Enfim, o verdadeiro culpado pela crise
Lava Jato e seguidos escândalos de corrupção? Nova matriz econômica? Gastos desenfreados do governo? Rombo fiscal?
Nada.
Segundo a Rede Brasil Atual, da Editora Atitude (investigada na Lava-Jato) o culpado pela crise é o seguinte...
"Nós temos clareza de que a crise, até 2014, tão difundida como uma crise terminal da economia brasileira, não encontra respaldo nos dados econômicos. O cenário econômico foi contaminado pelo cenário político. Então, é uma crise totalmente fabricada, de certa forma, pelo terrorismo econômico do mercado”.
Como bons “terroristas de mercado”, vestimos a carapuça.
Lembrando que de 23 economias emergentes, a brasileira conseguiu a proeza de ficar em 22o lugar em termos de performance do mercado nos últimos 12 meses. Sim, o Brasil conseguiu ganhar da Grécia!
Impressionante o nosso poder de influência, não?
Comportamento estranho
Segunda-feira, nada mais tradicional do que o glorioso Virado à Paulista e, antes dele, o relatório Focus.
Como de praxe: mais inflação, menos crescimento... Mediana das estimativas agora sugere retração de 2,8% do PIB neste ano e 1% em 2016.
E caminhamos a passos largos para a década perdida: recuo do PIB entre 2015 e 2016, da ordem de 3,8%, já é superior ao crescimento acumulado de 2012 a 2014, de 3,7%.
Essa é a manchete.
Agora vejamos as entrelinhas...
Como explicar o comportamento um tanto “comportado” das estimativas de inflação para 2016?
Onde está o impacto do dólar nos preços? A inércia inflacionária?
A explicação para os gráficos acima se encontra, sobretudo, no gráfico abaixo:
Depois do expediente de represamento de preços administrados para se reeleger, o governo efetuou este ano o “desrepresamento”, como visto acima, com enorme impacto sobre os índices inflacionários em geral...
O mercado então supõe que a inflação tende a convergir mais para perto da meta a partir de 2016, com o pressuposto de que o grosso desse desrepresamento já passou.
Isso está correto?
Ou o terrorista mercado está mais uma vez sendo excessivamente benevolente (e um tanto ingênuo) em suas suposições para os rumos da economia?
O tarifaço elétrico
Sim, o mercado pode estar subestimando o impacto dos administrados e da inflação em 2016.
Vejamos...
O governo ainda precisa tampar um buraco de aproximadamente R$ 65 bilhões na conta de energia, que precisa ser financiado pelo consumidor final (devido às indenizações das concessões das geradoras, ativos de transmissão existentes em 2000, ajuda às hidrelétricas, entre outros).
Tudo isto se deve à MP579, aquela mesma que levou Dilma à TV para anunciar uma redução histórica nas tarifas de energia... que fez as tarifas caírem 18% em 2013, mas a subirem 18% já em 2014 e aproximadamente 40% este ano.
Considerando a conta que ainda precisa ser paga, entre reajustes e passivos o rombo faria com que aumento ficasse na casa de outros 40% para 2016.
Isso vai depender de questões técnicas, como discricionalidade do regulador e da adesão das geradoras à proposta do governo para compensação por risco hidrológico (ainda em negociação).
Mas a possibilidade é real e este número poderia aumentar dependendo da hidrologia. O que poderia ajudar, infelizmente, seria um agravo da recessão, visto que a demanda por energia tem caído para -4% em 2015.
Ou seja, melhor não contar com essa possibilidade...
Vai mais?
Considerando o peso da eletricidade nos preços administrados, um incremento dessa magnitude (de outros 40% para 2016) representaria impacto adicional da ordem de 1 ponto percentual sobre o IPCA no ano seguinte.
Isso, sem contar a necessidade de pagar a conta da Petrobras (SA:PETR4), potencialmente aumentando preço dos combustíveis seja via tributos adicionais (necessidade de arrecadação do governo) ou via preços (tampar o rombo do meio trilhão de dívida crescente da estatal).
Até tu Hans?
Lá fora está todo mundo preocupado com a China, o que não é propriamente uma novidade - longe disso. Não podemos ignorar, no entanto, o fato novo vindo da Europa.
No Velho Continente, o fato macroeconômico é a reeleição de Tsipras na Grécia, e o fato corporativo é o escândalo da Volkswagen.
Isso, até o escândalo da Volkswagen se tornar fato macroecômico...
Explico.
A indústria automotiva alemã é responsável por cerca de 15% da atividade manufatureira do país, e aproximadamente 3% do PIB e do emprego local.
Para uma economia cujo crescimento foi de apenas 1% no ano passado, não seria surpresa que escândalo de tais proporções pressione a economia alemã para próximo de um quadro recessivo.
“Tais proporções”?
Somente a título ilustrativo: até então o problema da VW atinge 11 milhões de veículos fraudados, renúncia de presidente e provisões iniciais da ordem de US$ 7 bilhões somente na empresa. Isso, sem contar o espraiamento do escândalo para outras companhias.
O potencial desdobramento macro é que uma economia alemã com queda de arrecadações e diante de potencial recessão técnica naturalmente não tem o mesmo punch para resgatar vizinhos problemáticos.
A renda fixa mais volátil do mundo
Considerando esta segunda-feira, já temos oito dias seguidos de paralisação ou suspensão dos negócios com títulos do Tesouro Direto.