O Banco Central americano (FED) em sua reunião do dia 30 de outubro deu indicações de estar um pouco menos cauteloso com a recuperação econômica do país. A sutileza em remover algumas palavras de seu comunicado fez com que uma parte dos analistas ficasse em dúvida sobre quando de fato o órgão deve diminuir suas compras de títulos. O vai e vem dos ativos de risco mudam de humor (principalmente) em função desta expectativa de diminuição de liquidez.
Na Europa a queda da inflação na zona da moeda comum para o menor nível em quatro anos, põe pressão para o Banco Central Europeu (ECB) aumentar a disponibilidade de dinheiro.
O cenário acima ajudou o dólar americano a se valorizar nos últimos cinco dias, com seu principal índice subindo 1.92%, e ao mesmo tempo colocou pressão nos índices das commodities que cederam quase 3%.
Os mercados de café em Nova Iorque e Londres caíram quase US$ 5.00 por saca para os contratos de vencimento mais próximo, dezembro e novembro respectivamente, atingindo novas mínimas que há tempos não se via.
A queda acumulada no mês de outubro para o robusta foi de US$ 9,60 por saca, e para o arábica US$ 10.98 por saca, provocadas pelo começo das safras na Ásia e América Central e Colômbia, e com a disponibilidade de café no Brasil, percebida como sendo grande pelos participantes.
Para corroborar com o quadro mundial de superávit, o Vietnã divulgou planos de “retirar” café do mercado, tendo como objetivo suspender a queda livre dos preços com uma estocagem de 5 milhões de sacas de café. A proposta carece de maiores detalhes como quando acontecerá, preços, financiamentos, etc, mas mais uma vez mostra que os compradores não estão enganados sobre a oferta mundial generosa de grãos.
O tema deveria levar todos a ponderar sobre a importância de dados estatísticos, e previsões de tamanhos de safras e estoques que cheguem mais próximos da realidade. Explico. Sempre quando há divulgações de safras que sejam maiores do que as fontes oficiais de alguns países, há uma onda de reclamações de alguns que acusam os números de defender interesses de especuladores. Assumindo que isto fosse verdade, algum tempo depois a disponibilidade de café em menor volume faria com que os preços subissem, independentemente dos tais especuladores estarem “manipulando” os dados, como normalmente é dito.
Por outro lado alguns destes “especuladores” dedicam esforços e dinheiro para poder ter dados (ou acesso) sobre produção, estoque e consumo que sejam mais “precisos”, montando suas posições no mercado futuro. Vale lembrar que um especulador pode ser desde um fundo de investimentos de bilhões de dólares, passando por tradings que tenham carteira proprietária, até uma pessoa física que compre ou venda um único contrato de futuro de café buscando ganhar algum dinheiro.
O assunto é polêmico e portanto repleto de opiniões de divergentes, mas como menciono nas minhas palestras e conversas, é importante que saibamos ouvir e estudar todos os dados que são divulgados, que no fim ajudará a tomar decisões que sejam o menor número de vezes erradas, e o maior número de vezes acertadas – afinal só da para saber qual foi a alta ou a baixa do mercado depois de ter acontecido.
Os preços de café nas origens assustaram ainda mais os produtores na semana do Halloween, já que em muitos países já está abaixo do custo de produção. Digo, do arábica, pois do robusta há gorduras a serem queimadas, o que junto com um dólar que firma pode não apenas levar Londres a testar os US$ 1300 por tonelada, como Nova Iorque a provavelmente achar o “chão” entre 90 e 95 centavos por libra-peso (que convenhamos, não está tão longe assim).
Os altistas, se é que tem algum por aí, podem continuar de fora do mercado, pois só um evento climático (que não está na época de acontecer) traria uma recuperação das cotações de forma significativa – fora é claro alguma correção provocada por cobertura da posição dos fundos.