As expectativas de inflação nos EUA ainda estão ancoradas, mas crescem as preocupações de que possam sair do controle. O receio é que as pessoas deixem de acreditar na capacidade do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de conter a inflação, o que intensificaria as altas dos preços.
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“Eles precisarão analisar tudo com muito cuidado”, comentou o ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, na semana passada, a respeito dos formuladores da política monetária.
“Claramente, eles querem ver a inflação se movendo para baixo a um ritmo razoável”.
As pessoas veem os preços da gasolina e dos produtos de supermercado subindo a cada semana, e isso afetará suas expectativas com a inflação. “Portanto, não sabemos quanto tempo o Fed ainda tem”, disse Bernanke.
O Fed se sentirá compelido a tomar ações mais agressivas se os preços não caírem, já que a inflação persistente desafia sua credibilidade.
O presidente da sucursal do Fed em St. Louis, James Bullard, que costuma ser rígido com a política monetária, acredita que a taxa de juros de overnight precisa chegar a 3,5% até o fim do ano, que implicaria diversas altas de juros de meio ponto – ou mais – a partir do nível atual abaixo de 1%.
O atual presidente do Fed, Jerome Powell, descartou uma elevação de 75 pontos-base, mas Bullard acredita que essa possibilidade não esteja fora de cogitação. Em uma entrevista à Fox News, Bullard comentou:
“Quanto mais conseguirmos adiantar as elevações e colocar sob controle a inflação e as expectativas de inflação, melhor. Se o Fed conseguir colocar sob controle as expectativas, poderá reduzir os juros novamente em 2023 e 2024”.
Embora esteja aumentando o temor de uma recessão nos mercados financeiros, Bullard ainda acredita que o Fed possa realizar um pouso suave e evitar uma queda prolongada.
Ele acredita que a economia pode “avançar com força”, com base no consumo, mas existem diversas indicações de que os consumidores estejam recuando diante das incessantes altas de preços.
Os grandes varejistas Walmart (NYSE:WMT) e Target (NYSE:TGT), registraram uma retração em seus lucros e no preço das suas ações, depois que divulgaram aumentos de estoques.
Na Home Depot (NYSE:HD), contudo, os consumidores se mostraram mais resilientes. As empresas disseram que a disparada da inflação não foi usual. O cenário permanece misto, na medida em que diferentes grupos de renda reagem de forma distinta.
Na semana passada, Powell continuou otimista, mas dizendo que há uma “clara e convincente evidência” que a inflação está caindo. Ele defende que o mercado de trabalho continuará forte, mesmo que alguns consumidores sejam afetados pela inflação e pelos juros maiores.
O comitê de política monetária do banco central americano pretende prosseguir com as elevações de meio ponto nos juros em junho e julho, fazendo com que a taxa básica alcance 1,75% e 2%. O Fed continuará flexível, afirmou Powell na semana passada, atuando sobre os juros de forma mais rápida ou lenta, conforme necessário.
Os mercados financeiros estão aguardando a chamada “opção de venda” do Fed, isto é, uma ação do banco central no sentido de reduzir as perdas dos investidores nos mercados acionários. Mas, como insiste Powell, o Fed prosseguirá atuando sobre os juros até que a inflação seja aplacada. Essa esperança começa a perder força.
As ações americanas estão perto de entrar em um bear market, já que o S&P 500 caiu 19% até sexta-feira, bem perto do limiar de queda de 20% que define um mercado de baixa. Os analistas reduziram seu patamar de intervenção do Fed no índice, que fechou a 3.901,36 na sexta-feira, de 3700 para 3529, um recuo de 26% em relação ao fechamento mais alto de janeiro.
Alguns analistas estão prevendo um declínio para 3000 até outubro em um bear market prolongado.
O índice de gastos com consumo pessoal, indicador de inflação preferido do Fed, será divulgado na sexta-feira. A expectativa é que o núcleo do índice de abril caia para 4,9% no ano, de 5,2% em março. Uma leitura pior do que a esperada, como ressaltou laconicamente um analista, “pode desencadear uma violenta liquidação”.