O Bitcoin (BTC) é um ativo, de certa forma, ainda muito novo, não tendo assim experienciado muitos eventos políticos e econômicos, tornando o imprevisível, já que não se pode ter muito embasamento em sua curta história. A cripto de Satoshi Nakamoto lançada em 2008 pode ser usada de inúmeras maneiras, tendo sua principal funcionalidade como investimento a longo prazo, mas podendo ser usada em transações internacionais, moeda de troca, trading e também reserva de capital.
A cripto não é comumente usada da última maneira, já que o dólar americano (USD) e o iene (JPY) são utilizados para essa função em momentos políticos instáveis. Em momentos similares as pessoas com um contexto social e financeiros mais favoráveis, como no Brasil durante o plano cruzado (1986) e cruzado novo (1989), compravam dólar para fugir da crise inflacionária. Entretanto, o acesso ao câmbio de dólar nem sempre é simples para a maioria, principalmente para os que vivem um regime totalitário. O bitcoin se torna uma alternativa direta para esse problema, sendo usado para esse propósito, por exemplo, em 2015 na crise econômica da Grécia, quando muitos gregos a fim de fugir de uma inflação descontrolada e de um confisque bancário, depositaram suas economias na cripto. A moeda é usada principalmente para contornar hiperinflações como as que a atingem a Venezuela, Zimbábue e Coreia do Norte, sendo esses países, respectivamente, as 3 maiores inflações do mundo, segundo a Trading Economics.
A Venezuela vem, desde 2013, passando por uma crise política primeiro com Hugo Chaves, e agora com Nicolás Maduro. Atualmente vivendo uma ditadura, o país enfrenta uma situação delicada em sua economia, levando os seus nativos a se refugiarem em países que fazem fronteira, principalmente o Brasil. Fechando empresas, deteriorando competitividade e produtividade do país, o governo venezuelano de Maduro conta com inflação de 2.688.760% no ultimo ano, de acordo com o Banco Central Venezuelano (BCV). Além da hiperinflação, a Venezuela passa por sanções e ordens que o BCV estabelece, principalmente sobre bancos privados, chegando ao ponto do governo prender 11 executivos e suspender por 90 dias as atividades do Banesco (principal banco privado do país), por "ataques especulativos ao bolívar", segundo o G1 em maio de 2018.
Uma ditadura, seja ela de esquerda ou de direita, leva a uma completa desvalorização da economia, como a moeda brasileira nos anos de 1980 e 1985 quando atingiu uma inflação de 110% e 242%, respectivamente, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Naquele período, Brasileiros que tinham um maior acesso a meios econômicos, faziam um câmbio para o dólar para fugir da inflação descontrolada, entretanto, isso não é plausível na Venezuela dado o seu atrito direto com o governo americano, o controle bancário e censura que ele impõe. O bitcoin, por ser uma moeda descentralizada, tem sido uma ótima solução para tal problema. Uma alternativa para quem vive em um regime totalitário, é comprar BTC com bolívar e converte-lo novamente apenas quando for para uso imediato. Segundo o economista venezuelano Carlos Hernandez, em sua entrevista a NewsBTC, ele obtém o bolívar por 15 minutos, tempo necessário para realizar a transferência. A partir do momento que o economista recebe a moeda venezuelana, ele a converte para BTC pelo site "localbitcoin.com". Por mais volátil que seja o ativo, ainda não se compara a desvalorização de 3,5% por dia que o bolívar sofre. Esse é um processo muito mais barato e simples em relação ao USD, já que isso custa uma fração mínima de Bitcoin e pode ser realizado em questão de minutos.
O artigo de Nakamoto referente a moeda em 2008 quando lançado, compunha algumas justificavas para a criação da tecnologia, entre elas a oportunidade de que usuários e pessoas comuns pudessem usufruir de um livre comércio, com nenhuma interferência estatal ou bancária, sendo a cripto uma afronta ao modelo econômico atuante. Entre máximas e mínimas, topos e fundos, a moeda vem realizando com plenitude o que Nakamoto propôs, permitindo que venezuelanos não enfrentem a miséria, e proporcionando um pouco de liberdade a países que vivem um regime totalitário. Como afirmado por Alex Gladstein, diretor de estratégias da Human Rights Foundation (HRF), em sua entrevista ao NewsBTC, o Bitcoin apresenta-se como uma ferramenta valiosa para pessoas que vivem sob uma ditadura, por ser um meio de troca resistente a censura.