Os mercados financeiros parecem dar por certo que a Covid está sob controle e a pandemia está acabando.
Gráficos: cortesia David Woo
Nas últimas seis semanas, os investidores começaram a comemorar o recuo acentuado de novos casos de Covid em todo o mundo, retirando dinheiro das ações de fabricantes de vacinas, como Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) e Moderna (NASDAQ:MRNA) (SA:M1RN34), e alocando os recursos no que vem sendo chamado de “ações da reabertura”, como restaurantes, hotéis, opções de lazer, etc., setores que se beneficiarão do retorno do mundo ao que lembramos como velho normal.
Isso me parece ser um equívoco.
Os seres humanos são otimistas por natureza. A maioria das pessoas, ávidas pelo dia em que a vida voltará ao normal, quer acreditar que a ciência está triunfando sobre a doença. E a maioria dos investidores, até mesmo grandes institucionais, são apenas humanos.
Eu também sou, mas prefiro adotar uma postura contrária. Eu gosto de encontrar erros na lógica de outras pessoas. De fato, construí minha carreira em Wall Street apostando contra visões populares equivocadas.
E acredito que o mercado esteja ignorando as duas lições mais importantes que aprendemos das pandemias até agora:
- A Covid-19, assim como todos os vírus de RNA, estão propensos a mutações. A variante responsável por cada uma das últimas quatro ondas era mais virulenta e contagiosa do que as anteriores. Parece-me razoável assumir que se trata apenas de uma questão de tempo para vermos novas variantes resistentes ao efeito imunizante das vacinas.
- Ainda que cerca de 40% da população mundial esteja totalmente vacinada, a eficiência da vacina decresce com o tempo. Durante o verão, Israel, primeiro país do mundo a atingir a taxa de vacinação de 50%, viu a pandemia ressurgir, forçando o país a adotar novos bloqueios. O que se viu foi que 60% dos pacientes hospitalizados estavam totalmente vacinados, em determinado momento.
A experiência israelense nos mostra que a eficácia das vacinas, especialmente a da Pfizer, recrudesce após 5-6 meses. Se tomarmos isso como certo, é razoável concluir que, neste momento, a maioria dos americanos totalmente vacinados encontra-se agora desprotegida contra o vírus.
Isso deve ser objeto de preocupação. A chegada do clima frio no país faz com que as pessoas passem mais tempo em ambientes fechados, ao mesmo tempo em que o início da temporada de gripe pode enfraquecer seu sistema imunológico.
Cabe dizer ainda que os americanos estão baixando a guarda: as escolas se reabriram e a exigência de uso de máscara já caiu na maioria dos estados americanos. Ainda mais importante é o fato de que a FDA, agência de vigilância sanitária dos EUA, decidiu recomendar uma dose de reforço da vacina apenas para pessoas com idade acima de 65 anos, ao contrário de Israel, que está reimunizando todas as pessoas acima de 12 anos. No Reino Unido, a dose de reforço está disponível para pessoas com mais de 50 anos.
Eu espero estar errado, mas acredito que o mercado está subestimando o risco de que veremos, em breve, uma quinta onda da Covid nos EUA.
As evidências sugerem que a dinâmica com a qual estou preocupado não é hipotética. De fato, minha análise mostra que, em média, os estados americanos com uma parcela relativamente baixa da população imunizada nos últimos 5 meses estão vendo um número maior de novas infecções do que os estados com a maior parte da sua população imunizada no mesmo período.
No próximo mês, a menos que a FDA mude sua diretriz de dose de reforço, a maioria dos estados americanos verá o nível da sua população totalmente vacinada convergir para os níveis vistos em Montana, Wyoming e Alasca atualmente.
Reforçando minha visão, estamos vendo um aumento de casos de Covid inclusive nos estados com maiores taxas de vacinação. Vermont, por exemplo, que possui a maior taxa de imunização do país, está testemunhando uma alta no número de casos, com um número crescente de pessoas infectadas totalmente vacinadas. Na Europa, na semana passada, o Reino Unido, Alemanha, Holanda e Dinamarca, países com taxas de vacinação mais elevadas do que os EUA, estão vendo o número de infecções crescer.
Como, então, se proteger contra uma quinta onda da Covid? Os títulos de renda fixa devem ter melhor desempenho do que as ações, na medida em que o Federal Reserve pode decidir postergar o tapering, isto é, a retirada de estímulos. No entanto, diante do aumento contínuo das pressões inflacionárias, não estamos em um ambiente favorável a esses títulos. Se eu estiver certo a respeito da quinta onda, o ativo que se beneficiará mais claramente são as ações da Pfizer.
Não só sua vacina se mostrou eficaz em adolescentes, como a FDA está atualmente avaliando a solicitação da companhia para usar seu imunizante em crianças com idades de 5 a 11 anos, num ciclo de duas doses.Sem falar que uma quinta onda pode aumentar a procura pela terceira dose de reforço.
Além disso, autoridades de saúde (e o mercado) podem se convencer de que será necessário aplicar uma dose de reforço anual. Tudo isso pode ajudar a dar suporte à Pfizer, principalmente porque a ação está precificando um forte recuo de receita em 2022.
Acredito que a recente correção da Pfizer acabou gerando uma oportunidade atraente de entrada. Tenho feito essa recomendação para assinantes do meu blog.
Aviso relevante: Eu recentemente comprei a ação a US$42.