O movimento de venda dos “comprados” no mercado futuro rompeu a estratégia do BC de ancorar a taxa do câmbio relativamente depreciada ante o dólar com a oferta de swaps cambiais reversos, e isto acabou por promover forte apreciação do real, e o fato provoca novas ilações em torno do comportamento do preço da moeda americana.
O entendimento que temos desenvolvido até anteontem era de que o BC atuando com foco na liquidez do mercado à vista, com venda de dólares efetivos das reservas brasileiras, combinado com a oferta casada de swaps cambiais reversos, vinha ancorando a formação do preço da moeda americana conduzindo-a em níveis acima do que se poderia considerar ponto de equilíbrio, e, com isto evitar disfuncionalidades no mercado de câmbio e no cupom cambial, e, desta forma, não ter situação adversa para consolidar a redução da taxa SELIC, coerente com os mais recentes indicadores inflacionários, com foco no estímulo ao setor privado para investimentos e retomada da atividade econômica.
Contudo, o movimento dos “comprados” reduzindo suas posições no mercado de dólar futuro causou estranheza no primeiro momento, parecendo ir frontalmente contra os objetivos pontuais do BC.
Entretanto, por enquanto pura ilação, pode ser que no momento em que os BC´s mundiais buscam alterar suas políticas de juros e QE´s e que entre tantos objetivos econômicos, tem à margem a busca da fragilização das suas moedas para aumentar suas competitividades no mercado internacional, criando portanto perspectivas de valorização das moedas emergentes, o movimento dos posicionados “comprados” de “desmonte” de posições compradas esteja procurando se antecipar aos fatos, que acredita factíveis.
Mas para que isto “feche” como reação e não seja contraditória é preciso agregar a hipótese de que, ao momento em que a grande maioria de BC´s reduzirá suas taxas de juros, aqui incluindo o FED americano, possa estar sendo colocada no nosso mercado a hipótese do BC/COPOM não reduzir a taxa SELIC na próxima rodada, decisão tida como quase certa, e com isto focar a viabilização neste novo cenário com afastamento das taxas de juros internas e externas e, então, a partir dos novos parâmetros os investidores estrangeiros especuladores retomarem a prática de efetivar operações de “carry trade” em busca de rentabilidade, e com isto ocorrer uma melhora substantiva no fluxo cambial positivo.
A rigor, “lato sensu”, a tese de que uma taxa SELIC menor é indutora ao investimento pelo setor privado é frágil, e, nem mesmo que poderia estimular o consumo, visto que o repasse das reduções não tem sinergia com as taxas de juros ofertadas no Brasil para o consumo de varejo. Então, embora houvesse a expectativa de uma “grita geral” do mercado financeiro, no primeiro momento, posteriormente com as consequências focadas haveria a retomada do otimismo no mercado financeiro, com o Brasil retomando seu papel no cenário global de país rentistas e especulativo.
Por enquanto, até melhor entendimento do movimento de forte “venda” por parte dos “comprados” no mercado futuro de dólar, não se pode descartar hipóteses factíveis que possam estar determinando a postura reversiva por parte dos mesmos.
A cena econômica e financeira do mundo global está muito complexa e, embora os emergentes não sejam as “estrelas” não podem ficar inertes e precisam utilizar suas estratégias defensivas para poder evitar os impactos dos embates em que todos procurar reerguer suas atividades econômicas, e neste jogo, câmbio e juros serão sempre instrumentos prevalecentes, afora outros incentivos.
Afinal, não é adequada a ideia de que o BC fique fornecendo liquidez ao mercado à vista e ofertando swaps cambiais reversivos por longo período, devendo ocorrer uma solução “natural de mercado” para que este quadro de intervenção do BC seja superado.
Á margem do embate China-USA o Brasil precisa encontrar meios e formas de superar suas carências pontuais.
O país tem uma deficiência na atualidade, baixa atratividade para o investidor estrangeiro pela fraca atividade econômica e, perda também de interesse do investidor estrangeiro rentista e especulador pela inviabilidade de realização das operações de “carry trade” que lastreiam os recursos para o fluxo cambial para o país.
A primeira não há como superar no curto prazo, embora o país esteja na direção certa, mas de forma absolutamente lenta, mas a segunda pode ser superada com estratégia fazendo a opção pelo que é mais oportuno para o país no momento.
A cena global é no momento um grande tabuleiro de xadrez, cabendo a cada país mexer suas pedras dentro da sua conveniência mais imediata para se adequar ao convívio com a situação atual.
Assim, não reduzir a SELIC pode ser uma opção melhor para o Brasil “vis-a-vis” suas demandas mais imediatas.
Como temos dito, nesta fase “cada dia é um dia” e é preciso observar sempre, nenhuma hipótese pode ser descartada.