultado é natural tendo em vista o que aconteceu com a criptomoeda nos últimos três meses.
Perceba o quanto foi importante observar os cenários com base em diferentes períodos históricos. Uma visão baseada no período mais longevo pode causar um otimismo exagerado, mesmo que ela ainda contemple a possibilidade de rentabilidades negativas. Já a visão de curto prazo pode excessivamente afugentar investidores e impedi-los de capturar uma recuperação da criptomoeda. Os extremos, em geral, não são bacanas. O correto é analisar diferentes cenários baseados em premissas distintas, compreender o risco oriundo da incerteza e tomar uma decisão de investimento adequada ao seu perfil e objetivos. Claro que sempre com cautela, responsabilidade e entendimento de que um cenário adverso ao imaginado pode se realizar.
Espero realmente que esse artigo seja útil para vocês. Ressalto que nenhuma análise que faço configura qualquer tipo de indicação de compra ou venda de um ativo. Aproveito e convido cada um de vocês a me seguir nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Muitas pessoas me procuram com dúvidas rápidas no Instagram e no LinkedIn: tenho imenso prazer em ajudar. Afinal de contas, o valor da vida que levas se mede pelo impacto que causas na vida das pessoas. E somos eternamente responsáveis por tudo aquilo que cativamos. Penso e levo isso comigo sempre.
Um forte e respeitoso abraço a todos vocês. E comentem abaixo, pois isso é muito importante para mim!
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.
** Os dados para essa análise foram gentilmente cedidos pela Quantum Finance.