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Conselho a investidores: alterar uma estratégia não significa que você errou antes

Publicado 14.09.2023, 06:05

Quando mudamos algo, isso significa dizer que estávamos errados até então? A resposta a essa pergunta é “não”! Claro que em muitas ocasiões, mudar algo significa corrigir um erro do passado, mas não necessariamente. Há situações em que simplesmente devemos mudar porque a estratégia ótima de outrora não é mais a melhor possível agora. E isso acontece muito no contexto de investimentos.

Muitos investidores teimam em não alterar suas estratégias porque não querem “dar o braço a torcer”, ou seja, não querem aceitar que suas estratégias estão erradas. Isso é um erro gigantesco que, na maioria das vezes, nasce do nosso ego. Com o passar do tempo, recebemos novas informações e essas novas informações fazem com que a estratégia ótima possa ter se alterado. Nesse caso, mudar não significa afirmar que estávamos errados, mas sim que estamos atentos ao que acontece e sabemos refletir isso de maneira adequada às nossas estratégias de investimento.

Para ilustrar o que quero dizer de maneira didática, recorro ao famoso “jogo das portas”, que, aliás, abre o filme “21 (Quebrando a Banca)”, com o genial Kevin Spacey. Suponha que eu te ofereça três portas fechadas, das quais em apenas uma delas há uma Ferrari: ela será sua se você acertar (e, note: eu sei qual é a porta da Ferrari). Nas outras duas portas, há famigerados bodes que você não deseja, de jeito algum, levar para a sua casa.

Você escolhe qualquer uma das três e vou chamar a que você escolheu de porta 1. Nesse momento, para dar suspense, resolvo abrir uma porta atrás da qual o prêmio não está e deixo, além da sua, apenas outra porta fechada (chamaremos esta de porta 2).

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Problema de Monty Hall – Wikipédia, a enciclopédia livre

Como etapa final do jogo, te pergunto: agora que abri a porta 3 com um bode, você desejaria trocar sua opção para a porta 2 (pois a terceira porta já está aberta e sabe-se que ali a Ferrari não está) ou prefere se manter com sua opção original (porta 1)? Observe que a sua decisão inicial por qualquer uma das portas não pode ser considerada errada porque qualquer delas tinha a mesma probabilidade de conter o prêmio. Mas, e agora, com a nova informação de que o bode não está na porta 3, será que você deve alterar sua estratégia e, portanto, mudar de porta da 1 para a 2? Pense.

Aplico esse jogo em sala de aula há mais de 20 anos (o conheci num curso de Probabilidades no IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada, onde estudei por anos). No início, o jogo servia de pano de fundo para eu explicar Teoria de Probabilidades. Mas gosto tanto da profundidade dele que passei a utilizá-lo em diferentes contextos, desde investimentos até em áreas como gestão e liderança. Voltemos a ele.

Em geral, vejo 3 tipos de reações quando eu abro uma porta sem a Ferrari e ofereço a opção de troca de porta. Um primeiro grupo de pessoas (Grupo I) não titubeia e, muito rapidamente, responde dizendo que não quer trocar. Um segundo grupo (Grupo II) para e reflete por algum tempo, concluindo que não vai trocar de porta. Por fim, o Grupo III é aquele que para e pensa por algum tempo, tal como o Grupo II, mas resolve trocar de porta ao final da reflexão. E você: em qual grupo se encaixou?

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Para matar sua curiosidade, afirmo: a decisão correta é trocar de porta, pois isso simplesmente dobra as suas chances de ganhar a Ferrari. Ao escolher a porta 1 (ou qualquer outra), sua chance de acertar é de 1/3 (33%), enquanto sua chance de errar é de 2/3 (67%). Quando abro a porta 3 sem a Ferrari, simplesmente concentro os 2/3 de chances na porta 2, porque a sua chance de ter acertado de primeira não mudou, de forma alguma: continua sendo 1/3. O Grupo III parou para refletir e percebeu isso, trocando de porta.

O brilhante Daniel Kahneman (Nobel de Economia) popularizou em seu livro “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar” os sistemas 1 e 2 do nosso cérebro. O sistema 1 é automático, rápido e inconsciente: é a parte preguiçosa do nosso cérebro, que busca atalhos e não gosta de trabalhar. Já o sistema 2 é analítico, deliberativo e lógico: pensa com calma para tomar qualquer decisão, elevando muito sua chance de acerto. Perceba que os melhores investidores simplesmente não usam o sistema 1, pois jamais tomam decisões de forma rápida e baseada em heurísticas comportamentais.

Mas voltemos ao nosso jogo. O Grupo I utilizou o sistema 1 e, de forma (totalmente ou quase) inconsciente, escolheu manter-se na porta 1. Já o Grupo II utilizou o sistema 2 e, após reflexão, não percebendo que a probabilidade de ganhar a Ferrari se elevara ao dobro na porta 2, decidiu manter-se na porta 1 (sim, note que por mais reflexivo que seja o sistema 2 do nosso cérebro, ele não acerta sempre porque nossa capacidade intelectual é limitada e, muitas vezes, depende de conhecimento adquirido ou não).

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Preciso aqui criar o Grupo IV de pessoas que são “dissidentes” dos grupos I e II: essas pessoas não perceberam (com ou sem reflexão) que a decisão correta era trocar para a porta 2, mas mesmo assim eles decidem trocar de porta de forma aleatória. Afinal de contas, para essas pessoas, tanto faz a porta 1 ou a porta 2. Sabe por que eu não citei esse grupo lá no início? Simplesmente porque esse grupo é quase vazio! Ou seja, exceção feita àquelas pessoas que percebem que trocar de porta aumenta (e muito) as suas chances, a maioria esmagadora das pessoas opta por permanecer com sua primeira opção. E isto é algo que nos revela uma característica intrínseca e importante do ser humano.

Ora, se fôssemos programados tal como um computador, ao sermos perguntados se queremos trocar de porta, dado que percebemos as mesmas chances na porta em que estamos e na outra, era de se esperar que algo próximo da metade das pessoas escolhesse trocar, aleatoriamente. É como jogar uma moeda: esperamos que as caras e as coroas se dividam mais ou menos em 50% cada. O que está por detrás da nossa decisão de não trocar de porta, seja usando o sistema 1 ou o sistema 2 do nosso cérebro?

A resposta vem das ciências comportamentais! Temos, inconscientemente, um forte viés de apego a decisões passadas. Para mudar uma opinião ou uma decisão, precisamos de muito mais evidências do que precisaríamos para opinar ou decidir em uma primeira ocasião. Inicialmente, poderíamos ter escolhido a porta 1 ou a porta 2, sem problema algum. Mas depois que eu me decidi pela porta 1, trocar de porta significa algo como trair a minha decisão passada (mesmo que eu considere a outra porta com a mesma chance de sucesso) – note que se trata de um viés comportamental e nada racional. Em ocasiões de mesmas chances, isso não traz consequências. Mas o problema é que este viés já foi demonstrado que é fortíssimo, a ponto de não querermos trocar de porta mesmo quando percebemos que a outra porta possui uma pequena chance maior de sucesso. Em outras palavras, é preciso identificar uma chance muito maior para que isto vença nosso apego a decisões passadas.

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O que mostrei acima traz consequências em diversas áreas do conhecimento e explica muitas situações reais (você pode agora estar se lembrando de um antigo chefe “cabeça dura”, não?). Na área de investimentos, tendemos a ter dificuldade em aceitar que nossa estratégia está dando errado e, portanto, que devemos mudar (perder com a estratégia original é estranhamente menos doloroso do que perder com a mudança de estratégia, mesmo que as duas perdas sejam absolutamente iguais).

É importantíssimo distinguir as duas situações: (1) alterar algo porque percebemos que tomamos a decisão errada no passado, e (2) alterar algo porque temos novas informações que alteram a decisão ótima anteriormente tomada. Claramente, no jogo das portas, estamos lidando com a situação 2 e deveríamos mudar sem nenhum tipo de problema. E, em investimentos, isso pode acontecer, já que novas informações chegam a todo momento. Claro que isso não significa dizer que devemos alterar a nossa estratégia diariamente ou a todo instante, mas apenas que devemos permanecer atentos e bem-informados, bem como não devemos ter nenhum problema comportamental ao adequar a estratégia com informações antes não disponíveis.

Espero que tenham gostado. Deixo o convite para você comentar abaixo, compartilhando opiniões e pontos de vista. Ficarei muito feliz por isso. Ah, e não deixe de se conectar a mim (@carlosheitorcampani) no LinkedIn, no Instagram e no Youtube: assim você conseguirá acompanhar todo o conteúdo que produzo com o intuito de sempre contribuir com o seu conhecimento e crescimento profissional enquanto investidor ou em qualquer área de Finanças.

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Forte abraço a todos vocês.

* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Treinamento e Consultoria. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.

Últimos comentários

Considerando a porta 1 e a porta 3, a chance de a Ferrari estar em uma das duas tb não é 2/3? Da mesma forma que das portas 2 e 3. Por favor, explique se meu raciocínio estiver incorreto.
Há uma inversão na lógica da sua argumentação (e isso tem, claro, tudo a ver com probabilidade condicional). Eu não consigo juntar as portas 1 e 3 porque eu não sei qual porta será aberta no futuro (se a 2 ou 3). A rigor, há 50% de chances do apresentador abrir a porta 2 ou a porta 3 e 50% vezes 2/3 resulta no 1/3 do prêmio estar na porta 1. Eu consigo juntar as portas 2 e 3 porque elas dependem unica e excluusivamente da minha decisão de escolher a porta 1. Note que a numeração 1, 2 e 3 é meramente ilustrativa, pois nada impacta no jogo. O que impacta é a porta que escolhi e o fato de SEMPRE o apresentador abrir uma porta sem o prêmio por ele saber onde está o prêmio.
Estranho o raciocínio. A partir do momento que se sabe o conteúdo da porta 3, ou a Ferrari está na porta 1 ou porta 2. A probabilidade não seria 50%? Eu sei que existe probabilidade condicional, mas ela funciona para um número maior de alternativas, como uma urna com bolas de várias cores. Existe uma probabilidade inicial para tirar uma bola de uma determinada cor e outra probabilidade, quando se sabe que a bola retirada anteriormente foi branca, por exemplo. Mas, com apenas 3 alternativas? É contraintuitivo o mesmo raciocínio.
OI amigo, a ciência é, mesmo, estranha algumas vezes. Se você parar pra pensar, como podemos ver um evento "ao vivo" que ocorre em outro local do mundo? A imagem se transforma numa onda eletromagnética, que novamente é transformada em imagem na nossa TV. Iso é algo louco para mim, mas é a ciência.  A minha resposta para o Luiz Henrique acima pode te ajudar pois é basicamente a mesma questão.
Monty Hall
Isso aí Gilberto. O problema foi originalmente descrito no programa de Monty Hall (espécie de Silvio Santos deles). E aí muitos acreditavam que a escolha de trocar de porta era ineficiente (chances de 50%). Até que um matemático disse que não, o correto era trocar de chances. E muitos levaram tempo para acreditar.
é bem por aí e tem gente que "esquece" de dar stop mesmo depois de ver a porta aberta com o bode, insiste em alimentá-lo pra reduzir a média e perde ainda mais
Seu ponto é bem relevante mesmo. Gostei da metáfora, você realmente entendeu o artigo. Muito obrigado pelo comentário Douglas.
Por isso aplico a longo prazo a partir de R$1,00 nos fundos de ações do BB por setores da economia e pago 1% ano os especialistas escolhem as empresas e saco em D3. É importante ter estratégias sensatas de investimento, para que as pessoas não tenham de se tornar gestoras de seus próprios portfólios. Nós não fazemos cirurgias em nós mesmos. Chamamos médicos para fazê-las para nós. Com o nosso dinheiro, deveria acontecer a mesma coisa.
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